A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior === A articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lac...
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2011
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Voz Pulsão invocante Real Psychoanalysis Music Voice Invocatory drive Real TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA Renata Mattos de Azevedo A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise |
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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior === A articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lacan, bem como para refletir sobre a escuta clínica, o ato analítico enquanto poético, e a escrita pulsional do sujeito como resposta à invocação da voz. O momento de estruturação do sujeito implica a dimensão de musicalidade da linguagem que permite o ato da fala. O sujeito nasce em um ponto em que o significante (simbólico) escreve no real do corpo um possível, um começo, uma marca que invoca uma nota e uma letra, sendo estes os dois aspectos da linguagem: a musicalidade (continuidade) e a fala (descontinuidade em movimento). Este ponto escreve e cria um vazio no sujeito que está e estará sempre em pulsação. Se o real grita caoticamente, é possível que se cante e se musique a vida com a criação de notas singulares, efeito do movimento desejante e de uma escrita pelo circuito da pulsão invocante na partitura já dada pelo Outro e face aos encontros com pedaços de real. A música tem a capacidade de retirar o sujeito de uma surdez de seu próprio desejo, o convocando a recriar a linguagem por seus atos. O paradigma de Schönberg, bem como a música criada a partir deste momento, nos dá a ouvir um saber-fazer com a voz no qual a dimensão equivocante (de equivoco e de invocação) da linguagem pode ressurgir por uma via nova. A transmissão de um saber-fazer com o objeto voz por ele efetuado se apresenta como uma radicalização do efeito de verdade do real, ressoando borromeanamente sobre o simbólico e o imaginário, invocando o momento originário do sujeito, de um começo sempre a recomeçar, que se faz ouvir como uma invocação de musicar a vida de uma maneira ética, estética e poética. É através dos eixos acima expostos que nos é possível sustentar, com Lacan, uma prática clínica orientada para além da repetição em direção a um significante novo. Trata-se de uma orientação que parte dos encontros com o real aos quais o sujeito é confrontado ao acaso visando o movimento renascente pelo qual ele pode re-escutar o inaudito do real contínuo perdido, o que faz com que seu ritmo singular possa ser, uma vez mais e de modo inédito, reinventado. A psicanálise pode ser, portanto, entendida como uma prática invocante, como uma abertura para que o sujeito possa, com entusiasmo, musicar a vida. === The articulation between the psychoanalysis and the music, specifically the one resultant from the paradigm of Arnold Schönberg, which was renewed by John Cage, is emblematic to reflect about the constitution of the subject in the theories of Sigmund Freud and Jacques Lacan as well as to think about the clinical listening, the analytical act as a poetic act, and the driven writing of the subject as an answer to the invocation of the voice. The moment of emergence of the subject involves the aspect of the musicality of the language, which allows the act of speaking. The subject is born in a point in which the significant (symbolic) writes in the real of the body two aspects of the language: the musicality (continuity) and the speech (discontinuity in movement). This point writes and creates an emptiness in the subject that pulses and will always pulse. If the real shouts chaotically, it is possible to sing and to music the life with the creation of singular notes, effect of the desiring movement as well as the writing of the driven circuit made by the invocante drive, in the musical score that is already given by the Other and in relation to the encounters with pieces of the real. The music has the ability to withdraw the subject form a deafness from his/her own desire, convoking him/her to recreate the language through his/her acts. The paradigm of Schönberg gives us to listen a savoir-faire with the object voice in which the equivocatory dimension (of equivocation and invocation) of the language can reappear by a new direction. The transmission of a savoir-faire with the object voice produced by this paradigm can be seen as a radicalization of the effect of truth from the real, borromeanically resounding on the
symbolic and the imaginary, invoking the originary moment of the subject, of a beginning to always restart, which can be listened as the invocation to music the life in a ethic, esthetic and poetic way. Therefore, we can support, with Lacan, a clinical practice oriented to overcome the repetition of the same in order to establish the creation of a new significant. In other words, the psychoanalysis can be understood as an invocante practice in which the subject can, with enthusiasm, music his/her life.
