Summary: | O surgimento da AIDS em meados da década de oitenta do século passado traz à tona, mais uma vez, a discussão do binarismo doença e culpa. Para o imaginário dessa época, a mancha estampada no corpo do aidético perde o caráter patológico como causa da ação virulenta do HIV e é substituída por outra mancha que vai revestir não só a pele do doente, mas, principalmente, os olhos acusatórios daqueles que vêem a realidade manchada pelo preconceito. Para tratar desse glaucoma imaginário, abordarei o símbolo da mancha nas três peças que fazem parte de minha pesquisa: Angels in America (1990) de Tony Kushner, O Homem e a Mancha (1997) de Caio Fernando Abreu e A Mancha Roxa (1988) de Plínio Marcos. O objetivo é demonstrar como a mancha é objeto/signo adequado, usado por todos e cada um dos três dramaturgos, na representação do doente de AIDS; para, finalmente, refletir no palco o esboroamento da realidade, através de seu sentido impreciso e sem uma fronteira delimitável. Em O Homem e a Mancha, por exemplo, a personagem, para se libertar da visão dessa mancha estampada em seu corpo, desenvolve um comportamento esquizofrênico, criando um mundo fictício ao seu redor e se isolando do mundo real para viver em sua ilha de solidão. Em Angels in America, o corpo lesionado de Prior Walter provoca mais estupor ao seu companheiro Louis do que ao próprio protagonista. Enquanto Louis tenta fugir da imagem emblemática da culpa, Prior se transforma, não em um marcado para a morte, mas em um escolhido, um novo eleito que desafia o Anjo, pedindo por mais vida. E por último, na peça A Mancha Roxa de Plínio Marcos, diferentemente de Caio e Kushner, o símbolo da mancha aparece de modo mais realista e, acima de tudo, de maneira mais fatalista, pois as presidiárias não estão somente presas fisicamente, mas mentalmente, sem possibilidades para escapismos imaginários === The appearance of AIDS in the first half of the 1980s brings back to surface the discussion of the illness and guilt binarism. According to the imaginary of that age, the stain stamped on the seropositive body loses its pathological caracter as a virulent action caused by the HIV, replaced by another stain, covering not only the skin of the infected but, principally, the accusing eyes of those who see reality stained by prejudice. In order to treat this imaginary glaucoma, I will analyze the metaphor of the stain in the three plays that make part of my research: Angels in America (1990) by Tony Kushner, The man and the skin lesion (1997) by Caio Fernando Abreu and The Purple stain (1988) by Plinio Marcos. It aims at showing how the stain becomes an appropriate object/sign used by the three playwrights in the representation of the seropositive; and to reflect on stage the blurring of reality, through its imprecise meaning without a delimited frontier. In The Man and the skin lesion, for example, one of the characters, in order to free himself from the vision of a stain stamped on his body, develops a sort of esquizofrenic behavior: he creates a sorrounded fictitious world, provoking his isolation from reality, so that he can inhabit on his solitude island. In Angels in America, Prior Walters skin lesion body causes much more fear to his partner Louis than to the protagonist himself. While Louis tries to escape from the emblematic imagery of guilt, Prior transforms himself not into someone marked to die, but as a chosen one, a new elect, who challenges the Angel asking for more life. And finally The Purple stain presents the metaphor of the stain in a more realistic and fatalistic way: female prisoners are not only physically imprisoned, but mentally, without the possibilities of imaginary escapisms
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