A família no discurso dos membros de famílias homoparentais

A união entre pessoas do mesmo sexo, um dos arranjos familiares característicos de nosso tempo, segue gerando controvérsias em vários países, participando da agenda de movimentos por direitos sexuais, interpelando autoridades religiosas e políticas, membros do judiciário e profissionais da área...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Luiz Celso Castro de Toledo
Other Authors: Vera Silvia Facciolla Paiva
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2008
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-30072009-152014/
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Família
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Movimento homossexual
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Luiz Celso Castro de Toledo
A família no discurso dos membros de famílias homoparentais
description A união entre pessoas do mesmo sexo, um dos arranjos familiares característicos de nosso tempo, segue gerando controvérsias em vários países, participando da agenda de movimentos por direitos sexuais, interpelando autoridades religiosas e políticas, membros do judiciário e profissionais da área de saúde. Nesse ínterim, famílias homoparentais se constituem, criam e adotam filhos. A Psicologia e suas ramificações tiveram papéis destacados historicamente na configuração das condições de enunciação a respeito dessa temática. A reflexão crítica sobre a experiência dessas famílias a partir de sua perspectiva, sem reproduzir o discurso normativo, é rara. O objeto deste estudo foi o discurso sobre a família proferido por 10 homens membros de família homoparentais residentes em Ribeirão Preto e arredores, com média de idade de 35 anos. As 10 entrevistas em profundidade foram analisadas a partir do referencial da análise de discurso e da obra de Michel Foucault, discutidas à luz da literatura do campo construcionista que pensa a sexualidade como fenômeno social. Discutiu-se que os entrevistados referem-se de formas distintas às suas famílias de origem e às suas famílias atuais, homoparentais. Às famílias atuais foram associados sentimentos amorosos intensos, o companheirismo e a rapidez na decisão de morar juntos. Os enunciados sobre as famílias de origem foram marcados por menções à rejeição, à violência, à morte, perdas e sofrimento. Vários dos homens entrevistados mostraram-se temerosos ante a possibilidade de serem rejeitados por parentes próximos, colegas de trabalho, membros do judiciário e psicólogos em função de sua orientação sexual ou de seu pertencimento a uma família homoparental. Ao discorrerem sobre essa temática, os entrevistados construíram cenas enunciativas marcadas por uma acentuada assimetria de poderes. Diante da exposição pública de sua orientação sexual e de sua família homoparental, restaria aguardar, pedir ou torcer pelo reconhecimento e pela aceitação social. Defenderam reiteradamente a normalidade de si mesmos, de suas famílias e filhos. Todos externaram o desejo de tornarem-se pais e destacaram os sentimentos amorosos como o critério mais importante para a escolha de uma criança para adoção. Todo discurso é uma produção cujas ondições de possibilidade dependem do contexto de sua enunciação. A construção discursiva dos membros dessas famílias acerca do que seria a família homoparental está ocorrendo sob condições desfavoráveis, pois se elas ganharam visibilidade social nos últimos anos, também foram alvo de ataques e tiveram sua legitimidade e cidadania contestadas por instituições centrais para a vida cotidiana, tais como a Igreja, o poder legislativo e judiciário. Devem ser considerados, portanto, os riscos de utilizarmos termos como homoparentalidade ou gay families no âmbito dos estudos e práticas em Psicologia. Psicólogos (dentre outros profissionais de saúde) participaram da construção da imagem do homossexual como uma outra espécie, associada à doença, ao pecado e ao crime e deveriam ter cautela para não defini-las como mais uma espécie deficitária de família. === Among other family arrangements of our times, same sex-couples in several countries are controversial, a theme that is part of the sexual rights movement agenda challenges religious, juridical and political authorities, and health care professionals. In the meantime, new gay families are created, take care and adopt children. Psychology had a leading role in the history of the discourse conditions on this issue. A reflexive and critical literature about these families experience in their own perspective is rare. The aim of this study was the discourse about family constructed by 10 men that are members of gay families residing in the neighbourhood of Ribeirão Preto, a medium size city in São Paulo State interior. Ten in-depth interviews were conducted with men, average age of 35 years old. They were analyzed within the discourse analysis framework, based on Michel Foucaults work and the social constructionism literature that assumes sexuality as a social phenomenon. It was discussed how the interviewees distinguished their families of origin from their current family. Their current families were associated to intense loving feelings, partnership and the impulsiveness in their decision to share a home. The discourses related to their family of origin were marked by mentions of rejection, violence, death losses and suffering. Several of the interviewed men were concerned and frightened by the possibility of being rejected by close relatives, co-workers, members of the judicial power and psychologists due to their sexual orientation or due to their belonging to gay families. When they mentioned this theme, they constructed narrative scenes marked by a relevant power asymmetry. If their sexual orientation and their belonging to a gay family was exposed, they would have to wait, asking or hoping for social recognition and acceptance. The interviewed also repeatedly claimed the normality of their family, children and their own. All of them have expressed the desire of being a parent. When indicating the best criteria for selecting a child for adoption, they would choose their loving feelings. Discourse production is conditioned by and depends of the context of its enunciation. The discursive construction by members of such families conceptualizing homoparental families is occurring under un-favorable conditions, since, despite gay families have obtained social visibility during last years, they have also been subjected to critics and have had their legitimacy and citizenship contested by important institutions of daily life, such as churches and legal and politic sphere. Finally, we ask for caution of using terms like homoparentship or gay families within psychology studies and practices, considering that psychologists (amongst other health professionals) participated in the construction of the homosexual as another human species, associated to diseases, sins and crimes. We should take care in not to define homoparental families as another non-normal and problematic family.
