Summary: | Nas últimas décadas, estudos no campo da saúde coletiva confirmam condições desfavoráveis de saúde da população masculina. Tais condições são multideterminadas por fatores ambientais, biológicos e sociais que no âmbito da construção social das masculinidades produzem desfechos negativos na saúde da população masculina. Fatores como gênero, raça/etnia, classe social e geração, dentre outros, influenciam a forma como homens de diferentes faixas etárias lidam com o processo saúde/adoecimento e com o uso dos serviços de saúde. A classe social e o gênero são determinantes em saúde reconhecidamente estudados no campo da saúde, no entanto a categoria geração é pouco explorada e muitas vezes reduzida a uma análise etária e quantitativa. O presente estudo investigou se e como os fatores geracionais em articulação com gênero produzem, em homens de três cidades do Nordeste e de diferentes gerações, expressões de necessidades de saúde e modos distintos de lidar com ela. E, a partir daí, analisou o quanto tais diferenciais produzem variações no uso de serviços em atenção primária e no cuidado à saúde. Para alcançar estes objetivos a presente pesquisa analisou entrevistas coletadas com usuários, de 16 a 74 anos, em 04 serviços de atenção primária orientados pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), localizados na região Nordeste, nas cidades de Recife, Olinda e Natal. Estas entrevistas foram inicialmente coletadas no estudo multicêntrico sob o título \"Saúde da população masculina na atenção primária: tendência histórica e representações sobre necessidades, acesso e uso de serviços em cidades de quatro estados do Brasil (RN, SP, PE e RJ). Um total de 58 entrevistas audiogravadas e transcritas integralmente foram selecionadas e analisadas a partir dos fundamentados do método de interpretação de sentidos, baseado em princípios hermenêuticos-dialéticos que buscam interpretar o contexto, as razões e as lógicas de falas, ações e inter-relações entre grupos e instituições. A análise contempla os grupos geracionais de jovens (entre 16 a 29 anos), de adultos (entre 32 a 54 anos) e de idosos (entre 55 a 74 anos) que compartilham coletividades e experiências comuns relacionadas ao uso de serviços de saúde em atenção primária. Os resultados apresentaram informações relevantes sobre as formas como homens de diferentes grupos geracionais entendem a masculinidade e sua influência sobre os cuidados com a saúde e o uso de serviços, bem como a forma como estas masculinidades e as posições geracionais juntas podem amplificar as vulnerabilidades destes no campo da saúde. Os dados revelaram possíveis influências entre os contatos originais nos contextos de uso dos serviços de saúde que podem definir a forma como os homens lidam com os serviços de saúde ao longo da vida. As rupturas e as permanências que se relacionaram com o exercício das masculinidades diante dos processos de saúde-adoecimento foram apresentadas e discutidas de modo que a relação entre homens e atenção básica à saúde fosse compreendida em uma perspectiva geracional
===
During the last decades, studies in the field of collective health confirmed unfavorable health conditions of the male population. The health conditions are multi-determined by environmental, biological and social factors that, in the context of the social construction of masculinities, lead to negative outcomes in the health of the male population. Factors such as gender, race/ethnicity, social class and generation, among others, influence the way men of different age groups deal with the health-disease process and the use of health care. Social class and gender are health determinants widely studied in the health field. However, the generation category is not commonly explored and it\"s often reduced to a quantitative age centered analysis. This study investigated, in men from three Northeastern cities and from different generations, if and how the generational factors associated with gender cause expressions of health needs and different ways to deal with health. And, from this investigation, we analyzed how much those differentials cause variations in the use of primary care services and health care. To achieve these objectives, this research analyzed interviews made with users, aged 16 to 74, in 04 primary health care services organized by the Family Health Strategy (FHS) from the Northeast region, in the cities of Recife, Olinda and Natal. The interviews were initially collected during a multicenter study entitled \"Saúde da população masculina na atenção primária: tendência histórica e representações sobre necessidades, acesso e uso de serviços em cidades de quatro estados do Brasil (RN, SP, PE e RJ)\". A total of 58 audio-recorded and fully transcribed interviews were selected and analyzed based on the fundaments of the method of interpreting meanings, on the hermeneutical-dialectical principles that try to interpret the context, reasoning and logic of dialog, action and interrelationship between groups and institutions. The analysis contemplates the generational groups of young people (between the ages of 16 and 29), adults (between the ages of 32 and 54) and the elderly (between the ages of 55 and 74) who share collectivities and common experiences regarding the use of primary care health services. The results present relevant information about the ways in which men of different generation groups understand masculinity and its influence on health care and the use of services, as well as the way in which these masculinities and generational positions combined can amplify their vulnerabilities in the health field. The data reveal possible influences among the original contacts in the context of the use of health services that can define the way men deal with health services throughout life. The collapse and persistence of ideas that relate to the exercise of masculinity in the health-disease process are presented and discussed so that the relationship between men and basic health attention is understood under a generational perspective
|