Summary: | A modernização operada no Uruguai, constituída pela integração agro-industrial e pela formação de complexos agroindustriais, é um reflexo do que ocorreu nos países mais desenvolvidos na matéria. A agroindústria foi em grande parte a portadora das mudanças na agricultura, indicando quando, como, quanto e onde produzir e orientando as características técnicas e econômicas dos setores envolvidos. Essas mudanças geraram um processo de transformação de um sistema dominante de produzir e distribuir para um sistema que implica uma nova estruturação social, o que leva a transformações nas classes sociais agrárias e em seus padrões de conduta. Devido às características no uso dos recursos básicos, é possível ter-se na agricultura diversas combinações de fatores de produção e diferentes formas de organização social. Essas combinações de fatores, associadas a formas específicas de organização social, levam à formação de complexos culturais ligados à produção agrícola. As aludidas mudanças que se processaram na forma de produzir e na forma de adaptar-se à industrialização agrícola indicariam a emergência de uma nova forma de organização técnica, econômica, financeira, gerencial e cultural na produção agrícola. Essa nova organização e adaptação produtiva por parte dos agentes sociais da agricultura redimensiona seus problemas pois não os elimina, mas antes os coloca em outra dimensão pelo que se torna necessário redefiní-los. Entre esses agentes sociais envolvidos encontra-se o produtor familiar, o que leva a refletir sobre sua identidade conceitual no momento em que passa a fazer parte desse processo de modernização agrária. A questão central que nos propomos discutir pode ser resumida na seguinte pergunta: ?que dimensão e que fatores devem ser analisados dos agricultores familiares que formam parte de uma produção agrícola de perfil capitalista?? Entendemos que a existência de especificidades não pode ser encarada como atributo exclusivo da agricultura, a ponto de ser estudada como uma situação anômala da dinâmica capitalista. As especificidades existem para qualquer setor e são exatamente a razão dos diferentes comportamentos que, sem dificuldades, podem ser encontrados na economia capitalista. Nem as especificidades da agricultura devem ser encaradas como um problema do capital, nem tampouco têm utilidade analítica se consideradas apenas na sua dimensão mais geral, das condições naturais que escapam ao controle do capital. A agricultura não é um corpo único e de comportamento homogêneo. As especificidades dos diversos mercados agrícolas, essas sim importantes para se compreender a riqueza de situações, e as diferentes condições concorrenciais, e de contextos socio-culturais diferentes e ricos no conteúdo de elementos que fornecem explicações não econômicas do processo de modernização e os agricultores familiares, são detectáveis, mas cuja importância analítica parece ter sido esquecida em razão de toda a tradição da economia e da sociologia rural. Não se quer aqui ignorar o tratamento específico que devem ter os fenômenos sociais agrícolas, desde que não seja para construir uma teoria particular do capitalismo na agricultura.
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A modernização operada no Uruguai, constituída pela integração agro-industrial e pela formação de complexos agroindustriais, é um reflexo do que ocorreu nos países mais desenvolvidos na matéria. A agroindústria foi em grande parte a portadora das mudanças na agricultura, indicando quando, como, quanto e onde produzir e orientando as características técnicas e econômicas dos setores envolvidos. Essas mudanças geraram um processo de transformação de um sistema dominante de produzir e distribuir para um sistema que implica uma nova estruturação social, o que leva a transformações nas classes sociais agrárias e em seus padrões de conduta. Devido às características no uso dos recursos básicos, é possível ter-se na agricultura diversas combinações de fatores de produção e diferentes formas de organização social. Essas combinações de fatores, associadas a formas específicas de organização social, levam à formação de complexos culturais ligados à produção agrícola. As aludidas mudanças que se processaram na forma de produzir e na forma de adaptar-se à industrialização agrícola indicariam a emergência de uma nova forma de organização técnica, econômica, financeira, gerencial e cultural na produção agrícola. Essa nova organização e adaptação produtiva por parte dos agentes sociais da agricultura redimensiona seus problemas pois não os elimina, mas antes os coloca em outra dimensão pelo que se torna necessário redefiní-los. Entre esses agentes sociais envolvidos encontra-se o produtor familiar, o que leva a refletir sobre sua identidade conceitual no momento em que passa a fazer parte desse processo de modernização agrária. A questão central que nos propomos discutir pode ser resumida na seguinte pergunta: ?que dimensão e que fatores devem ser analisados dos agricultores familiares que formam parte de uma produção agrícola de perfil capitalista?? Entendemos que a existência de especificidades não pode ser encarada como atributo exclusivo da agricultura, a ponto de ser estudada como uma situação anômala da dinâmica capitalista. As especificidades existem para qualquer setor e são exatamente a razão dos diferentes comportamentos que, sem dificuldades, podem ser encontrados na economia capitalista. Nem as especificidades da agricultura devem ser encaradas como um problema do capital, nem tampouco têm utilidade analítica se consideradas apenas na sua dimensão mais geral, das condições naturais que escapam ao controle do capital. A agricultura não é um corpo único e de comportamento homogêneo. As especificidades dos diversos mercados agrícolas, essas sim importantes para se compreender a riqueza de situações, e as diferentes condições concorrenciais, e de contextos socio-culturais diferentes e ricos no conteúdo de elementos que fornecem explicações não econômicas do processo de modernização e os agricultores familiares, são detectáveis, mas cuja importância analítica parece ter sido esquecida em razão de toda a tradição da economia e da sociologia rural. Não se quer aqui ignorar o tratamento específico que devem ter os fenômenos sociais agrícolas, desde que não seja para construir uma teoria particular do capitalismo na agricultura.
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