Percepção de suporte familiar no programa atitude e as implicações na assistência aos usuários de crack

O consumo de crack tem se constituído numa problemática de saúde pública pelas diversas consequências individuais, familiares e sociais que provoca. O objetivo desse estudo foi investigar a relação entre a perspectiva de suporte familiar de usuários de crack, de familiares e de técnicos sociais do P...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Michelle Maria Campos Carvalho
Other Authors: Suely de Melo Santana
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade Católica de Pernambuco 2016
Subjects:
Online Access:http://www.unicap.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1219
Description
Summary:O consumo de crack tem se constituído numa problemática de saúde pública pelas diversas consequências individuais, familiares e sociais que provoca. O objetivo desse estudo foi investigar a relação entre a perspectiva de suporte familiar de usuários de crack, de familiares e de técnicos sociais do Programa ATITUDE, analisando as possíveis implicações dessas percepções na assistência aos usuários e seus familiares. Optou-se por desenvolver a dissertação na modalidade artigos. No primeiro artigo, foi realizada uma revisão narrativa baseada em 23 artigos pesquisados nas bases de dados BVS, Scielo Periódicos e ScienceDirect, no intuito de avaliar as contribuições dos estudos às estratégias públicas de enfrentamento ao crack. Os critérios adotados para a seleção dos artigos foram: 1) artigos sobre "crack e políticas públicas", publicados nos últimos cinco anos e, 2) estudos com a população ou sobre a política pública brasileira. Como resultado foram incluídos nove artigos epidemiológicos, três sobre clinica das drogas, três sobre contextos de uso e violência, sete sobre representação social e mídia e um sobre família. Aspectos como mudança na assistência comunitária, políticas intersetoriais, vigilância e controle epidemiológicos, melhor integração entre os organismos que trabalham para a redução da demanda e aumento de pesquisas clínicas, foram ressaltados como importantes para a proposição de políticas públicas. O segundo artigo vem atender ao objetivo principal do estudo, sendo realizado com 62 participantes. Inicialmente foi aplicado em 46 usuários de crack, vinculados ao Programa ATITUDE, o Inventário de Percepção de Suporte Familiar (ISPF), que apresentou uma elevada consistência interna (&#945;=0,88). Na segunda fase, foi realizada uma entrevista semi-estruturada com oito usuários selecionados entre os 46 iniciais, quatro familiares e 12 técnicos sociais do programa. A média de idade desses usuários foi de 30 anos (DP=6,98), cujo perfil sociodemográfico remete a usuários, em sua maioria: não casados (78,3%), que residiam sozinhos (52,2%), com ensino fundamental incompleto (63%), advindos de famílias sem convivência entre os pais (65,2%) e que responderam ao IPSF com referência à família de origem (87%). Foram encontradas correlações significativas entre morar sozinho e ter uma baixa percepção de suporte familiar (r=0,324; p=0,05). A análise por fator, também evidenciou uma correlação significativa entre o Fator 1 (afetivo-consistente) e tipo de família (r=0,460; p=0,01) e com quem reside (r=0,309; p=0,05). Na etapa qualitativa, foi realizada uma análise de conteúdo temática, revelando-se, em linhas gerais, quatro temáticas principais para usuários e familiares, quais sejam: influência familiar, relacionamento familiar, lidar com problemas e expressão de sentimento. Para os técnicos, foram identificadas outras quatro temáticas: contribuição familiar, atividades terapêuticas, abordagem à família e relato de experiência. A predominância da percepção de um baixo suporte familiar (t (44) = -4,428; p<0,05), evidenciada na análise quantitativa, foi consoante com a fala dos demais participantes durante a entrevista. Em consonância com a literatura, neste estudo também se constatou a predominância do apoio materno e a influência dos pares se sobrepondo à da família na relação dos usuários com o crack. Discute-se, à luz da Teoria Social Cognitiva, a influência que a autoeficácia familiar e a modelação social exercem sobre o consumo de substâncias. Essa reflexão nos revela a importância de se efetivar uma proposição já contemplada na Política Nacional de Assistência Social, que remete a um olhar mais sistêmico sobre a questão do consumo do crack, contemplando tanto as necessidades do usuário como de seus familiares. Acredita-se que os paradigmas poderão ser aprimorados no sentido de favorecer novos modelos de políticas na atenção aos usuários de drogas, em especial de crack. === Crack usage has constituted a public health problem by the various individual, family and social consequences it causes. The aim of this study is to investigate the relationship between family support perspective of crack users, family and social technicians from the ATTITUDE program, analyzing the possible implications of these perceptions on the assistance for users and their families. We chose to develop the thesis in the format of articles. In the first article, we reviewed narratives based on 23 articles surveyed in the VHL databases Scielo Journals and Science Direct, in order to assess the contributions of these studies to public coping strategies with crack. The criteria adopted for the selection of items were: 1) articles on "crack and public policy," published in the last five years, and 2) studies with the population or on the Brazilian public policy. As a result, it was included nine epidemiological articles, three on clinical drug, three on contexts of use and violence, seven on social representation and media and one about family. Aspects such as change in Community assistance, intersectional policies, surveillance and epidemiological control, better integration between organizations working to reduce demand and increase in clinical research, were highlighted as important in proposing public policies. The second article is an answer to the main objective of the study, being conducted with 62 participants. Initially, it was applied to 46 crack users, linked to the Program ATTITUDE. Inventory of Family Support Perception (ISPF), which showed a high internal consistency (&#945; = 0.88). In the second phase, a semi-structured interview with eight selected users was conducted between the 46 initial four families and 12 social workers program. The average age of these users was 30 years (SD = 6.98), whose socio-demographic profile refers to users, mostly: not married (78.3%), who lived alone (52.2%), with incomplete primary education (63%) coming from families without coexistence between parents (65.2%) who responded to the IPSF with reference to the family of origin (87%). Significant correlations were found between living alone and having a low perception of family support (r = 0.324; p = 0.05). The factor analysis also showed a significant correlation between Factor 1 (affective-consistent), and family (r = 0.460; p = 0.01) and with whom resides (r = 0.309; p = 0.05). In the qualitative stage, a content analysis was performed, revealing themselves, in general, four main themes for users and families, such as: family influence, family relationships, dealing with problems and expression of feelings. For technicians, four other themes were identified: family contribution, therapeutic activities, approach to family and experience report. The predominance of the perception of a low family support (t (44) = -4.428, p <0.05), as evidenced in the quantitative analysis, was consonant with the speech of the other participants during the interview. In line with the literature, this study also found the prevalence of maternal support and peer influence overlapping the familys as observed in the link of users with crack. It is argued in the light of Social Cognitive Theory, the influence family self-efficacy and social modeling have on substance use. This reflection reveals the importance of executing a proposition already included in the National Policy for Social Assistance, which refers to a more systemic view on the issue of crack consumption, covering both user needs and their families. It is believed that the paradigms can be improved in order to encourage new policy models in the care of drug users, especially crack.