Summary: | Esta tese investigou como a prática da folga organizacional auxilia no alcance dos objetivos financeiros e não financeiros de uma empresa familiar privada. A folga organizacional foi definida na pesquisa como a disponibilidade de recursos a um nível mais elevado do que o estritamente necessário para a operação da organização (Cyert & March, 1963; Onsi, 1973 Danneels, 2008), decorrente das experiências passadas e expectativas futuras dos sujeitos que precisam tomar decisões em determinado contexto social (Nazarova, 2014). As particularidades da empresa familiar compreenderam a essência e a importância da riqueza socioemocional da família nesse tipo de organização; sumarizadas em termos da necessidade de exercer influência e controle na gestão da empresa, envolvimento direto nas decisões estratégicas e operacionais da organização e intenção de continuidade do negócio sob o controle da família (Chua et al., 1999; Gomez-Mejia Haynes, Núñez-Nickel, Jacobson & Moyano-Fuentes, 2007; Berrone, Cruz & Gomez-Mejia, 2012; Chrisman, Chua, Pearson, & Barnett, 2012). Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, sob abordagem interpretativista, por meio da condução de um estudo de caso. A empresa selecionada possui 36 anos de história, está na segunda geração da família e contempla uma estrutura, porte e complexidade demandados para a investigação da folga organizacional. Os dados da pesquisa são provenientes de 35 entrevistas, documentos disponibilizados pela organização, bem como de notas de campo provenientes da observação de estruturas, procedimentos e comportamentos durante os seis meses de contato com o campo. Utilizou-se a técnica de análise do discurso para realizar a descrição e explicação do fenômeno investigado por meio do (i) entendimento do que permeia a organização, (ii) o recorte de fragmentos de diferentes sujeitos, momentos e situações que retratam o fenômeno investigado e (iii) a discussão dos achados com base nas inferências da pesquisa e literatura anterior. O estudo permitiu o entendimento de que a folga organizacional não representa necessariamente um comportamento disfuncional dos sujeitos, ou um problema em termos de desempenho na organização. Pelo contrário, a prática, dentro dos limites considerados aceitáveis pela família proprietária da empresa, é vista como uma alternativa em decisões com alto nível de insegurança ou incerteza, além de estratégica no sentido de preparar e estruturar a organização para o longo prazo. Dentre as contribuições da pesquisa, destacam-se as discussões sobre (i) a perspectiva positiva da folga organizacional, (ii) a autoridade da família na empresa que legitima a prática da folga e define suas delimitações, (iii) a inquietação na organização está na intensidade, na natureza dos recursos, no momento e na forma com que a folga é praticada, e não em sua existência ou não no modelo de gestão, (iv) o reconhecimento da importância de se tratar o tema da folga sob uma perspectiva holística do sistema de controle gerencial, e (v) o benefício de um olhar temporal mais alongado do modelo de gestão que valoriza, além dos aspectos financeiros, o envolvimento emocional e afetivo dos membros da família e dos funcionários em relação à organização.
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This dissertation investigated how the organizational slack practice supports a private family business to achieve its financial and non-financial goals. Organizational slack is defined in this research as an availability of resources at a higher level than is strictly necessary to the organization\'s operations (Cyert & March, 1963, Onsi, 1973, Danneels, 2008). Organization slack stems from experiences and future expectations of individuals who need to make decisions in a given social context (Nazarova, 2014). The study took the essence and the socioemotional wealth lens to look at the particularities of the family business. Theses frameworks are summarized in terms of need to exert influence and control over management, the direct involvement in the strategic and operational decisions of the organization, and the intention of business continuity under family control (Chua et al., 1999, Gomez-Mejia, Haynes, Núñez-Nickel, Jacobson, & Moyano-Fuentes, 2007, Berrone, Cruz & Gomez-Mejia, 2012, Chrisman, Chua, Pearson, & Barnett, 2012). A qualitative research was developed through an interpretative approach and conduction of a case study. The selected company has 36 years of history, is in the second generation of the family and contemplates a structure, and complexity required for an investigation about organizational slack. The data were obtained from 35 interviews, internal documents of the organization and the observation of structures, procedures and behaviors during the six months that the researcher was involved in the field. The research used the discourse analysis technique to perform a description and explanation of the investigated phenomenon through (i) understanding what permeates the organization, (ii) take out fragments of different subjects, moments and situations that presents the phenomenon investigated and (iii) discussion of the research findings based on the inferences and previous literature. This study discusses that the organizational slack does not necessarily represents a dysfunctional behavior of organizational subjects, or a problem in terms of performance in the organization. Contrarily, the practice of slack within the limits that are acceptable by the business family owners is seen as an alternative in decisions that involves a high level of insecurity or uncertainty, as well as a meaningless strategy to prepare and structure the organization for the long term. The contributions of the research are highlighted in the discussions related to (i) the positive perspective of the organizational slack, (ii) the family authority in the company which legitimizes the practice of slack and defines its delimitations, (iii) the concern in the organization about the intensity, nature of the resources, moment and form with which the slack is practiced, and not in its existence or not in the management model, (iv) the recognition of the importance of dealing with the issue of slack under a holistic perspective of the management control system, and (v) the benefit of a more extended temporal view at the management model that values, in addition to financial aspects, the emotional and affective involvement of family members and employees with the organization.
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