Representação social de mulheres/mães sobre as práticas alimentares de crianças menores de um ano

As práticas alimentares da criança menor de um ano trazem inúmeras particularidades que transcendem o biológico e, portanto requerem ser analisadas nas dimensões culturais, psicológicas, sociais e econômicas. Desta forma, buscou-se compreender quais as representações sociais das mulheres/mães so...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Juliana Stefanello
Other Authors: Ana Marcia Spano Nakano
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2008
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-25032008-165955/
Description
Summary:As práticas alimentares da criança menor de um ano trazem inúmeras particularidades que transcendem o biológico e, portanto requerem ser analisadas nas dimensões culturais, psicológicas, sociais e econômicas. Desta forma, buscou-se compreender quais as representações sociais das mulheres/mães sobre as práticas alimentares das crianças menores de um ano. Tratase de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida com 15 mulheres/mães de crianças menores de um ano e usuárias de um serviço da rede básica de saúde de Ribeirão Preto-SP. A coleta de dados foi através de entrevistas semi-estruturadas gravadas e transcritas na íntegra e registros de imagens do contexto social da alimentação da criança, fotografadas pelas mães. A coleta se deu após o consentimento livre e esclarecido, no domicílio dos sujeitos. O conteúdo foi categorizado com base na técnica de análise de conteúdo, modalidade temática, e as fotografias possibilitaram uma análise complementar. À luz das representações sociais na perspectiva socioantropológica, analisou-se como as mulheres, enquanto agentes do cuidado infantil, em especial da alimentação do filho, atuam nas diversas dimensões do \"espaço social alimentar\". Depreenderam-se quatro categorias temáticas: 1) O contexto de construção das práticas da alimentação infantil: a alimentação da família; 2) A alimentação da criança no primeiro ano de vida; 3) Pessoas tidas como referência para as práticas alimentares infantis e 4) A alimentação e a saúde da criança. A alimentação é a primeira socialização dos indivíduos, e a família é tradicionalmente o lócus no qual a aprendizagem social se dá, tendo os pais, particularmente as mães, a função de primeiros educadores alimentares. As mães fornecem os sentidos e ideologias que sustentam e determinam as decisões alimentares, desde o primeiro alimento recebido, o leite materno, até a introdução à comida da família. O comportamento alimentar da criança está delimitado por condicionantes fisiológicos, como as alternâncias de sensação de fome e saciedade, parâmetros esses manifestados pelas crianças, que guiam as condutas maternas na oferta do peito ao filho e na avaliação de sua capacidade como nutriz, evidenciando a necessidade de introduzir outro leite. Na alimentação complementar, o aspecto socioeconômico tem peso determinante na seleção dos alimentos, assim como o valor do alimento que deve ter vitaminas e que sustente a criança. A aceitação da comida, avaliada com base na quantidade ingerida, é entendida como uma preferência da criança, a qual guiará as condutas maternas futuras. Relacionam ainda a aceitação da comida como um comportamento esperado de uma criança saudável. O preparo dos alimentos infantis segue princípios que acreditam ser compatíveis com a fase de desenvolvimento da criança, sendo a textura e consistência valorizadas para evitar engasgos, e ao mesmo tempo encorpadas para garantir a sustância da criança. As práticas alimentares infantis se orientam por saberes que perpassam pela legitimidade do discurso científico e alcançam as subjetividades do conhecimento das mulheres do meio relacional, predominantemente de domínio feminino. A introdução precoce da comida da família, \"a mesma comida que a gente come, ele come\", é uma prática comum. Assim, as práticas alimentares demonstram estabelecer-se em um universo próprio que vai além do acesso à informação e das condições socioeconômicas, mas perpassam pelos desacordos existentes entre a prática declarada e a prática real, sendo guiadas pelas representações da comida como fonte de saciedade, evitando a fome, dando sustância e deixando a criança com o corpo forte e saudável. === The feeding practices of children under one year of age take on innumerable particularities that transcend the biological aspect, and, therefore, should be analyzed according to the cultural, psychological, social, and economic dimensions. Hence, the aim of this study was to understand what social representations that women/mothers have toward the feeding practices of children under one year of age. This is a qualitative study, developed with 15 women/mothers of children under one year of age, users of a public health service in the city of Ribeirão Preto, São Paulo State. Data collection was performed using semi-structured interviews, which were recorded and fully transcribed, in addition to photographs of the child\'s social context in feeding, provided by the mothers. This process took place after receiving consent from the participants at their households. The content was categorized based on content analysis technique, thematic mode, and the photographs allowed for a complementary analysis. Considering the social representations from the social-anthropologic perspective, the authors analyzed how women, as child care agents, particularly regarding their child\'s feeding practices, act in the various dimensions of the \"social feeding environment\". Four thematic categories emerged: 1) The context of constructing child feeding practices: feeding the family; 2) Child feeding in the first year of life; 3) People considered as a reference for child feeding practices, and 4) Child feeding and health. Eating is a person\'s first socialization experience, and the family is traditionally the location where social learning takes place. Therefore, parents, particularly mothers, have the role of being the first eating educators. Mothers provide the senses and ideologies that support and determine feeding decisions, from the first food provided, breast milk, to the introduction of food in the family. The child\'s eating behavior is limited by physiological conditionings, such as alternations between feelings of hunger and satiation. Children demonstrate these parameters, and guide the mother\'s act of offering her breast to her child and of evaluating her capacity of nursing, which may raise the need of introducing another milk. In complementary feeding, the socioeconomic aspect determines the selection of foods and the value assigned to the food that has the vitamins needed to feed the child. The acceptance of food, evaluated based on the amount consumed, is understood as the being a child\'s preference, and will guide the mother\'s behaviors in the future. Furthermore, there is an assumption that accepting food is a behavior expected in healthy children. The preparation of child food follows principles that believe to be compatible with the child\'s stage of development, in which texture and consistency are considered to avoid chocking, but are also made thick to assure child nourishment. Child feeding practices are guided by knowledge that skims over the legitimacy of scientific discourse and reaches the subjectivity of the knowledge of women in the relational environment, one that is mainly of feminine domain. The early introduction to family food, \"he eats the same food we eat\" is a common practice. Thus, feeding practices are established in their own universe, which goes beyond access to information and socioeconomic condition. However, they are also subject to the disagreement existing between the declared practice and the real practice, and are guided by the representations of food as a source of satiation, avoiding hunger, providing nourishment, and making the child strong and healthy.