Autobiografia de ficção como matéria de historicidade em João do Rio e em João Gilberto Noll

A análise de arquivos jornalísticos para a formação do conceito de historicidade em torno das obras Memórias de um rato de hotel (1912), de João do Rio, e Bandoleiros (1985), de João Gilberto Noll, foi a nossa primeira contribuição para a formação do objeto autobiografia de ficção, ou autoficção, co...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Maria Carlota de Alencar Pires
Other Authors: Francisco Venceslau dos Santos
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2007
Subjects:
Online Access:http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=4304
Description
Summary:A análise de arquivos jornalísticos para a formação do conceito de historicidade em torno das obras Memórias de um rato de hotel (1912), de João do Rio, e Bandoleiros (1985), de João Gilberto Noll, foi a nossa primeira contribuição para a formação do objeto autobiografia de ficção, ou autoficção, como também denominamos. A partir desses arquivos de memórias, relativos a dois contextos finisseculares, o XIX e o XX respectivamente, pudemos compreender a historicidade como matriz do nosso objeto autoficção, permeada pelo que Foucault chama de efetividade cotidiana. Essa efetividade do cotidiano é costurada pelo fio da oralidade, que se refere ao elenco das atividades humanas no todo social, tendo como principal característica a ação comunicativa entre os sujeitos. Assim, ligamos a oralidade à historicidade em duas perspectivas complementares: os ditos e os escritos. A primeira diz respeito aos processos da comunicação humana e suas trocas simbólicas, que são projetadas na cultura: os ditos. A segunda se refere ao produto das representações literais do sujeito, grafadas no dorso impresso da memória: os escritos. A memória é a chave de acesso à escrita do si, que se distingue do que chamamos de autoficção, porque nessa última prevalecem as experiências do tempo presente para o futuro. Memórias de um rato de hotel é a escrita de um Eu-autor, contando do cárcere as suas experiências de gatuno no contexto da belle époque carioca. Por meio da memória, ele reconstrói o contexto finissecular, enfatizando a degradação urbana e a decadência ética da burguesia em ascensão, nos tempos da recém-inaugurada República. Na autoficção Bandoleiros, temos o relato vertiginoso de um Eu-narrador, contando do seus fracassos literários e conjugais. Ele é um escritor decadente, transitando nos espaços degradados da pós-modernidade, retirando dessa perambulação o material vivo de seu livro Sol macabro. Nessa autoficção, Noll registra as impressões sobre a realidade dos 1980, focalizando as subjetividades agônicas à margem do capitalismo tardio, num trânsito indômito entre Porto Alegre, Rio de Janeiro e os Estados Unidos. Na nossa tese, compreendemos a realidade como a matéria plástica da autobiografia de ficção. A experiência mundana do escritor é também forte aliada na composição de uma estética subjetiva, ou subjestética, que está para além do auto-retrato narcísico da autobiografia, em suas formas tradicionais === The analysis of journalistic files for the construction of the historicity concept around the works of João do Rio: Memórias de um rato de hotel (1912), and of João Gilberto Noll: Bandoleiros (1985) was our first contribution for the formation of the fictional autobiography object, also called auto-fiction. Starting from these two memory archives, pertaining, respectively, to the 19th and 20th turn-of-the-century contexts, we can acknowledge historicity as the matrix of our auto-fiction object, permeated by what Foucault labeled everyday effectiveness. This effectiveness of our every-days is seamed with the thread of orality, concerning to the set of human activities in the social wholeness, and which main characteristic is the communicative action among the subjects. Thus we can link orality to historicity in two complementary perspectives: the said and the written. The first one concerns to the human communication processes and their sign swaps, which are projected on the culture: the sayings. The second one refers to the literal representations output of a subject, spelled upon the printed surface of memory: the writings. Memory is the access key to the writing of the self, that differs from what we call auto-fiction, for in the last prevail the present time experiences to the future. Memórias de um rato de hotel is the writing of a Me-author, telling us from jail his experiences as a thief in Rios belle époque context. Through memory, he rebuilds the turn-of-the-century ambience, emphasizing the urban degradation and ethical decay of the ascending bourgeoisie of the just inaugurated Republic. In the auto-fiction Bandoleiros we find the vertiginous account of a Me-narrator telling of his literary and matrimonial failures. He is a decadent writer, wandering in the decayed spaces of post-modernity, saving from this perambulation the live material of his book Sol macabro. In this auto-fiction Noll records his impressions about the reality of the 1980s, focusing the agonic subjectivities by sides of the late-capitalism, in untamed transit between Porto Alegre, Rio de Janeiro and USA. In our thesis we acknowledge reality as the plastic matter for fictional autobiography. The writers mundane experience is also a strong support for the building of a subjective aesthetic or subjaesthetic that stands beyond the narcissist self-portrait of autobiography in its traditional forms