Impactos da exposição a estímulos musicais na infância – muito além do neurodesenvolvimento?

Introdução: Eventos perinatais podem afetar a saúde do indivíduo a médio e em longo prazo. Além disso, a relação mãe-bebê se relaciona com o risco para psicopatologias durante a vida, e também parece influenciar a nutrição e o crescimento da criança. Crianças nascidas com restrição de crescimento in...

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Bibliographic Details
Main Author: Braga, Claudia Lopes
Other Authors: Silveira, Patrícia Pelufo
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2015
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10183/115015
Description
Summary:Introdução: Eventos perinatais podem afetar a saúde do indivíduo a médio e em longo prazo. Além disso, a relação mãe-bebê se relaciona com o risco para psicopatologias durante a vida, e também parece influenciar a nutrição e o crescimento da criança. Crianças nascidas com restrição de crescimento intrauterino (RCIU), especialmente as meninas, apresentam maior consumo de alimentos palatáveis em várias fases do desenvolvimento, o que aumenta o risco para obesidade ao longo da vida. Nosso grupo vem demonstrando que alterações no sistema de recompensa do cérebro possam estar envolvidas. O uso da intervenção musical tem demonstrado melhora em uma série de parâmetros comportamentais e fisiológicos, assim como a aceitação alimentar em bebês nascidos com baixo peso no início da vida. Recentemente, estudos de neuroimagem têm sugerido que a exposição à música ativa o sistema de recompensa do cérebro. Entretanto, ainda não se sabe os efeitos de uma intervenção musical no início da vida sobre estes desfechos em longo prazo. Objetivos: Avaliar o impacto de uma intervenção em pares de mães e bebês (exposição a aulas de música) sobre desfechos relacionados à saúde da criança em longo prazo, buscando associálos com o peso ao nascer. Metodologia: Estudo longitudinal controlado que avaliou 56 crianças com idades entre 5 e 9 anos em desfechos antropométricos, nutricionais, comportamentais e de expressão musical. O grupo exposto foi recrutado de uma amostra de crianças que participou de uma intervenção musical estruturada de 2004 a 2007 no Curso de Extensão Música para Bebês do Departamento de Música do Instituto de Artes da UFRGS. O grupo não exposto foi recrutado de uma amostra de controles populacionais da mesma idade, na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília. Uma série de General Linear Model (GLMs) foram feitas, ajustadas para nível sócio-econômico e educação materna, para avaliar a interação entre a exposição à música, o peso ao nascer e sexo sobre o consumo de alimentos através de questionário de frequência alimentar. Resultados: Cinquenta e seis crianças foram avaliadas, sendo 28 expostas. Não houve diferença significativa entre os grupos exposto e não exposto na distribuição do sexo (p=0.42). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas quanto aos instrumentos Parental Bonding Instrument (PBI), domínio estabilidade familiar no Recursos do Ambiente Familiar (RAF), Questionário sobre o temperamento da criança (CBQ), Questionário sobre o comportamento alimentar da criança (CEBQ), Critério de Classificação Econômica Brasil e Questionário de Frequência Alimentar (QFA). Tampouco na avaliação musical ou nas medidas de cortisol. Entretanto, quanto à escolaridade do responsável, ao nível sócioeconômico e ao domínio processos proximais do RAF, os dados apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p<0,001). Houve diferença marginal quanto à Razão de Crescimento Fetal (p=0,051), à idade das crianças (p=0,003) e ao domínio ligação famíliaescola do RAF (p=0,041). Há uma interação entre o peso ao nascer, sexo e exposição à música sobre o consumo de açúcares na infância (Wald=7,87, df=2, p=0.02). A análise da interação mostra que, nas meninas não expostas à música, há aumento do consumo deste alimento conforme o peso ao nascer diminui (B=-8,673, p<0.0001), sem efeito nas expostas (B=3,352, p=0,15) ou nos meninos (expostos B=2,870, p=0.44; não expostos B=3,706, p=0,236). Não foram encontrados efeitos na análise de outros alimentos como frutas ou gorduras, mostrando que o efeito é específico para o doce. Conclusões: Os dados sugerem que intervenção musical em bebês pode moderar os efeitos da RCIU sobre a preferência a alimentos palatáveis na infância em meninas. Acreditamos que a musicalização de bebês pode ser uma intervenção relevante em populações vulneráveis como a das crianças nascidas com RCIU. === Introduction: Perinatal events can have mid- to long-term effects on a person's health. Besides, the mother-baby relationship is related to the risk of psychopathologies during life, and also seems to influence the nutrition and growth of the child. Children born after intrauterine growth restriction (IUGR), especially girls, present a higher intake of palatable foods in many stages of development, which increases the risk of obesity throughout life. Our group has demonstrated that alterations in the brain's rewarding system may be involved. The use of musical interventions has helped with a series of behavioral and physiological parameters, as well as with the acceptance of food in babies born with low birth weight. Recently, neuroimage studies have suggested that exposition to music activates the brain's rewarding system. However, the effects of a musical intervention in the beginning of life on these parameters are still unknown. Objectives: The objective is to evaluate the impact of an intervention in mother-baby pairs (exposed to music classes) on the outcomes related to the health of the child in the long term, associating it to the birth weight. Methodology: This is a controlled longitudinal study that evaluated 56 children, ages 5 to 9, regarding anthropometric, nutritional, behavioral and musical expression outcomes. The exposed group was recruited from a sample of children who participated in a structured musical intervention which happened from 2004 to 2007 at the Music for Babies Extension Course of the Art Institute of the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Brazil. The nonexposed group was recruited from a populational communitarian age-matched sample, in the area encompassed by the Santa Cecília Public Hospital. A series of General Linear Models (GLMs) were performed, according to SES and maternal education. This was done to evaluate the interaction between exposure to music, birth weight and sex about the consumption of food through a food frequency questionnaire. Results: Fifty-six children were evaluated, and 28 were exposed. There was no significant difference between the exposed and the nonexposed group regarding sex (p=0.42). Statistically significant differences were not found regarding the instruments Parental Bonding Instrument (PBI), family stability with Resources of Family Environment (RAF - Recursos de Ambiente Familiar), Children's Behavior Questionnaire (CBQ), Children's Eating Behavior Questionnaire (CEBQ), Brazil's Socioeconomic Classification Criteria, and Food Frequency Questionnaire. There was no significant difference in the musical or the cortisol evaluation. However, regarding the education of the mother, the socioeconomic status, and the grasp of closeness processes with RAF, the data presented statistically significant differences (p<0,001). There was a marginal difference regarding the Fetal Growth Ratio (p=0.051), the children's age (p=0.003) and the connection between family-school evaluated in RAF (p=0.041). There is an interaction between birth weight and exposure to music on the intake of sugar during childhood (Wald=7.87, df=2, p=0.02). The analysis of the interaction shows that girls who were not exposed to music had an increased consumption of this food as the birth weight lowers (B=- 8.673, p<0.0001). There was no effect on the girls who were exposed (B=3.352, p=0.15) nor on the boys (exposed B=2.870, p=0.44; nonexposed B=3.706, p=0.236). This interaction was not found regarding other foods, such as fruits or fats, which shows this is specific to sweets. Conclusions: The data suggest that musical intervention for babies can control the effects of IUGR about the preferences for palatable foods during childhood in girls. We believe that the musicalization of babies can be a relevant intervention in vulnerable populations, such as children born after IUGR.