Summary: | Esta dissertação objetiva (1) propor uma perspectiva de análise da música que parte das teses fundantes dos conceitos de intertextualidade, intersemiótica e significância e (2) analisar as músicas sampleadas que constituem o corpus por seus processos de significância. Para tanto, retoma, no capítulo 2, as pesquisas linguísticas e literárias que, desde Bakhtin, apontam para a análise de um texto por sua relação com outros textos da cultura e da história, problematizando o caso da música, que também parece passível de análise em um campo intertextual, e que não se limita, porém, à dimensão verbal. Propõe, portanto, uma primeira passagem: da intertextualidade em sentido estrito à noção de intersemiótica, pela qual é possível pensar também as traduções entre linguagens e sistemas de signos distintos. Revisa autores que pensaram a questão da tradução intersemiótica, partindo de Jakobson, Peirce e Plaza e chegando às teorias das materialidades da comunicação que remetem os fenômenos de significação às redes (midiático-ambientais, no caso de McLuhan, e tecno-discursivas, no caso de Kittler) no seio das quais seu sentido é produzido, e que concebemos como um campo intersemiótico. A significação, desta perspectiva, não se reduz a uma transmissão de sentido, mas é trabalhada por diferentes instâncias semióticas e tecnológicas, em um atravessamento que, da perspectiva pós-estruturalista de Barthes e Kristeva, aponta para a fundação e para a disseminação do sentido em um movimento de significância. Este conceito implica uma segunda passagem: dos estudos do sentido ao pré-sentido, opondo um aspecto fenotextual (estruturado e codificado) a um genotextual (que diferencia as estruturalidades e códigos da comunicação). O capítulo 3, em que este referencial teórico é articulado com nosso objeto de pesquisa, propõe pensar o conceito de sampleamento por uma lógica de disseminação e significância, uma vez que a música sampleada não se limita a sua fabricação intertextual, mas convoca redes intersemióticas em um desenrolar da significação que passa pela apreciação coletiva (principalmente na internet) com seus diferentes interpretantes: repercussão, comentários, críticas, produções de novos materiais a partir das músicas analisadas, e, principalmente, a investigação coletiva dos trechos utilizados em cada música (sample hunting). Neste sentido, é proposta uma torsão do conceito de genotexto no rumo de uma genomusicalidade, que problematiza a fenomusicalidade codificada do ouvir ao instituir novos funcionamentos na comunicação musical. No capítulo 4, é apresentada a metodologia de análise, que se apropria dos pensadores já indicados e também de outros que oferecem semióticas da significação da música (Tatit, Schafer, Tagg) para que, passando por um roteiro de três níveis (intratextual, intersemiótico e diagramático), se possa indicar o tipo de significância em que se processa a significação das cinco músicas que compõem nosso corpus. Quatro delas são do gruopo australiano The Avalanches, que trabalha exclusivamente com música sampleada, e uma de Caetano Veloso, que utiliza o mesmo procedimento em seu Rap Popcreto. Como resultado, chega a cinco diagramas diferentes que dão a ver percursos genomusicais específicos que instauram novos tipos de comunicação: para além do ouvir, surge um germinar, um desvelar, um desenrolar, um recriar e um instituir como práticas que só se apresentam na expansão da análise intratextual da música por um campo intertextual e intersemiótico de materiais. === This work seeks (1) to propose a perspective of music analysis based on the foundational theses of the concepts of intertextuality, intersemiotics and signifiance and (2) to analyze the sampled songs that constitute our corpus in terms of this signifiance. To do so, it revises, in chapter 2, the linguistic and literary researches that, since Bakhtin, point towards the analysis of a text through its relations with other texts (which constitute culture and history), and problematize the case of music, which also seems able to be analyzed in an intertextual field of research, and which is not limited, however, to the verbal dimension. It proposes, therefore, a first passage: from intertextuality in its strict sense towards the notion of intersemiotics, by which it is possible to also think about the translations between distinct languages and systems of signs. It revises authors that thought about the question of intersemiotic translation, from Jakobson and Peirce to Plaza, and arrives at the theories of the materialities of communication that remit the signification phenomena to the networks (of media environments, with McLuhan, and techno-discursivities, with Kittler) in which sense is produced, and which we conceive of as intersemiotic fields. Signification, here, is not reducible to a transmission of signifieds: it is worked by different semiotic and technological instances, in a crossing that, from the post-structuralist point of view of Barthes and Kristeva, indicates the foundation and dissemination of sense in a movement of signifiance. This concept implies a second passage: from studies of sense to those of pre-sense, opposing a phenotextual (structured and codified) aspect to a genotextual aspect (which differentiates the structuralities and codes of communication). Chapter 3, in which this theoretical references are articulated with our object of research, proposes to think about the concept of sampling through a logic of dissemination and significance, once sampled music does not limit itself to a intertextual fabrication. Instead it convokes intersemiotic networks in a development of signification that goes through the collective appreciation (mainly online) that generates a series of different interpretants: repercussion, commentaries, critiques, production of new materials based on the analyzed songs and, primarily, the collective research of the samples used in each song (sample hunting). In this sense, a torsion is proposed to the concept of genotext towards a genomusicality, which problematizes the codified phenomusicality of the ‘to listen’ by instituting new operations in musical communication. The fourth chapter presents the analytical methodology, which stems from the already mentioned authors and also others which offer signification models of music (Tatit, Schafer, Tagg) so that, going through an itinerary of three levels (intratextual, intersemiotic and diagrammatic), we can indicate the types of significance that processes the signification of the five pieces of music which constitute our corpus. Four of them are by the australian group The Avalanches, that works exclusively with sampled music, and one by Caetano Veloso, who utilizes the same procedure in his Rap Popcreto. As conclusions, the work arrives at five different diagrams which present specific genomusical routes that install new types of communication: beyond the ‘to listen’, there emerge a ‘to germinate’, a ‘to unveil’, a ‘to uncoil’, a ‘to recreate’ and a ‘to institute’ as practices that only present themselves through the expansion of the intratextual analysis of music in a intertextual and intersemiotic field of materials.
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