As invisibilidades do dengue: um olhar sobre suas representações em uma favela do Município do Rio de Janeiro: retratos de uma vulnerabilidade
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Previous issue date: 2008 === Com o passar dos anos, a organização social de cidades como o Rio de Janeiro se alterou devido ao empobrecimento e a uma fraca política de habitação enfrentados por um grande setor da população ocasionando o incessante surgimento e crescimento de favelas. Emdecorrência da falta de implementação de políticas sociais suficientes nas últimas décadas, o crescimento das populações pobres vem se dando não só nas áreas periféricas, mas tambémnos grandes centros urbanos, agravando ainda mais o programa de controle do dengue. A despeito dos esforços empreendidos para controlar essa endemia e buscar a participação efetiva da população na tarefa preventiva, as estratégias utilizadas nas ações deComunicação, Educação em Saúde e Mobilização Social são repetitivas, sazonais e padronizadas, desconsiderando aspectos sociais, culturais e históricos na elaboração deintervenções mais próximas à população.A teoria das representações sociais foi utilizada neste estudo com o intuito deaproximação do senso comum, das vulnerabilidades existentes, e também das formas de enfrentamento desenvolvidas por uma população de favela moradora do Parque OswaldoCruz, localizada no Complexo de Favelas de Manguinhos - Município do Rio de Janeiro, marcada por grandes desigualdades sociais, traduzidas pelas altas taxas de analfabetismo eelevado índice de pobreza, além de uma alta taxa de incidência de dengue ao longo das três grandes epidemias no Estado do Rio de Janeiro. Resultante deste trabalho, pode-se observar que o dengue não é considerado umproblema de saúde de alta prioridade para essa comunidade, tendo as doenças crônicodegenerativas um grau de importância maior por essas afetarem mais efetivamente a capacidade para o trabalho e representar um maior risco à vida. Entretanto, nota-se que,devido às epidemias passadas, e em particular a última ocorrida no ano de 2002, o dengue é uma grande preocupação entre os moradores da área visitada. === As representações da doença refletem a apreensão das informações sobre prevenção, mas não a compreensão da razão pela qual se deva praticá-las; percebe-se, inclusive, uma resistência quanto a leitura de folhetos, preferindo-se as informações veiculadas pela televisão. Uma representação importante em relação ao dengue observada neste estudo é o estigma da sujeira vinculado a pobreza, refletida em hábitos de higienização para a prevenção. As representações sociais apreendidas nesse grupo fizeram transparecer algumas vulnerabilidades vividas e refletidas nas ações de controle do dengue. Por exemplo, percebese que vulnerabilidade individual aumenta quando os comportamentos preventivos sãoorientados por uma lógica ineficaz ao controle do dengue, como a relacionada a higienização do ambiente (ter higiene, cuidar da casa, usar desinfetante, ferver água). As vulnerabilidades sociais mais evidentes são o semi- analfabetismo predominante e a pobreza. Além de evidentes, as vulnerabilidades enfrentadas pela população do Parque Oswaldo Cruz se fazem presentes nas representações do dengue, mostrando como a realidade interfere no imaginário social e vice-versa, contextualizando os riscos que o grupo de moradores corre em relação à infecção. Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, sugere-se que as estratégias de intervenção para o combate ao dengue sejam redirecionadas e passem a ter em primeiro plano o objetivo de:- aumentar o grau de consciência dos indivíduos em relação aos possíveis danos decorrentes de uma não ação ou de uma ação orientada por uma lógica ineficaz e, com isso,- estimular o poder de transformação efetiva de comportamentos a partir dessa consciência. |
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