Avaliação clínica de crianças de 0 a 36 meses com febre sem sinais localizatórios

Introdução: A febre sem sinais localizatórios é definida como presença de febre de até 7 dias de duração, sem identificação da causa após anamnese e exame físico detalhados. A maioria destas crianças apresenta doença infecciosa aguda autolimitada ou está em fase prodrômica de uma doença infeccio...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Beatriz Marcondes Machado
Other Authors: Ana Maria de Ulhoa Escobar
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2010
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5141/tde-22062010-113213/
Description
Summary:Introdução: A febre sem sinais localizatórios é definida como presença de febre de até 7 dias de duração, sem identificação da causa após anamnese e exame físico detalhados. A maioria destas crianças apresenta doença infecciosa aguda autolimitada ou está em fase prodrômica de uma doença infecciosa benigna. Poucas têm infecção bacteriana grave: bacteremia oculta, pneumonia oculta, infecção urinária, meningite bacteriana, artrite séptica, osteomielite ou celulite. Embora a febre seja uma das queixas mais comuns nos serviços de emergência, a abordagem da criança febril permanece controversa. Objetivos: avaliar a aplicabilidade de um protocolo padronizado para o atendimento e seguimento das crianças até 36 meses de idade com febre sem sinais localizatórios e analisar os fatores de risco para infecção bacteriana grave nestas crianças. Métodos: estudo prospectivo em crianças até 36 meses de idade que procuraram o pronto socorro do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, com quadro de febre sem sinais localizatórios, durante o período de um ano (junho/2006 a maio/2007). As crianças foram atendidas conforme protocolo que estratifica o risco de infecção bacteriana grave de acordo com a presença ou não de toxemia, idade e valor da temperatura. Conforme a avaliação de risco, indicava-se triagem laboratorial (hemograma, hemocultura, sedimento urinário, urocultura e, se necessário, radiografia torácica, liquor e coprocultura). Os fatores de risco para infecção bacteriana grave estudados foram: sexo, idade, presença de toxemia, temperatura, número total de leucócitos, número total de neutrófilos e número total de neutrófilos jovens. Resultados: Foram seguidas 215 crianças, sendo 111 (51,6%) do sexo feminino. A média de idade foi de 11,85 meses (DP ± 8,91). Vinte crianças, na avaliação inicial, apresentavam algum grau de toxemia, e 195 estavam em bom estado geral. Nas crianças de 3 a 36 meses não toxêmicas, 95 tinham temperatura axilar >39ºC. Em 107 crianças (49,8%), houve melhora espontânea do quadro febril; em 88 (40,9%), foi identificada doença benigna autolimitada; e em 20 (9,3%), infecção bacteriana grave. Dentre as infecções bacterianas graves, identificou-se 16 infecções urinárias, três pneumonias e uma bacteremia oculta. Das 215 crianças, 129 (60%) não receberam qualquer antibioticoterapia, e 86 receberam antibiótico em algum momento. O antibiótico empírico foi mantido por, em média, 72 horas. Na análise univariada, dos fatores utilizados para estratificação de risco para infecção bacteriana grave, apresentaram níveis descritivos inferiores a 0,05 a temperatura >39oC, o número total de leucócitos >15.000/mm3 e >20.000/mm3 e o número total de neutrófilos >10.000/mm3. Na análise multivariada apenas o número total de neutrófilos >10.000/mm3 mostrou-se estatisticamente significante. Conclusão: o protocolo aplicado mostrou-se adequado para o atendimento e seguimento destas crianças utilizando para busca de infecção bacteriana grave exames simples e passíveis de serem realizados na maioria dos serviços. A maioria das crianças apresentou resolução espontânea do quadro de febre. Todas as infecções bacterianas graves foram identificadas, sendo a infecção urinária a mais comum. Dentre os fatores de risco o número total de neutrófilos >10.000/mm3 associou-se de maneira estatisticamente significante com infecção bacteriana grave, tanto na análise univariada como na multivariada. === Introduction: Fever without localizing signs is defined as the presence of fever of up to 7 days duration, without identifying the cause after history and physical examination. Most of these children presented self-limited acute infectious disease or is in the prodromal phase of a benign infectious disease. Few have serious bacterial infection: occult bacteremia, occult pneumonia, urinary tract infection, bacterial meningitis, septic arthritis, osteomyelitis or cellulitis. Although fever is a common complaint in emergency departments, the approach to febrile children remains controversial. Objectives: To evaluate the applicability of a standardized guideline for the management of children up to 36 months of age with fever without localizing signs and examine the risk factors for serious bacterial infection in these children. Methods: Prospective study involving children up to 36 months of age with fever without localizing signs treated at the emergency department of Hospital Universitário, Universidade de São Paulo, Brazil, from June 2006 to May 2007. The children were treated according to the guideline that classifies the risk of serious bacterial infection according to the presence or absence of toxemia, age and temperature. The laboratory screening was based on risk assessment (blood test, blood culture, urine sediment, urine culture and, if necessary, chest radiograph, cerebrospinal fluid and stool culture). Risk factors for severe bacterial infection were studied: sex, age, presence of toxemia, temperature, total number of leukocytes, total number of neutrophils and total number of young neutrophils. Results: We studied 215 children, 111 (51.6%) females. The mean age was 11.85 months (SD ± 8.91). Toxemia was found in 20 children, and 195 were well-appearing. Among the children from 3 to 36 months without toxemia, 95 had axillary temperature >39ºC. In 107 (49.8%) children, there was spontaneous resolution of fever; in 88 (40.9%), benign self-limited disease was identified; and in 20 (9.3%), there was serious bacterial infectious. Among the serious bacterial infections, we identified 16 urinary infections, three cases of pneumonia and one occult bacteremia. Of the 215 children, 129 (60%) received no therapy, and 86 received antibiotics at some point. Empirical antibiotic treatment was maintained for an average of 72 hours. The temperature >39°C, the total number of leukocytes >15.000/mm3 and >20.000/mm3 and the total number of neutrophils >10,000/mm3 were statistically significant (p<0,05) in univariate analysis of the factors used for risk stratification for serious bacterial infection. In multivariate analysis only the total number of neutrophils >10.000/mm3 was statistically significant. Conclusion: The guideline was shown to be appropriate to follow up these children using simple laboratory tests that can be carried out at most health facilities. Most of the children had spontaneous resolution of fever. All serious bacterial infections were identified, and the urinary tract infection was the most common. Among the risk factors studied the total number of neutrophils >10.000/mm3 was statistically significant with serious bacterial infection in both, univariate and multivariate analysis.