Caracterização das disfunções miccionais em pacientes portadores do espectro da neuromielite óptica e suas associações com o comprometimento neurológico e a qualidade de vida

INTRODUÇÃO: Neuromielite óptica (NMO) e suas formas limitadas são doenças desmielinizantes autoimunes do sistema nervoso central que acometem preferencialmente a medula espinhal e o nervo óptico. Várias formas clínicas do espectro da NMO (NMO-SD) tem sido descritas e incluem desde um evento únic...

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Bibliographic Details
Main Author: Fabricio Leite de Carvalho
Other Authors: Cristiano Mendes Gomes
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2014
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5153/tde-27082014-084739/
Description
Summary:INTRODUÇÃO: Neuromielite óptica (NMO) e suas formas limitadas são doenças desmielinizantes autoimunes do sistema nervoso central que acometem preferencialmente a medula espinhal e o nervo óptico. Várias formas clínicas do espectro da NMO (NMO-SD) tem sido descritas e incluem desde um evento único de mielite transversa longitudinalmente extensa (MTLE) à NMO recorrente. O comprometimento neurológico destes pacientes pode levar a diversas disfunções autonômicas, incluindo disfunção miccional. OBJETIVOS: Determinar a prevalência e as características dos sintomas do trato urinário inferior (STUI) e dos achados urodinâmicos em pacientes portadores de NMO-SD, e analisar suas associações com o grau de comprometimento neurológico e qualidade de vida (QV). MÉTODOS: Avaliamos 30 pacientes (23 mulheres e 7 homens) com diagnóstico estabelecido de NMO-SD, que foram convidados a participar do estudo a despeito de apresentarem ou não STUI. A avaliação neurológica foi realizada por meio da Escala Expandida do Estado de Incapacidade (EDSS), ressonância magnética de crânio e coluna vertebral, e dosagem de NMOIgG. Os STUI foram avaliados pelo Questionário de Avaliação da Bexiga Hiperativa (OAB-V8) e pelo Escore Internacional de Sintomas Prostáticos (IPSS). A qualidade de vida de forma geral foi avaliada pelo questionário de Satisfação com a Vida (LiSat-9). Todos os pacientes foram submetidos ao estudo videourodinâmico. RESULTADOS: A idade média dos pacientes foi de 41,1 ± 13,5 anos (intervalo de 13 a 70) e o tempo médio de duração da doença neurológica foi de 33,8 ± 30,8 meses (intervalo de 3 a 135). A avaliação neurológica mostrou pacientes com EDSS médio de 5,3 ± 1,8 (intervalo de 1 a 8,5). O escore médio do OAB-V8 foi de 17,5 ± 14,0 (intervalo de 0 a 40) e de 14,3 ± 10,6 (intervalo de 0 a 35) para o I-PSS. A média da QV geral medida pelo Lisat-9 foi de 38,9 ± 6,8 (intervalo de 26 a 49). Os STUI mais comuns foram urgência em 15 (50%) pacientes, noctúria em 15 (50%), jato urinário fraco em 15 (50%), intermitência em 14 (46,6%), esvaziamento incompleto em 13 (43,3%), hesitação em 13 (43,3%), aumento da frequência urinária em 13 (43,3%) e urge-incontinência em 5 (16%). Os achados urodinâmicos mais comuns foram hiperatividade detrusora (HD) com dissinergia detrusor-esfincteriana (DDE) em 11 (36,6%) pacientes, DDE sem HD em 7 (23,3%), HD sem DDE em 6 (20%), e incontinência urinária de esforço em 1 (3,3%). Cinco (16,6%) pacientes apresentaram estudo videourodinâmico sem anormalidades. Sintomas urinários medidos pelo IPSS e pelo OAB-V8 correlacionaram-se com maior comprometimento neurológico (r=0,42; p=0,018 e r=0,48; p=0,006 respectivamente). Pacientes portadores de DDE foram aqueles que mostraram maior comprometimento neurológico (p=0,027). Da mesma forma, pacientes dissinérgicos apresentaram maiores escores ao I-PSS (p=0,029) e ao OAB-V8 (p=0,008). Pacientes com maior comprometimento neurológico foram aqueles que apresentaram pior QV (r=-0,410; p=0,022). CONCLUSÃO: Encontramos alta prevalência de STUI e disfunção miccional em portadores de NMO, sendo DDE e a HD as anormalidades urodinâmicas mais frequentes. Dissinergia detrusor-esfincteriana e STUI se correlacionam com a gravidade da doença neurológica. A severidade da doença neurológica correlaciona-se com a qualidade de vida geral === INTRODUCTION: Neuromyelitis optica (NMO) and its limited forms are demyelinating autoimmune diseases of the central nervous system that preferentially affects the spinal cord and optic nerve. Several clinical forms of NMO spectrum disorders (NMO-SD) have been described and range from a limited event of longitudinally extensive transverse myelitis (LETM) to relapsing NMO. The neurological damage in these patients may lead to a range of autonomic dysfunctions, including voiding dysfunction. OBJECTIVES: To determine the prevalence and characteristics of the lower urinary tract symptoms (LUTS) and the urodynamic findings in patients with NMO-SD and analyze their correlations with the level of neurological damage and quality of life (QoL). METHODS: We evaluated 30 patients (23 women and 7 men) with an established diagnosis of NMO-SD based on stringent criteria. All patients were invited to participate irrespective of the presence of LUTS. Neurological impairment was assessed with the Expanded Disability Status Scale (EDSS), magnetic resonance imaging of the brain and spinal cord and NMO-IgG status. LUTS were evaluated with the Overactive Bladder V8 (OAB-V8) questionnaire and by the International Prostate Symptom Score (I-PSS). Quality of Life was evaluated using the Life Satisfaction questionnaire (LiSat-9). All patients underwent videourodynamics, transabdominal urinary tract sonography, urine culture and serum creatinine levels. RESULTS: The mean age of the patients was 41.1 ± 13.5 years (range 13 to 70) and the mean time of neurological disease duration was 33.8 ± 30.8 months (range 3 to 135). Neurological evaluation showed a mean EDSS score of 5.3 ± 1.8 (range 1 to 8.5). The mean OAB-V8 score was 17.5 ± 14.0 (range 0 to 40) and the mean I-PSS score was 14.3 ± 10.6 (range of 0 to 35). Mean general QoL measured by the Lisat-9 was 38.9 ± 6.8 (range 26 to 49). The most common urinary symptoms were urgency in 15 (50%) patients, nocturia in 15 (50%), weak urinary stream in 15 (50%), intermittence in 14 (46.6%), incomplete emptying in 13 (43.3%), hesitation in 13 (43.3%), increased urinary frequency in 13 (43.3%) and urge-incontinence in 5 (16,6%). The most frequent urodynamic findings were detrusor overactivity (DO) with sphincter dyssinergia (DSD) in 11 (36.6%) patients, DSD alone in 7 (23.3%), DO without DSD in 6 (20%) and stress urinary incontinence (SUI) in 1 (3.3%). Five (16.6%) patients had normal findings. Voiding dysfunction assessed by I-PSS and OAB-V8 increased with the degree of neurological impairment (r=0.42; p=0.018 and r=0.48; p=0.006 respectively). Patients with DSD had significantly higher symptoms based in the I-PSS (p=0.029) as well as the OAB- V8 scores (p=0.008) and greater neurological impairment (p=0.027). Patients with more severe neurological impairment were associated with worse Qol (r=-0.410; p=0.022). CONCLUSION: We have shown a high prevalence of LUTS and voiding dysfunction, with DSD and DO as the main urodynamic findings. Detrusor-sphincter dyssinergia and LUTS correlates with more severe neurological impairment. The severity of neurological impairment correlates with QoL