Summary: | A língua portuguesa ensinada na rede oficial, não é a mesma língua materna utilizada pelos alunos ao entrarem na escola. A língua que as crianças levam para escola, muitas vezes desprestigiada e estigmatizada, gera, nos aprendizes, de um modo geral, preconceitos como o de não saberem e de julgarem a sua própria língua difícil. A essa realidade, Kato (1998) chama de diglossia. Para constatar a afirmação da autora, ocorrências de concordância verbal foram levantadas com a finalidade de verificar qual o parâmetro desse fenômeno utilizado pelas crianças quando entram na escola. Com a utilização da metodologia sociolingüística, buscou-se comparar a linguagem de alunos matriculados na 1ª série do ensino fundamental com a de alunos de 1ª série do ensino médio, com o objetivo de observar quais conteúdos, sobre a concordância verbal, a escola ensinou nesse período de 8 anos. Os dados colhidos, por meio de narrativas orais gravadas em áudio, foram tratados estatisticamente pelo programa computacional VARBRUL. No trabalho em pauta, os dados apontam que os alunos, ao realizarem a concordância verbal, o fazem de forma diversa da regra existente na gramática normativa ensinada comumente na escola, utilizando, na maioria das vezes, alterações fonéticas, trocando, por exemplo, prenderam por prendero. Há, também uma preferência pelo uso do singular e pelas 1ª e 3ª pessoas. Os alunos da 1ª série do ensino médio não se utilizam tanto da alteração fonética para realizar a concordância verbal na linguagem oral, no entanto, as ?violações? das regras de concordância verbal da norma padrão ficam mais evidentes e, em textos escritos, as alterações fonéticas não aparecem. Por meio de pesquisas realizadas com a metodologia sociolingüística, fica patente a importância da escola na aprendizagem da língua padrão, porém nem sempre a escola leva em consideração que o aluno já possui um domínio considerável de sua língua E, por outro lado, a variação lingüística e a linguagem oral (variante em que se dá comumente a variação) nem sempre são matéria de discussão e estudo na sala de aula. A partir dessas constatações, percebe-se a necessidade de ensinar, não o que os alunos já sabem, mas analisar e refletir sobre aquilo que eles já sabem para poder descobrir e dominar diversas modalidades da língua para ampliação dos seus horizontes lingüísticos. === The Portuguese language taught in the official schools is not the same as the mother tongue used by the students as they start their education. The language these students bring to school, many times under-esteemed and stigmatized, generates in the students, and in a general sense, preconceptions such as that of not knowing their own language and that of judging it as difficult. This reality is called diglossia by Kato (1998). To confirm the author?s claim, occurrences of verb were collected in order to verify the parameter of such a phenomenon as used by these children when they start school. By means of the sociolinguistic methodology, we tried to compare the language of students enrolled in the first year of elementary education to that used by those from the 1st year of secondary education as to verify which contents concerning verb agreement had been taught during this period of eight years. The data, collected through the recording of oral narratives, were treated statistically with computer program VARBRUL. In this work, the data show that as students produce verb agreement they do it in a way diverse from the rule found in the normative grammar commonly taught in school, using, most of the times, phonetic alterations and changing, for example, prenderam to prendero. There is also a preference for the use of singular and 1st and 3rd persons. First year secondary students do not use so much phonetic alterations to make verb agreement in oral production; however, the violations of rules of verb agreement in standard norm are more evident and, in written texts, phonetic alterations are not present. Research works carried out with the sociolinguistic methodology evidence the importance of the school in the learning of the standard language; nevertheless, not always does the school take into consideration the fact that the student already has a considerable domain of his language. And, on the other hand, the linguistic variation and the oral language (variant in which variations commonly take place) are not always a subject of concern and study in the classroom. With these in mind one can perceive the need to teach not what the students know, but to analyze and reflect on what they already know in order to find out and dominate several modalities of language and expand the learners? linguistic horizons.
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