Femininos e masculinos no futebol brasileiro

O futebol é, indubitavelmente, parte integrante e simbólica de manifestações culturais de norte a sul do Brasil. Entretanto, mesmo sendo alvo do interesse e preocupação de milhões de brasileiros, nesta terra futebol é coisa de homem. É marcante desta “masculinização” da modalidade em nosso país...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Jorge Dorfman Knijnik
Other Authors: Esdras Guerreiro Vasconcelos
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2006
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-27032006-074510/
Description
Summary:O futebol é, indubitavelmente, parte integrante e simbólica de manifestações culturais de norte a sul do Brasil. Entretanto, mesmo sendo alvo do interesse e preocupação de milhões de brasileiros, nesta terra futebol é coisa de homem. É marcante desta “masculinização” da modalidade em nosso país o depoimento feito por René Simões (técnico medalhista de prata com a seleção brasileira feminina de futebol nos Jogos Olímpicos de Atenas - 2004): o escolado técnico pediu desculpas perante as câmeras de televisão para as suas filhas – é pai de três mulheres - por nunca tê-las presenteado com uma bola de futebol, nem as ensinado a jogar. Esta é uma realidade de muitas garotas brasileiras, que nunca tiveram a possibilidade de se iniciar nesta prática tão crucial na cultura nacional. Desta forma, o objetivo principal deste trabalho foi estudar as relações de gênero no futebol, tendo como pano de fundo as representações sociais das futebolistas que disputaram o Campeonato Paulista Feminino de Futebol de 2004. Pretendeu-se também avaliar quais as situações mais stressantes já vividas por estas atletas em suas carreiras, bem como contribuir com a formação de programas esportivos não – sexistas, onde meninas e meninos tenham os mesmos direitos a práticas esportivas educativas. Para atingir estes objetivos, empregou-se um referencial teórico embasado nas principais teorias sobre identidades de gênero, stress e direitos humanos, e por meio de observações de campo de viés etnológico, e também através de entrevistas estruturadas com 33 atletas entre 16 e 27 anos, as quais foram analisadas por meio da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo, descobriu-se que o preconceito é aquilo que mais marca a vida esportiva e a carreira destas atletas, interferindo em seu desenvolvimento esportivo, criando situações stressantes e mesmo afastando atletas do esporte. Sugere-se ao final que se invistam em novos programas de co-educação esportiva, sobretudo no futebol, para que se criem espaços solidários e de tolerância entre todos os seres humanos, numa perspectiva de pressionar pela mudança da ordem hierárquica de gêneros e por uma maior justiça social. === Undoubtedly, soccer is an integral symbolic part of cultural manifestations in every corner of Brazil. However, even though it is the main interest and concern of millions of Brazilians, in this country soccer is a man’s thing. The statement made by René Simões (silver medallist coach of the Brazilian women’s team in the 2004 Olympic Games of Athens) is typical of the “masculinization” of this modality in our country: in front of TV cameras, the seasoned coach apologized to his daughters—he is the father of three girls—for never having given them a soccer ball neither ever having taught them how to play. This is the reality of countless Brazilian girls, who have never had the chance to be initiated in such a pivotal practice in the national culture. The main objective of this study, therefore, was to study gender relations in soccer, having as a background the social representations of the women’s soccer team that played the 2004 Women’s Soccer Championship of the State of São Paulo. A further aim was to both evaluate the most stressing situations these athletes experienced in their careers and to contribute to the development of non-sexist sports programs where boys and girls have the same right to practice educational sports. To achieve these objectives, it employed a theoretical reference based on the main theories on gender identities, stress, and human rights, on field observations of ethnological bias, as well as on structured interviews with 33 athletes between 16 and 27 years of age. Through the analysis of this material, using the Collective Subject Discourse, it was found that bias is that which most strongly marks those athletes’ sports life and career, interfering in their sports development, generating stress situations and even shutting out many athletes from the practice of sports. At the end of this paper, it is suggested that investments be made in new coeducational sports programs, especially soccer, making possible a tolerant community of interests and objectives between all human beings in an endeavor to change the hierarchical order of genders and for the sake of greater social justice.