Summary: | Introdução: O transporte médico de crianças gravemente enfermas envolve particularidades que aumentam o risco de complicações, que podem contribuir para o aumento no tempo de internação e mortalidade. Objetivos: Avaliar a frequência e os tipos de complicações observadas durante o transporte pré- hospitalar e inter-hospitalar de crianças gravemente enfermas, assim como o impacto dessas complicações na mortalidade, no tempo de internação hospitalar e nos custos hospitalares. Pacientes e Métodos: Estudo realizado em duas etapas: a primeira foi um estudo transversal, no qual, por meio de entrevista padronizada com o médico que admitiu as crianças gravemente enfermas que necessitaram de transporte pré-hospitalar ou inter-hospitalar, foram identificadas e caracterizadas possíveis complicações ocorridas durante esse transporte. Estes dados foram auditados por três médicos independentes que definiram a presença ou ausência de complicações durante o transporte. A segunda etapa constituiu-se de uma coorte prospectiva, na qual os pacientes, divididos em dois grupos distintos (com e sem complicações durante o transporte), foram seguidos, prospectivamente, por 60 dias, observando-se a ocorrência de morte ou alta hospitalar. Resultados: Foram incluídas 143 crianças no estudo. Pelo menos uma complicação durante o transporte foi observada em 74 pacientes (52%). As complicações mais frequentes foram relacionadas com as vias aéreas (69%), seguidas por distúrbios metabólicos (47%), alterações cardiovasculares (40%) e falhas relacionadas aos dispositivos e à monitorização (37%). Na análise univariada, os seguintes preditores para ocorrência de complicações durante o transporte foram observados: peso <10Kg (risco relativo - RR: 1,52; intervalo de confiança (IC 95%: 1,11-2,09); distância >100Km (RR: 1,67; IC 95%: 1,16-2,40); presença de doença respiratória (RR: 1,46; IC 95%: 1,06-1,95) e comorbidades (RR: 1,68; IC 95%: 1,23-2,30). Já na análise multivariada, não foram observados preditores independentes para ocorrência de complicações. A ocorrência de complicações durante o transporte foi associada com maior taxa de mortalidade hospitalar (hazard ratio - HR: 5,668; IC 95%: 1,26-26,65; p=0,0130) e menor taxa de alta hospitalar (HR: 0,48; IC 95%: 0,31-0,74; p=0,0007). Após a aplicação da regressão de Cox para ajuste de potenciais fatores de confusão, a presença de complicação durante o transporte permaneceu associada com o índice de mortalidade hospitalar (HR: 6,74; IC 95%: 1,40-32,34; p=0,017), contudo deixou de ser associada com o tempo para a alta hospitalar (HR: 0,76; IC 95%: 0,49- 1,16; p=0,213). Conclusões: As complicações foram frequentes durante o transporte pediátrico. A presença de doenças respiratórias, peso <10Kg, presença de comorbidades e a distância >100 Km foram preditores de risco para a ocorrência dessas complicações. As complicações ocorridas durante o transporte foram associadas com o aumento nas taxas de mortalidade hospitalar.
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Introduction: The medical transport of critically ill children involves characteristics that increase the risk of complications, which can contribute to an increase in length of stay and mortality. Objectives: To evaluate the frequency and type of complications observed during the pre-hospital and inter-hospital transport of critically ill children, as well as the impact of these complications on mortality, length of hospital stay and hospital costs. Patients and Methods: A study carried out in two stages: the first was a cross-sectional study where through a standardized interview with the doctor who admitted the critically ill children requiring pre-hospital or inter-hospital transport identified and characterized possible complications during this transport. These data were audited by three independent doctors who defined the presence or absence of complications during transport. The second stage consists of a prospective cohort study, where patients divided into two groups (with and without complications during transportation) were followed prospectively for 60 days observing the occurrence of death or hospital discharge. Results: We included 143 children in the study. At least one complication during transportation was observed in 74 patients (52%). The most frequent complications have been associated with airway (69%), followed by metabolic disorders (47%), cardiovascular disorders (40%) and failure in the device and monitoring (37%). In the uni-variate analysis, the following predictors for the occurrence of complications during transport were observed: weight <10 kg (relative risk - RR: 1.52; 95% confidence interval - CI: 1.11-2.09); distance greater than 100 km (RR: 1.67; 95% CI: 1.16-2.40); presence of respiratory disease (RR: 1.46; 95% CI: 1.06-1.95) and associated comorbidity (RR: 1.68; 95% CI: 1.23- 2.30). In the multivariate analysis, no independent predictors were observed for the occurrence of complications. The occurrence of complications during transport was associated with higher hospital mortality (hazard ratio - HR: 5.668; 95% CI: 1.26-26.65; p=0.0130) and a lower hospital discharge rate (HR: 0.48; 95% CI: 0.31-0.74; p=0.0007). After Cox regression to adjust for potential confounding factors, the presence of complications during transport remained associated with hospital mortality (HR: 6.74; IC 95%: 1.40-32.34; p=0.017), however, was not associated with hospital discharge rates (HR: 0.76; 95% CI: 0.49-1.16; p=0.213). Conclusions: The complications were common during pediatric transport. Distance greater than 100 km, presence of respiratory disease, associated comorbidity and weight <10 kg were risk predictors for occurrence of complications. Complications during pediatric transport were associated with increased hospital mortality rates.
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