Summary: | Existem muitos estudos sobre determinantes da interrupção precoce do aleitamento materno (AM), tendo sido identificados fatores socioeconômicos, culturais, demográficos e biológicos. Porém, não há estudos sobre os fatores envolvidos na manutenção do AM por dois anos ou mais, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS). Este estudo teve o objetivo de identificar os fatores associados à manutenção do aleitamento materno por dois anos ou mais em crianças nascidas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre entre junho e novembro de 2003. Estudo de coorte, parte prospectivo e parte retrospectivo, em que foram acompanhadas 151 crianças, do nascimento até a idade entre 3 e 5 anos de idade. A coleta de dados foi realizada em duas etapas: a primeira, do nascimento aos seis meses de idade da criança, e a segunda, quando a criança tinha entre 3 e 5 anos de idade. Na primeira etapa, foram obtidas informações na maternidade por meio de entrevista com as mães, aos 7 e 30 dias nos domicílios e aos 60, 120 e 180 dias por telefone ou nos domicílios, na impossibilidade de contato telefônico. Para a segunda etapa, as mães foram contatadas por telefone e convidadas para uma entrevista, com foco na prática do aleitamento materno e aspectos relacionados ao desmame de suas crianças. Para testar as associações entre o desfecho (aleitamento materno por dois anos ou mais) e variáveis de interesse, utilizou-se regressão de Poisson seguindo modelo hierárquico. O grau de associação foi estimado por meio de risco relativo (RR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%). A idade mediana das crianças na época da entrevista foi de 49 meses, com variação entre 40 e 64 meses. Cerca de um terço das crianças (n 49) foi amamentado por dois anos ou mais. A duração mediana do aleitamento materno foi de 11,5 meses, ou 345 dias. Nove crianças (6%) permaneciam sendo amamentadas na época da entrevista. Mostraram-se associados de forma positiva com o desfecho: permanência da mãe em casa com a criança nos primeiros seis meses de vida (RR=2,13; IC95% 1,12-4,05), não uso de chupeta (RR=2,45; IC95% 1,58-3,81), época da introdução de outro leite na dieta da criança (RR=1,001; IC95% 1,001 -1,002 por dia sem sua introdução) e de chás e/ou água (RR=1,005; IC 95% 1,001-1,009 a cada dia de adiamento de sua introdução). Coabitação com o pai da criança mostrou associação negativa com o desfecho (RR=0,61; IC95% 0,37-0,99). De acordo com os resultados deste estudo, para aumentar o número de mulheres que cumprem com a recomendação da OMS de AM por dois anos ou mais seria importante, além de desestimular o uso da chupeta e da introdução precoce de outro leite e de água e/ou chá na dieta da criança, incluir a figura paterna nas intervenções e dar maior atenção para as mulheres que ainda não gozam do direito da licença maternidade de seis meses. === Many studies have assessed the determinants of early discontinuation of breastfeeding (BF), and socioeconomic, cultural, demographic, and biological factors have been identified as such. However, no studies have focused on the factors involved in continuation of breastfeeding for two years or longer, as recommended by the World Health Organization (WHO). The present study sought to identify the factors associated with continuation of breastfeeding for two years or longer in children born at the Hospital de Clínicas de Porto Alegre between June and November 2003. In this combined prospective and retrospective cohort study, 151 children were followed from birth to the age of 3 to 5 years. Data were collected in two stages: the first, from birth to the age of 6 months; the second, sometime between the third and fifth year of life. During the first stage, information was obtained from mothers in the maternity ward (after delivery), at home (at 7 and 30 days), and by telephone—or again at home, when attempts at telephone interviews failed—at 60, 120, and 180 days. For the second stage of data collection, mothers were reached by telephone and invited to attend an interview focusing on breastfeeding practices and weaning. Hierarchical Poisson regression modeling was used to test for association between the study endpoint (breastfeeding for two years or longer) and the variables of interest. The degree of association was estimated by means of relative risks (RR) and their respective 95% confidence intervals. The median age of the child at the time of the interview was 49 months (range, 40–64 months). Roughly one-third of children (n=49) were breastfed for two years or longer. The median duration of breastfeeding was 11.5 months (345 days). Nine children (6%) still breastfed at the time of the interview. The following factors were positively associated with the study endpoint: stay-at-home mothering during the first 6 months of life of the child (RR 2.13; 95%CI, 1.12 to 4.05), non-use of pacifier/dummy (RR 2.45; 95%CI, 1.58 to 3.81), and timing of introduction of non-breast milk (RR 1.001; 95%CI, 1.001 to 1.002 for each day introduction of non-breast milk was delayed) and tea and/or water (RR 1.005; 95%CI, 1.001 to 1.009 for each day introduction of non-milk fluids was delayed). Cohabitation with the child’s father was negatively associated with the study endpoint (RR 0.61; 95%CI, 0.37 to 0.99). The results of this study suggest that, in order to increase the number of women who comply with the WHO recommendation of breastfeeding their children for two years or longer, it would be important not only to discourage use of pacifiers/dummies and early introduction of non-breast milk, water, or tea to the child’s diet, but also to include the child’s father figure in breastfeeding-related interventions and place greater emphasis on women who have yet to gain the right to 6-month maternity leave.
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