Summary: | A presente dissertação é resultante da experiência em distintos espaços clínicos com pacientes psicóticos e, em especial, em oficinas terapêuticas de música. A escrita busca investigar os possíveis efeitos do trabalho com a música na clínica da psicose. Para tanto, a primeira parte do trabalho trata de entrar em compasso com o leitor, situando-o com relação àquilo que entendemos por estruturação psicótica desde a perspectiva psicanalítica. É desde essa mesma perspectiva que situamos o campo de experiência e o método da pesquisa. Nesse sentido partimos de duas questões principais: uma delas diz respeito à narração, enquanto possibilidade de transmissão da experiência do inconsciente; a outra, ao caráter ficcional do que se produz a partir da experiência clínica. Apoiados em Freud, principalmente através do texto Construções em Análise, de 1937, é que sustentamos a forma de apresentação do que intitulamos “Memórias da Clínica”. Três fragmentos da experiência clínica colocam em relação as questões centrais do trabalho: a clínica da psicose e a música. A primeira memória acontece em uma oficina de música, inserida em um CAPS da cidade de Porto Alegre. No dilúvio de palavras de Julia escutamos o aprisionamento à palavra do Outro e a possibilidade de que, através da música, o sujeito possa tomar a palavra, colocando-se mais em consonância com o tempo do Outro e dos outros A segunda, surgida em um acompanhamento terapêutico, nos coloca a seguinte pergunta: como calar o Outro? Aqui também foi através da música que essa possibilidade surgiu. E, finalmente, a terceira memória cujo contexto é a escuta individual de uma paciente em uma clínica-escola. Nessa cena a voz, enquanto puro objeto, assegura uma função de presença. As memórias nos levaram aos caminhos da constituição do sujeito. Tendo a psicose e a música como guias, nos aventuramos por um percurso de pesquisa que reuniu operadores conceituais essenciais na aposta de que um sujeito pode advir, tais como: pulsão invocante, o fort-da, o espelho, alíngua. Trabalhar com a espera e com a abertura de intervalos é um desafio constante na escuta de psicóticos. Em nossa experiência, a música mostrou-se uma via potente nesse trabalho de criar intervalos. Através das variações do objeto da pulsão invocante que a música coloca em jogo, a palavra pode voltar a circular. Dar a palavra ao sujeito: não é disso que se trata na psicanálise? E que efeitos pode ter a música nessa operação? Dessa análise decanta a questão do silêncio, enquanto um elemento essencial na direção do tratamento nas psicoses. === The present dissertation is the result of trials in different clinical spaces with psychotic patients and, especially, in therapeutical music workshops. The writing seeks to investigate the possible effects of the work with music in the psychosis clinic. For such, the first part of the work tries to explain the reader, what we understood as a psychotic structuring under the psychoanalytic perspective. It is from that same perspective that we explain the field of experience and the research method. In that sense, we start from two main subjects: one of them concerns the narration, as a possibility of transmission of the unconscious experience; the other, the ficcional character that is produced starting from the clinical experience. Based on Freud, mainly through the Constructions in Analysis text, from 1937, we sustain the presentation form entitled “Memoirs of the Clinic.” Three fragments from the clinical experience which relate the central subjects of the work: the psychosis clinic and music. The first memory happens at a music workshop, inserted in a CAPS (Psycho-social Service Center) of the city of Porto Alegre. In the flood of Julia´s words we heard the imprisonment to the word of the Other and the possibility that, through music, the subject may take the word, becoming more in consonance with the time of the Other and the other ones. The second, appeared in a therapeutic assistance, places the following question: how to silence the Other? Here it was also through music that this possibility appeared. And, finally, the third memory whose context is the individual listening of a patient in a school clinic. In that scene, the voice, as a pure object, takes a presence function. The memoirs took us to the paths of the constitution of the subject. Taking the psychosis and the music as guides, we ventured in that primordial operation, through subjects as the invoking pulsion, fortda, the mirror, the language: essential concepts and operations in the hope that a subject may come. To work with the waiting and with the opening of intervals is a constant challenge in the listening of psychotics. In our experience, the music has appeared as a potent path in that work of creating intervals. Through the variations of the object of the invoking pulsion that the music turns on, the word circulates again. To give the word to the subject: isn’t that dealt with in psychoanalysis? And what effects may the music have in that operation? From that analysis upsurges the subject of silence, as an essential element in the direction of the psychoses treatment.
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