Summary: | A pesquisa, interessada em precisar as ferramentas conceituais que possibilitam operar a clínica no campo da reforma psiquiátrica quando a cidade invade o setting do tratamento e vem colocar a clínica em questão tem como ponto de partida o percurso de uma experiência desenvolvida nos últimos dez anos junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com serviços de saúde mental da rede pública, tendo a atividade do acompanhamento terapêutico como vetor. Clínica e cidade foram os fios condutores desta investigação, que recorre inicialmente a leituras diversas, da história, geografia, ciências sociais, literatura, filosofia, para acompanhar desde a formação das cidades medievais até o advento das metrópoles contemporâneas. O nascimento do alienismo é inscrito nesse contexto, no momento de instauração das sociedades democráticas modernas, cuja ambição pelo governo das lamas engendra o ideal isolacionista que o asilo psiquiátrico veio presentificar, de forma que a psiquiatria e suas congêneres, nascidas na cidade, dela vêm se apartar, o que se coloca
como paradoxo presente nos processos de reforma psiquiátrica contemporâneos que propugnam o retorno da loucura ao convívio nas cidades. Considerando que é esses paradoxo
que o acompanhamento terapêutico, ao abrir-se à cidade, vem habita, a pesquisa busca identificar as ferramentas conceituais de que se serve o acompanhamento terapêutico em cada uma de suas vertentes em cada uma de suas vertentes teóricas referendadas seja em Lacan, em, Winnicott ou Deleuze e Guattari e o modo como essas ferramentas possibilitam à
clínica a incorporação do espaço pública, através de objetos e relações, tanto simbólicos como materiais, sem fazer uso de uma relação de domínio à parte que implique em segregação com respeito à sociedade comum. Conclui-se, daí, que, se a incidência da cidade na prática do acompanhamento terapêutico configura o traço que singulariza essa prática como um dos modos de fazer clínica, ela é, ao mesmo tempo, o que leva ao seu limite paradoxal o modo como a clínica se faz, cabendo disso extrais as consequências que interessam a uma clínica conforme a radicalidade do que propõe a reforma psiquiátrica. === Concerned with the sharpening of the conceptual tools that allow the clinic to work within the field of psychiatric reform when the city invades the treatment setting and calls the clinic into question the present research has its starting point in the trajectory of an experiment carried out in the Universidade Federal do Rio Grande do Sul during the last ten years in partnership with public mental-health services, having therapeutic accompaniment as a driving force. Clinic and the city have been the guiding lines of this investigation, which
initially refers to various readings of history, geography, the social sciences, literature and philosophy to understand as far back as the formation of medieval cities up to emergence of
contemporary metropolises. The birth of alienism is inscribed in this context, at the very moment when modern democratic societies come into being, their ambition of soul government engendering the isolationist ideal rendered preset by the psychiatric asylum. Thus, born in the city, psychiatry and suchlike part ways with it, and this paradox is embedded in those processes of psychiatric reform that advocate bringing madness back into the conviviality of the city. Considering that therapeutic accompaniment, when it opens itself to the city, enables that paradox, the present research seeks, to identify the conceptual tools therapeutic accompaniment deploys in each of its theoretic branches be it that they refer to Lacan, Winnicott or Deleuze and Guattari and the ways these tools render appropriation of the public space feasible to the clinic through objects and relations, both symbolic and material, without resorting to a separate domain that may entail segregation from common society. I infer that if the incidence of the city in the practice of therapeutic accompaniment is the feature that distinguishes this practice as one of the modes of doing clinic, this incidence is simultaneously what takes the manner in which clinic is done to its paradoxical limit, and one must extract thence the relevant consequences for a clinic, in accordance with the radicalness of the goals of psychiatric reform.
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