Summary: | A recuperação de fábricas falidas pelos próprios trabalhadores, que assumem de alguma maneira os meios de produção e retomam as atividades da empresa, é um fenômeno que se tornou recorrente no Brasil a partir década de 90, no contexto de abertura do mercado e crise econômica. Esta investigação parte da experiência da FACIT, em Juiz de Fora/MG, considerando-a no decorrer de sua história, antes e depois da autogestão, em busca dos significados atribuídos pelos trabalhadores à experiência que vivenciaram e suas trajetórias profissionais e de grupo. A compreensão dessa experiência referencia-se na história mais geral do trabalho e de suas transformações no capitalismo contemporâneo, bem como das experiências de autogestão e autonomia dos trabalhadores no interior desse modo de produção. Considera-se o trabalho categoria central na estruturação das trajetórias e identidade dos trabalhadores, sendo a iniciativa de retomarem a produção de empresas falidas uma saída que se impôs com a crise da sociedade salarial, enquanto tentativa de conquista coletiva dos meios de vida. Nesta nova situação, quando se veem proprietários das instalações e reiniciam a produção sem os antigos patrões ou seus representantes imediatos, os trabalhadores trazem consigo suas trajetórias pretéritas forjadas no reino da heterogestão, dificultando a compreensão precisa do que representa a autogestão da empresa. Habituados ao chão-da-fábrica, lugar que até então podiam ocupar na divisão do trabalho da empresa, encontram-se frente à tarefa de assumirem também a gestão da empresa. Entre o chão e a gestão da fábrica, uma nova trajetória se ensaia, com suas contradições e ambiguidades.
=== The recovery of the bankrupted factories by their workers that take over the means of production and restarted the company activities is a phenomenon, which has become recurring throughout the nineties while the opening of the market and economic crisis. This study departed from the FACIT situation in Juiz de Fora/MG and analyzed it throughout its history before and after the self management process always aiming at finding the meaningful professional experiences the workers had. The understanding of such experience is shown in the general history of labour and its transformation processes in the contemporary capitalism as well as the self-management and autonomy experiences of the workers in the core of the means of production. The work is considered as the central activity in the development of the workers journey and identity and the initiative of restarting the production in the bankrupted companies was the way the workers found in the salary crises scenario as well as a group attempt for the means of life. In the new situation in which the workers are the facilities owners and the production is restarted without the previous bosses or their representatives, the workers own experiences from the hetero management context make the understanding of what self-management is more difficult. The workers who were used to be on the ground of the factory, the place they were allowed to be according to the company organization, are now supposed to run it. Between the ground and the office, a new history is built with its contradictions and ambiguities.
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