Summary: | A passagem dos séculos I e II d.C. assistiu ao desenvolvimento de um cristianismo dinâmico na província romana da Ásia Proconsular, na costa egeia da Ásia Menor. Concomitante à ascensão política e econômica da região no contexto do Mediterrâneo em pleno Alto Império Romano, as comunidades cristãs locais apresentam um prolífico quadro doutrinal e ritual, o qual lhes confere destaque e as torna destinatárias da maior parte do curto epistolário de um personagem histórico tão marcante quanto enigmático: Inácio de Antioquia, que afirma ser o supervisor da igreja presente na grande metrópole síria, e que passa pela Ásia acorrentado a um pelotão de soldados, rumo à capital romana, para lá ser supostamente executado na arena. As cartas de Inácio sugerem a existência, em comunidades presentes em centros urbanos importantes da província, de um corpo de líderes fixos, dentre os quais destacando-se a figura de um único supervisor, do qual o prisioneiro defende a autoridade sobre todos os cristãos de uma mesma cidade. Uma análise de documentos datados de antes da composição do breve epistolário inaciano não oferece, contudo, bases para a afirmação de uma perenidade de tal forma de governo das comunidades cristãs asiáticas. Ao invés, uma leitura atenta das fontes aponta para um processo social de ligeira alteração dos referenciais de autoridade, de modo que, sobretudo após a morte do apóstolo Paulo de Tarso (principal fundador do cristianismo na Ásia Proconsular), um valor singular é dado a líderes homens que sejam reconhecidos publicamente como bons chefes de households. Nesse processo Inácio de Antioquia procura tomar parte, de modo a solidificar a autoridade do supervisor por meio de um incremento do alcance de seu controle social: ele prega, com autoarrogada autoridade profética, que o encarregado da supervisão da comunidade seja visto como a própria representação da figura divina e patriarcal de Deus Pai, e que apenas sob ele uma reunião ritual pode ser considerada válida.
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The transit from the first to the second century CE saw the development of a dynamic Christianity in the Roman province of Asia Proconsularis, on the Aegean Asia Minor coast. Concomitant to the political and economic ascension of the region in the context of the Mediterranean, in plain Early Roman Empire, the local Christian communities show a prolific doctrinal and ritual frame, which give them highlighted status, and make them the recipients of most of the short epistolary of a historical character so outstanding as enigmatic: Ignatius of Antioch, who claims to be the overseer of the church in the great Syrian metropolis, and which goes through Asia bonded to a band of soldiers in way to the Roman capital, where he should, supposedly, be executed in the arena. The letters of Ignatius suggest the existence, in communities existent in the provinces main urban centers, of a group of fixed leaders, from which is detached the figure of the sole overseer. This overseers authority, the prisoner says, is extended over all the Christians living in a same city. However, an analysis of the documents dated from before the composition of the short Ignatian epistolary, do not offer basis to the affirmation of perennial status of such a way in governing the Asiatic Christian communities. To the contrary, a careful reading of the sources directs to a slight social process of change in the references of authority, in such a way that, especially after the death of the apostle Paul of Tarsus (main founder of Christianity in Asia Proconsularis), a special value is given to men leaders publicly recognized as good household chiefs. Ignatius of Antioch attempts to have a part in this process with the aim of solidifying the authority of the overseer by incrementing the range of his social control; he preaches, with selfproclaimed prophetic authority, that the one charged with community overseeing should be seen as the very representation of the divine and patriarchal figure of God the Father, and that only under him a ritual reunion could be considered as valid.
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