Summary: | Entre dez e treze anos de idade, as crianças passam por um desenvolvimento físico e cognitivo acelerado, coincidindo com as mudanças nas relações interpessoais e uma importante transição escolar, do meio ao final do ensino fundamental. Estudos sobre esta transição investigam suas principais demandas e condições associadas. Com base na abordagem bioecológica do desenvolvimento humano, este estudo pretende investigar o impacto desse período de transição sobre o desempenho acadêmico, sintomas de estresse, habilidades sociais, autoconceito e satisfação da vida, levando em consideração o ambiente familiar (monitoramento parental e escolaridade materna), ambiente escolar (escore IDEB, tamanho da escola e local da escola) e a natureza da transição (com ou sem mudança escolar). A coleta de dados ocorreu em dois momentos: no 5º ano foram coletados dados de 415 alunos, e os dados do 6º ano foram coletados de 379 alunos (meninos e meninas). Instrumentos para avaliar o repertório infantil, o contexto de pares e familiares foram os seguintes: Prova Brasil; Escala de estresse infantil (ESI); Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS); Questionário para avaliação de autoconceito (SDQ1); Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Crianças (EMSV-C) e Questionário de Monitoramento Parental (QMP). Foram realizadas análises das qualidades psicométricas dos instrumentos, ANOVA unifatoriais, de medidas repetidas e mistas e regressões. Os resultados apontam para a diminuição do 5º para o 6º ano em indicadores positivos de funcionamento (habilidades sociais, autoconceito e satisfação com a vida) e na percepção do apoio parental, acompanhada de aumento do desempenho acadêmico e sintomas de estresse. Quanto aos grupos formados de acordo com as variáveis escolares, a família e o contexto de transição, observou-se que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) se destacou, no 5º e 6º ano, como fator associado ao desempenho, autoconceito e percepção do apoio parental. O monitoramento parental foi o fator mais associado às diferenças individuais em ambos os anos. A escolaridade materna apareceu no 6º ano como um importante fator de diferenciação, com achados atípicos em relação à literatura existente. O fator de transição foi associado a um maior número de diferenças entre os grupos no 5º ano, ao mesmo tempo em que expressou expectativas de transição, bem como a influência de trajetórias múltiplas entre o 5º e 6º ano. Os resultados das análises de regressão mostraram que o modelo proposto tinha maior poder preditivo para a leitura e realização matemática, sintomas de estresse e autoconceito, representando cerca de 30% da variância dessas variáveis no 6º ano. Para habilidades sociais, seu poder preditivo foi de 22% e para a satisfação da vida, foi ainda menor, apenas 11% da variação. Juntos, os resultados sugerem a presença de efeitos de mesossistema, com influência ativa da família no processo de transição e diversidade de desfechos, reiterando o caráter de desafio da transição ecológica que se configura na passagem do EFI ao EFII. Conclui-se, em consonância com o modelo bioecológico, que as crianças se sentem tanto melhor na transição quanto mais se percebam apoiadas por pessoas significativas no seu entorno. A transição pode ser percebida como um recomeço, uma oportunidade que as crianças têm de reescreverem sua própria história
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Between 10 and 13 years of age, children go through an accelerated physical and cognitive development, coinciding with changes in interpersonal relationships and an important school transition, from middle to late years of elementary school. Studies on this transition investigate its main demands and associated conditions. Based on the bioecological approach to human development, this study aims to investigate the impact of this transition period on academic achievement, stress symptoms, social skills, self-concept and life satisfaction, taking into account the family environment (parental monitoring and maternal schooling), the school environment (IDEB score, school size and school location) and the nature of the transition (with or without school change). Data collection took place in two moments: in 5th grade data were gathered from 415 students, and in 6th grade data were gathered from 379 students (both boys and girls). Instruments to evaluate the children\'s repertoire, peer and family context were the following: Prova Brasil; Child Stress Scale (ESI); Social Skills Assessment System (SSRS); Questionnaire for Self-Concept Evaluation (SDQ1); Multidimensional Scale of Life Satisfaction for Children (EMSV-C) and Parental Monitoring Questionnaire (QMP). Analyzes were performed regarding the psychometric qualities of the instruments, followed by one way and mixed repeated measures ANOVAs and regressions. Results point to the decrease from the 5th to the 6th year in positive indicators of functioning (social skills, self-concept and life satisfaction) and in the perception of parental support, accompanied by increasing academic achievement and symptoms of stress. As for the groups formed according to school variables, the family and the transition context, it was observed that the Basic Education Development Index (IDEB) stood out, in the 5th and 6th year, as a factor associated with performance, self-concept and perception of parental support. Parental monitoring was the factor most associated with individual differences in both years. The level of maternal schooling appeared in the 6th year as an important factor of differentiation, with atypical findings in relation to the existing literature. The transition factor was associated with a higher number of differences between groups in the 5th year, while it also expressed transition expectations, as well as the influence of multiple trajectories between the 5th and 6th grades. The results of regression analyses showed that the proposed model had greater predictive power for reading and mathematical achievement, stress symptoms and self-concept, accounting for about 30% of the variance of these variables in the 6th year. For social skills, its predictive power was 22% and for life satisfaction, it was even lower, accounting for only 11% of the variation. Together, results suggest the presence of mesosystem effects, with an active influence of the family in the transition process and its diverse outcomes, reconfiguring the transition from EFI to EFII as ecological in nature. One can conclude, in line with the bioecological model, that children perform and feel better in transition tasks when they perceive active support from significant people in their environment. Under appropriate support and guidance, the transition can be perceived as a fresh start, an opportunity for children to rewrite their own story
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