Summary: | O objetivo deste estudo foi avaliar a utilidade da oftalmoscopia direta realizada por não-oftalmologistas em 400 pacientes hipertensos não diabéticos. Em um estudo transversal, analisou-se a associação entre exame fundoscópico, categorizado em normal e anormal e de acordo com uma classificação de Keith, Wagener e Barker (KW) modificada, com pressão arterial, duração da hipertensão e anormalidades eletrocardiográficas. Associações entre pressão arterial e anormalidades eletrocardiográficas também foram realizadas. As anormalidades de fundo-de-olho foram mais freqüentes em pacientes com pressão arterial diastólica maior que 105 mmHg (P = 0,001), pressão sistólica maior que 180 mmHg (P < 0,001) e com duração da hipertensão maior que 3 anos (P = 0.003). Também houve maior freqüência de anormalidades à fundoscopia em pacientes com estágios mais graves de hipertensão segundo a classificação do V Joint National Committee (V-JNC). Não houve associação entre gravidade da hipertensão e as classes KW 1 e KW 2: 34,5% dos pacientes classificados como KW 1 tinham pressão diastólica acima de 105 mmHg, contra somente 25,3% daqueles classificados como KW 2. Esta categoria também foi mais freqüente em todos os estágios de hipertensão segundo o V-JNC. As anormalidades da classe 3 de KW foram pouco freqüentes, ocorrendo em somente 2,5% dos pacientes da coorte. Em um modelo de regressão logística, o estreitamento arteriolar difuso foi associado com maior pressão diastólica (P = 0,002) e maior idade (P < 0,001). Anormalidades de cruzamentos arteriovenosos foram associados com maior pressão sangüínea sistólica (P = 0,003) e duração da hipertensão maior do que 3 anos (P = 0,024). O valor preditivo positivo de qualquer anormalidade fundoscópica estimar a gravidade da hipertensão foi de 75,20% e o valor preditivo negativo, 41,75%. Observou-se maior proporção de eletrocardiograma anormal (qualquer anormalidade) e de sobrecarga ventricular esquerda em pacientes com pressão diastólica maior que 105 mmHg (P = 0,039 e P = 0,032 respectivamente) e com sistólica maior que 180 mmHg (P = 0,034 e P = 0,001 respectivamente). Anormalidades entre oftalmoscopia e eletrocardiograma não mostraramse associadas. Os resultados deste estudo demostraram que, apesar das anormalidades fundoscópicas terem sido mais freqüentes em hipertensos mais graves, o exame de fundode- olho não proporcionou uma idéia acurada da gravidade da hipertensão na maioria dos pacientes examinados por internistas e cardiologistas e, que a classificação de Keith, Wagener e Barker teve uma aplicação limitada. A observação de um cruzamento arteriovenoso alterado sugere que a pressão sistólica seja elevada. A presença de estreitamento arteriolar difuso é mais freqüente em pacientes mais velhos e naqueles com pressão diastólica elevada. === The purpose of this study was to evaluate the usefulness of direct ophthalmoscopy done by non-ophthalmologists in 400 non-diabetic hypertensive patients. In a crosssectional fashion, it was analyzed the association between optic fundi examination, classified according the presence or absence of abnormalities and according a modified Keith, Wagener and Barker’s (KW), with blood pressure and duration of hypertension, and the associations between electrocardiographics abnormalities, blood pressure and ophthalmoscopy. An abnormal optic fundi was more frequent in patients with diastolic blood pressure higher than 105 mmHg (P = 0,001), systolic higher than 180 mmHg (P < 0,001) and with duration of hypertension longer than 3 years (P = 0,003). There were also a higher number of ophthalmoscopic abnormalities in the more severe grades of the V Joint National Committee hipertension classification (V-JNC) The hypertension severity did not vary in parallel with the KW 1 and 2 classes: 34.5% of patients classified as KW 1 had diastolic above 105 mmHg, contrasting with only 25.3% of those classified as KW 2. This category was more frequent in all stages of hipertension according to the V-JNC classification Class 3 abnormalities were infrequent (2.5% of the whole cohort). In a logistic regression model, diffuse arteriolar narrowing was associated with diastolic blood pressure (P = 0,002) and age (P < 0,001). Abnormal arteriovenous crossing was associated with systolic blood pressure (P = 0,003) and duration of disease (P = 0,024). The positive predictive value of any fundoscopic abnormality to estimate hypertension severity was 75,20% and the negative 41,75%. A higher proportion of abnormal electrocardiogram (any abnormality) was observed in patients with diastolic blood pressure higher than 105 mmHg (P = 0,039) and sistolic blood pressure higher than 180 mmHg (P = 0,034). Left ventricular hypertrophy was associated with diastolic higher than 105 mmHg (P = 0,032) and with sistolic higher than 180 mmHg (P = 0,001). Abnormalities (any) in the ophthalmoscopy and in rhe electrocardiogram were not associated. The results of this study demonstrate that optic fundi examination did not give an accurate figure on the severity of hypertension in most patients examined by internists and cardiologists, and that the KW classification had a limited applicability, although fundoscopic abnormalities had been more frequent in patients suffering from more severe hypertension. The finding of an abnormal arteriovenous crossing suggests that systolic blood pressure is higher. The presence of diffuse arteriolar narrowing is more frequent in older patients and in those with higher diastolic levels.
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