Summary: | O presente trabalho investiga algumas repercussões que a perspectiva objetivante da ciência tem no ensino de ciências, no que diz respeito à relação homemnatureza. A ciência, que sustentou o progresso, também engendrou problemas absolutamente cruciais para o futuro da humanidade. Sua perspectiva objetivante, levada ao extremo, compôs uma forma de ver o mundo de maneira independente dos sentimentos humanos. Com a objetivação da visão de mundo, a relação homem-natureza se firma como uma relação de prepotência daquele sobre esta, ao mesmo tempo em que deixa o ser humano desamparado diante de uma natureza que não o contém. A racionalidade científica que legitimou tal visão de mundo, apagou a natureza por meio da negação da tradição, transformando-a em naturezaextensão, e fez surgir um sujeito do conhecimento que não tem história nem lugar. No contexto de uma natureza anônima, a relação do homem com esta é direcionada para a experiência EU-ISSO, que prescinde de qualquer envolvimento pessoal. Um dos caminhos para se retomar o vínculo relacional do homem com a natureza pode ser a reabilitação de saberes não científicos, que conformam maneiras outras de habitar o mundo e de se relacionar com a natureza. No ensino de ciências, a perspectiva objetivante da ciência é revelada na concepção absolutista que os professores tem da ciência, na desconsideração dos saberes dos estudantes e nos currículos que não tocam o viver cotidiano. Tal configuração praticamente encerra a possibilidade da aprendizagem das ciências pela maioria dos alunos, e por isso, o ensino de ciências pouco tem contribuído para a construção de uma relação positiva com a natureza. A abordagem cultural do ensino de ciências, que pressupõe reabilitar saberes outros, não científicos, pode ser uma alternativa viável para superar os efeitos da perspectiva objetivante no ensino e, por considerar a cultura dos alunos, pode contribuir para a construção da relação homem-natureza nos contextos culturais locais. Para tanto, faz-se necessário também reabilitar no ensino o lugar, como estratégia para consolidar identidades e práticas culturais integradas ao meio, em profundo envolvimento pessoal com a natureza.
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This research investigates some repercussions that the objectifying perspective of science has in science teaching regarding the man-nature relationship. Science, which sustained progress, has also engendered absolutely crucial issues for the future of humanity. The objectifying perspective, taken to its extremes, has a way of seeing the world independently of human feelings. With the objectification of the world\'s view, the man-nature relationship is established as a relation of oppression - man against nature, and at the same time, it leaves a helpless human being in face of a nature which he does not belong. The scientific rationality legitimizes the world\'s view, that excludes nature through the denial of tradition, turning it into natureextension, and raising a subject of knowledge that has no history or place. In the context of an anonymous nature, its relation to man is directed to the I-IT experience, which dismisses any personal involvement. A way to reclaim the relational bond between man and nature may be the rehabilitation of non-scientific knowledge, that expresses other ways of inhabiting and relating to the world and nature. In science teaching, the objectifying perspective of science is revealed in the teachers\' absolutist conception of science, in disregard to the students\' knowledge and curricula that does not consider the everyday life. This configuration practically closes the science learning potential of most students, and, therefore, the teaching of science has had little contribution to building a positive relationship with nature. The cultural approach of science teaching, which presupposes rehabilitate other sort of knowledge, not scientific, can be a viable alternative to overcome the effects of the objectifying perspective in teaching, and by considering the students\' culture it can contribute to the construction of man-nature relationship in local cultural contexts. Therefore, it is necessary to rehabilitate the place, in teaching, as a strategy to consolidate identities and cultural practices, integrated to the environment, in deep personal involvement with nature.
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