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A reflexão crítica sobre a experiência dessas famílias a partir de sua perspectiva, sem reproduzir o discurso normativo, é rara. O objeto deste estudo foi o discurso sobre a família proferido por 10 homens membros de família homoparentais residentes em Ribeirão Preto e arredores, com média de idade de 35 anos. As 10 entrevistas em profundidade foram analisadas a partir do referencial da análise de discurso e da obra de Michel Foucault, discutidas à luz da literatura do campo construcionista que pensa a sexualidade como fenômeno social. Discutiu-se que os entrevistados referem-se de formas distintas às suas famílias de origem e às suas famílias atuais, homoparentais. Às famílias atuais foram associados sentimentos amorosos intensos, o companheirismo e a rapidez na decisão de morar juntos. Os enunciados sobre as famílias de origem foram marcados por menções à rejeição, à violência, à morte, perdas e sofrimento. Vários dos homens entrevistados mostraram-se temerosos ante a possibilidade de serem rejeitados por parentes próximos, colegas de trabalho, membros do judiciário e psicólogos em função de sua orientação sexual ou de seu pertencimento a uma família homoparental. Ao discorrerem sobre essa temática, os entrevistados construíram cenas enunciativas marcadas por uma acentuada assimetria de poderes. Diante da exposição pública de sua orientação sexual e de sua família homoparental, restaria aguardar, pedir ou torcer pelo reconhecimento e pela aceitação social. Defenderam reiteradamente a normalidade de si mesmos, de suas famílias e filhos. Todos externaram o desejo de tornarem-se pais e destacaram os sentimentos amorosos como o critério mais importante para a escolha de uma criança para adoção. Todo discurso é uma produção cujas ondições de possibilidade dependem do contexto de sua enunciação. A construção discursiva dos membros dessas famílias acerca do que seria a família homoparental está ocorrendo sob condições desfavoráveis, pois se elas ganharam visibilidade social nos últimos anos, também foram alvo de ataques e tiveram sua legitimidade e cidadania contestadas por instituições centrais para a vida cotidiana, tais como a Igreja, o poder legislativo e judiciário. Devem ser considerados, portanto, os riscos de utilizarmos termos como homoparentalidade ou gay families no âmbito dos estudos e práticas em Psicologia. Psicólogos (dentre outros profissionais de saúde) participaram da construção da imagem do homossexual como uma outra espécie, associada à doença, ao pecado e ao crime e deveriam ter cautela para não defini-las como mais uma espécie deficitária de família. Among other family arrangements of our times, same sex-couples in several countries are controversial, a theme that is part of the sexual rights movement agenda challenges religious, juridical and political authorities, and health care professionals. In the meantime, new gay families are created, take care and adopt children. Psychology had a leading role in the history of the discourse conditions on this issue. A reflexive and critical literature about these families experience in their own perspective is rare. The aim of this study was the discourse about family constructed by 10 men that are members of gay families residing in the neighbourhood of Ribeirão Preto, a medium size city in São Paulo State interior. Ten in-depth interviews were conducted with men, average age of 35 years old. They were analyzed within the discourse analysis framework, based on Michel Foucaults work and the social constructionism literature that assumes sexuality as a social phenomenon. It was discussed how the interviewees distinguished their families of origin from their current family. Their current families were associated to intense loving feelings, partnership and the impulsiveness in their decision to share a home. The discourses related to their family of origin were marked by mentions of rejection, violence, death losses and suffering. Several of the interviewed men were concerned and frightened by the possibility of being rejected by close relatives, co-workers, members of the judicial power and psychologists due to their sexual orientation or due to their belonging to gay families. When they mentioned this theme, they constructed narrative scenes marked by a relevant power asymmetry. If their sexual orientation and their belonging to a gay family was exposed, they would have to wait, asking or hoping for social recognition and acceptance. The interviewed also repeatedly claimed the normality of their family, children and their own. All of them have expressed the desire of being a parent. When indicating the best criteria for selecting a child for adoption, they would choose their loving feelings. Discourse production is conditioned by and depends of the context of its enunciation. The discursive construction by members of such families conceptualizing homoparental families is occurring under un-favorable conditions, since, despite gay families have obtained social visibility during last years, they have also been subjected to critics and have had their legitimacy and citizenship contested by important institutions of daily life, such as churches and legal and politic sphere. Finally, we ask for caution of using terms like homoparentship or gay families within psychology studies and practices, considering that psychologists (amongst other health professionals) participated in the construction of the homosexual as another human species, associated to diseases, sins and crimes. 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