Summary: | Este trabalho tem por objetivo analisar historicamente as concepções do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a organização da produção e do trabalho nos assentamentos rurais, remontando ao período de sua formação, organização estrutural e implementação do projeto de desenvolvimento. O MST surgiu num período marcado pelo processo de modernização da agricultura e pela transição político-partidária no Brasil. Desde sua formação, o Movimento busca viabilizar os assentamentos rurais através de estratégias produtivas que permitam a resistência dos trabalhadores na terra. No final da década de 80, o MST adotou o cooperativismo como principal forma de organização do trabalho e da produção. Para implementar esse projeto de desenvolvimento, constituiu uma estrutura organizacional ? de abrangência local, estadual e nacional ? baseada nos princípios de sua ?teoria da organização no campo?. Nesse sentido, incentivou a criação de cooperativas de produção ? consideradas forma superior de empreendimento agrícola ? em várias regiões do país. O trabalho no interior das cooperativas deveria ser conduzido por um novo sujeito (?sem terra?), pautado por valores e práticas voltados, essencialmente, para o coletivo. A base dessa nova representação social seria construída pela superação dos ?vícios? contidos nas relações
sociais e produtivas do campesinato (agricultura tradicional). Nesse conflito de representações, as práticas adotadas pelo MST sofreram resistências e rupturas. A partir de fatores internos e externos, o cooperativismo do Movimento começou a entrar em crise. Internamente, a produção em larga escala de monoculturas, voltada para a agroindustrialização e mercado externo, não era compatível com a organização dos assentamentos, que possuíam mão-de-obra abundante e poucos recursos para custeio das lavouras ? dependentes de recursos externos como insumos químicos, equipamentos e máquinas. Além disso, a coletivização do trabalho encontrava resistência nos assentados, causando um descompasso com a orientação do MST (Direção Nacional). Externamente, o governo FHC criminalizou a luta pela terra e extinguiu o crédito especial para a reforma agrária, restringindo as políticas públicas voltadas para essa demanda. O esgotamento do paradigma de produção adotado possibilitou a incorporação de novos elementos à luta pela terra e à organização da produção e do trabalho. Esses elementos aproximaram o MST da noção de sustentabilidade, orientada, fundamentalmente, pela agroecologia. A partir daí, o paradigma agroecológico tornou-se princípio para transformação social. De um lado, questionando o modelo agroexportador atual; de outro, reorientando as estratégias nos assentamentos rurais. A produção, antes voltada somente para a esfera econômica, adquire novas dimensões: social e ambiental. Para isso, inicia um processo de desconstrução/reconstrução de suas bases, as quais devem voltar-se para as particularidades sociais, econômicas, políticas e culturais construídas na localidade. Saberes e práticas que vinham sendo considerados, pelo MST, inadequados à realidade dos assentamentos rurais, por mais de uma década, passaram a ser resgatados como princípios fundamentais da agroecologia. A luta pela terra e a resistência dos trabalhadores assentados passam por novos componentes como a preservação dos recursos naturais e a valorização do conhecimento tradicional. O projeto de desenvolvimento agroecológico apresenta-se, atualmente, como o principal enfoque do MST, em busca de uma nova perspectiva para os assentamentos rurais em todo o país. === The objective of this work is to analyze historically the concepts of the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dealing with production organization and work done in rural settlements, throughout the period of its formation, structural organization and implementation of the development process. MST appeared during a period marked by agricultural modernization and by the transition of political parties in Brazil. Since its formation, the movement seeks to validate rural settlements using strategies that permit the resistance of laborers. At the end of the 1980s, MST adopted cooperativism as their principal form of organized labor e production. In order to put this development process into affect, the organization built an organizational structure, with local, state and national branches, based on the principles of its ?theory of organization in the rural field?. In this sense, MST encouraged the creation of production co-ops- considered to be a superior form of agricultural undertaking- in various parts of the country. The work done within the co-ops was to be conducted by a new laborer (?without land?) guided by values and practices centered around, essentially, the good of the collective. The base of this new social representation would be constructed in order to overcome the ?sins? and misdeeds traditionally found in the social sphere of agriculture. Within the conflict of representations, the practices adopted by MST suffered resistance and ruptures. The cooperative aspect of the movement began to enter in crisis, due to internal and external factors. Internally, the production of mono-cultures on a large scale, directed at agro-industrialization and the external markets, wasn?t compatible with the organization of the settlements, which possessed an abundance of physical laborers and few resources needed for plantation costs, dependent on external resources like chemical materials, equipment and machines. Collectivism of work encountered resistance within the settlements, also, causing misunderstandings with MST's national directors. Externally the administration of FHC criminalized the fight for land and extinguished the special credit used for agrarian reform, restricting the political publics concerned with this need. The exhaustion of the adopted production paradigm made possible the incorporation of new elements into the fight for land and the organization of production and labor. These elements aligned themselves to MST in the notion of sustainability, fundamentally orientated by agroecology. From this point, the agroecological paradigm became principle in the fight for social transformation. One side questioned the current agricultural export model, while the other, reorientated the strategies within the rural settlements. Production, before focused solely on the economic sphere, gained new social and environmental dimensions. With this began a process of deconstruction/reconstruction of the movement?s bases, which focused on social, economic, political and cultural specifics built within the locations. Ideas and practices that MST considered inadequate for the reality of the rural settlements for more than a decade, were reinstated as fundamental principles of agroecology. The fight for land and the resistance of squatting laborers gained new components centered on the preservation of resources and the valorization of traditional knowledge. The process of agroecological development presents itself, currently, as the principle focus of MST, which seeks a new perspective for their rural settlements throughout the country.
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