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ndltd-IBICT-urn-repox.ist.utl.pt-UERJ-oai-www.bdtd.uerj.br-34262018-05-23T23:34:46Z A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise The voice and the invocation set to music for life: resonances between music and psychoanalysis Renata Mattos de Azevedo Doris Luz Rinaldi Heloisa Fernandes Caldas Ribeiro Ana Maria Medeiros da Costa Tania Cristina Rivera Jean-Michel Vivès Voz Pulsão invocante Real Psychoanalysis Music Voice Invocatory drive Real TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior A articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lacan, bem como para refletir sobre a escuta clínica, o ato analítico enquanto poético, e a escrita pulsional do sujeito como resposta à invocação da voz. O momento de estruturação do sujeito implica a dimensão de musicalidade da linguagem que permite o ato da fala. O sujeito nasce em um ponto em que o significante (simbólico) escreve no real do corpo um possível, um começo, uma marca que invoca uma nota e uma letra, sendo estes os dois aspectos da linguagem: a musicalidade (continuidade) e a fala (descontinuidade em movimento). Este ponto escreve e cria um vazio no sujeito que está e estará sempre em pulsação. Se o real grita caoticamente, é possível que se cante e se musique a vida com a criação de notas singulares, efeito do movimento desejante e de uma escrita pelo circuito da pulsão invocante na partitura já dada pelo Outro e face aos encontros com pedaços de real. A música tem a capacidade de retirar o sujeito de uma surdez de seu próprio desejo, o convocando a recriar a linguagem por seus atos. O paradigma de Schönberg, bem como a música criada a partir deste momento, nos dá a ouvir um saber-fazer com a voz no qual a dimensão equivocante (de equivoco e de invocação) da linguagem pode ressurgir por uma via nova. A transmissão de um saber-fazer com o objeto voz por ele efetuado se apresenta como uma radicalização do efeito de verdade do real, ressoando borromeanamente sobre o simbólico e o imaginário, invocando o momento originário do sujeito, de um começo sempre a recomeçar, que se faz ouvir como uma invocação de musicar a vida de uma maneira ética, estética e poética. É através dos eixos acima expostos que nos é possível sustentar, com Lacan, uma prática clínica orientada para além da repetição em direção a um significante novo. Trata-se de uma orientação que parte dos encontros com o real aos quais o sujeito é confrontado ao acaso visando o movimento renascente pelo qual ele pode re-escutar o inaudito do real contínuo perdido, o que faz com que seu ritmo singular possa ser, uma vez mais e de modo inédito, reinventado. A psicanálise pode ser, portanto, entendida como uma prática invocante, como uma abertura para que o sujeito possa, com entusiasmo, musicar a vida. The articulation between the psychoanalysis and the music, specifically the one resultant from the paradigm of Arnold Schönberg, which was renewed by John Cage, is emblematic to reflect about the constitution of the subject in the theories of Sigmund Freud and Jacques Lacan as well as to think about the clinical listening, the analytical act as a poetic act, and the driven writing of the subject as an answer to the invocation of the voice. The moment of emergence of the subject involves the aspect of the musicality of the language, which allows the act of speaking. The subject is born in a point in which the significant (symbolic) writes in the real of the body two aspects of the language: the musicality (continuity) and the speech (discontinuity in movement). This point writes and creates an emptiness in the subject that pulses and will always pulse. If the real shouts chaotically, it is possible to sing and to music the life with the creation of singular notes, effect of the desiring movement as well as the writing of the driven circuit made by the invocante drive, in the musical score that is already given by the Other and in relation to the encounters with pieces of the real. The music has the ability to withdraw the subject form a deafness from his/her own desire, convoking him/her to recreate the language through his/her acts. The paradigm of Schönberg gives us to listen a savoir-faire with the object voice in which the equivocatory dimension (of equivocation and invocation) of the language can reappear by a new direction. The transmission of a savoir-faire with the object voice produced by this paradigm can be seen as a radicalization of the effect of truth from the real, borromeanically resounding on the symbolic and the imaginary, invoking the originary moment of the subject, of a beginning to always restart, which can be listened as the invocation to music the life in a ethic, esthetic and poetic way. Therefore, we can support, with Lacan, a clinical practice oriented to overcome the repetition of the same in order to establish the creation of a new significant. 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