Summary: | A presente pesquisa versa sobre os adolescentes que apresentam comportamentos autolesivos, especificamente o de cortar a própria pele. O estudo surgiu a partir da escuta clínica de dois pacientes acompanhados em psicoterapia que marcavam a superfície cutânea com tais lesões. O fenômeno, conhecido nas redes sociais como cutting, avança, atingindo proporções de uma epidemia mundial. Por estar difundido entre os adolescentes, este projeto teve como
principal objetivo compreender esta questão, a partir da escuta desse público. Para atingir esta finalidade foram entrevistados quatro estudantes, de ambos os sexos, com idade entre 15 e 17 anos, além dos dois casos clínicos que motivaram a investigação, para sinalizar os efeitos terapêuticos possíveis para esta demanda. A psicanálise, através dos conceitos metapsicológicos, serviu como baliza teórica e como respaldo para as entrevistas. Verificouse que os adolescentes empregam o corpo como palco para encenar o mal-estar psíquico por
uma precariedade simbólica e por expressarem um pensamento voltado para o agir, sem que se opere uma intermediação. As feridas e cicatrizes são hieróglifos, marcados na epiderme, endereçados ao Outro, por buscarem reconhecimento e intervenção. Apesar das
singularidades de cada caso, os cortes funcionam como uma estratégia para garantir a sobrevivência frente a uma angústia avassaladora. Também podem ser considerados um ato de passagem e continuação de si mesmo como alternativa para driblar o aniquilamento.
Conclui-se que as escarificações não são atos suicidas, porém são antecedidas por comportamentos autolesivos mais brandos que, caso não sejam traduzidas a tempo, podem evoluir para condutas mais violentas dirigidas contra si. === The present research is about self-injurious behavior on teenagers, specifically skin cutting disorder. The study arose from clinical listening of two patients followed up in psychotherapy for marking their skin with such wound. This phenomenon, known as cutting on social networks, advances reaching proportions of a worldwide epidemic. This project aimed to understand this issue, widespread among teenage audiences, from listening them. To achieve this purpose four students of both sexes were interviewed, aged from fifteen to seventeen, and added the clinical cases which led to the investigation, to sign the possible therapeutic effects for this demand. Psychoanalysis, through metapsychological concepts, served as theoretical goal and backup for the interviews. It was found that adolescents use the body to stage the psychic malaise due to a symbolic precariousness and express a thought directed to acting,
without the operation of an intermediary. The wounds and scars are hieroglyphics, marked on the epidermis, addressed to the Other, by seeking recognition and intervention. Despite the peculiarities of each case, the cuts work as strategy to ensure survival face an overwhelming anxiety. They can also be considered an act of passage and continuation of itself as an alternative to circumvent annihilation. It is concluded that scarification are not suicidal acts, but are preceded by milder self-injurious behavior and, if not translated in time, can become more violent acts against themselves.
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