Summary: | Esse trabalho partiu da inquietação diante de textos da literatura que representam mães que não amam seus filhos, sobretudo as narrativas de curto fôlego. Tais questões surgem em um contexto espaço-temporal onde a mulher, além de ascender profissionalmente, não pode deixar de ser aquela boa mãe esperada pelo mito do amor materno. Sobre isso também levantei questionamentos sobre o que seria uma mãe boa e como esses valores foram constituídos por meio de um percurso histórico sobre o surgimento do mito do amor materno e como ele foi difundido no Brasil. Além de discutir suas raízes e a permanência do mito ainda hoje, há uma investigação sobre como pode ser desmitificado, mostrando que o amor materno é construído com base em vários elementos, como a ação hormonal, as influências maternas, e, sobretudo, o contexto cultural no qual a mulher está inserida. Os textos literários utilizados são todos de autoria feminina produzidos no Brasil a partir da década de 1960. Parece haver uma impossibilidade na contemporaneidade: ou a mulher trabalha ou é mãe. Há contos de autoria de Lya Luft, Sonia Coutinho, Cecília Prada, Ivana Arruda Leite, Lucia Castello Branco, Tania Jamardo Faillace, entre outras. Foram encontrados mais de setenta contos que tratam essa temática e, dentre esses, foi feita uma seleção para análise, agrupando-os de acordo com alguns critérios. As mães representadas são, na sua grande maioria, contraventoras, mulheres que declaram não estarem felizes na sua condição maternal, mães que não colocam seus filhos acima de tudo. Mulheres que negaram ou adiaram a maternidade se mostram fracassadas, infelizes, e não é raro encontrar a figura do psicanalista. A cidade acolherá muitas mulheres desiludidas que invejam a vida das amigas que se casaram e tiveram filhos. Se antes a negação da maternidade era levantada como a bandeira da felicidade feminina, as narrativas mais recentes mostram que isso não garantiu sucesso algum, povoando seus textos de mulheres de meia-idade, casadas e separadas inúmeras vezes, sem filhos e frustradas. São mães em conflito; são filhos e filhas que sofrem com o comportamento de suas mães; são comportamentos maternais que evidenciam a falência do mito do amor materno, e ao mesmo tempo creditam à ausência da mãe mitificada a abdicada totalmente em prol de seus filhos a falência não só da família, com também a do ser humano. === The reason of this study is the restlessness of reading literature texts which represent mothers who do not love their children, especially in short stories. Those questions appear in a space-time context where woman must be a good professional and a perfect mother at the same time. About this, questions about what would be a good mother were raised and how these values were built through a historical route about the myth of maternal love first appearance and how it was spread in Brazil. Besides discussing its root and permanence until today, there is an investigation about how it can be demystified, showing that maternal love is built based on several aspects just like hormonal action, maternal influences, and, mainly, on the cultural context that woman is. All the literary texts selected are those which have been were written by women in Brazil since 1960. The contemporaneous time shows a difficult path: either woman works or she is mother full time. Some of the writers chosen are: Lya Luft, Sonia Coutinho, Cecília Prada, Ivana Arruda Leite, Lucia Castello Branco, Tânia Jamardo Faillace, and others. More than seventy short stories about the maternal theme were found, and among them were selected some to be analyzed according to some criteria. Mothers are represented as offenders, women who state not being happy as mother and those who do not place their children in first place in their lives. There are women who denied or postpone becoming mothers and show themselves as losers, unhappy and it is common to see the analyst as a character. City will shelter some of those disillusioned women, those who are jealous of their friends that got married and had children. If before denying motherhood was a kind of feminists command to women be happy, now the recent short story shows that none of that is a guarantee of success. For this reason, it is common to see in those texts middle-age women who got married and divorce several times, with no child and frustrated. They are offenders, alcoholic and sad mothers; there are children who suffer with their mothers behavior which evidence the failure of the maternal love myth and at the same time due everything to the absence of that typical mother: totally abdicated to their children. It is the failure not only of the family but also of the human being.
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