Summary: | É alta a prevalência de dor crônica em pacientes com câncer, que é comprovadamente associada ao sofrimento psicológico acentuado e muitas vezes não é adequadamente diagnosticada e tratada. Estudo que realizamos com 120 pacientes adultos em atendimento ambulatorial na Clínica de Dor do Instituto Nacional de Câncer, no Rio de Janeiro que demonstrou que os pacientes mesmo conhecendo o seu diagnóstico de câncer, não se sentiam
informados sobre a doença e a dor oncológica a contento, o que trazia insatisfação com o tratamento recebido e maior exigência com os resultados do mesmo. Nosso estudo revelou,
ainda, que o comportamento do profissional durante o atendimento pode ser percebido pelos pacientes como fator tanto de melhora como de piora da dor, sendo o comportamento
atencioso do profissional muitas vezes mais valorizado pelos pacientes que a supressão da dor. Estes resultados suscitaram questões relativas à qualidade da interação entre médicos e
pacientes, desenvolvidas nesta dissertação. Embora não sejam suficientemente investidas nem na relação médico-paciente, nem na educação e no treinamento profissional, as habilidades de comunicação do médico afetam diretamente o nível de informação e de satisfação do paciente, suas crenças e os resultados do tratamento. Ao longo do tempo a relação médico paciente vem mudando, deixando de ser tão centrada na doença e no médico, para centrar-se mais no doente como um ser integral, o que implica no reconhecimento, pelo médico, de
saberes diferentes dos seus e de que o seu saber não constitui uma verdade absoluta a ser acatada pelos demais. Apesar de bem-vindas, estas mudanças trazem uma certa confusão nos
papéis a serem desempenhados por médicos e pacientes e dificuldades aos médicos de lidarem com as diferenças, com as queixas subjetivas dos pacientes, com as emoções destes e as suas próprias. Se hoje é esperado que os pacientes sejam participativos, corresponsáveis por seus tratamentos e recuperação e que se deem conta do poder que eles têm, individual e coletivamente, espera-se que os médicos sejam estudiosos, bem informados, experientes, sinceros, empáticos, sensíveis, atenciosos, compassivos, perspicazes, bem treinados, hábeis em compartilhar informações e decisões com os pacientes, compreendendo o que estes querem e o que não querem e ajudando-os a expressar suas crenças, preferências e receios, disponibilizando tempo suficiente para isso. Tantas expectativas terminam por trazer conflitos que só poderão ser resolvidos com a melhoria da comunicação entre médicos e pacientes, num esforço de ambas as partes. === The high prevalence of chronic pain in patients with cancer, which has been proven to be associated with intense psychological suffering, is frequently not adequately diagnosed and treated. The author undertook a study at the Pain Clinic of the National Cancer Institute in Rio de Janeiro, involving 120 adult patients, where even those who were aware of their cancer diagnosis did not feel sufficiently informed about the disease and the oncologic pain. This situation brought on dissatisfaction with the treatment received and more demands as to results. The study revealed, nevertheless, that the professionals behavior during the consultation could be perceived by the patients as a factor improving or worsening the pain. tese results have raised questions regarding the quality of the interaction between doctors and patients, which were discussed in this paper. In fact, the professionals considerate behavior was many times more valued than the actual suppression of pain. In spite of the inexistence of
sufficient investment either in the doctor-patient relationship, or in the education and training related to that issue, the doctors communication abilities affect directly the level of
information of the patient, as well as his satisfaction, beliefs and even results of the treatment. The doctor-patient relationship has changed over time, no longer presenting itself centered on the disease and the doctor, to center itself more on the patient as an integral being, which entails the doctors recognition that there are expertises other than his own and that his expertise does not constitute the absolute truth that will apply to others. Although welcome, these changes bring about a certain confusion of roles to be played out by doctors and patients. Doctors face difficulties when dealing with certain differences, with the patients subjective complaints, their emotions as well as the doctors own. If it is expected today, that patients be participative, co-responsible for their treatments and recovery, conscious of their own power, individually and collectively, it is also expected that doctors be studious, wellinformed, experient, sincere, empathic, sensitive, attentive, compassionate, shrewd, well trained, skillful in sharing informations and decisions with patients, understanding what they want, what they dont want, and helping them express their beliefs, preferences and concerns, allocating time enough for this. All these expectations can end in conflicts that may be
resolved with an improvement in communication between doctors and patients in an effort from both sides.
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