Summary: | A região central da cidade de São Paulo, a partir da flexibilização econômica dos anos 1990, tornou-se espaço de conflitos entre o desejo de permanência da população de menor renda e os interesses por uma nova frente de valorização imobiliária. Os reveses sentidos pelos movimentos sociais organizados e o recente afluxo de recursos internacionais no mercado imobiliário parecem negar qualquer possibilidade de atuação de sujeitos políticos, enquanto consolida a hegemonia do pensamento neoliberal de que não há alternativas além da ordem já colocada. Do mesmo modo as análises sociais urbanas produzidas a partir da mobilização social dos anos 1980, marcadas por uma visão industrial, se muito avançou na compreensão dos processos sociais de produção do urbano, pouco permite visualizar quanto aos nexos que contribuam para a superação de um quadro crescente de fragmentação social. Apesar desta conjuntura urbana, as contradições dessa mesma produção social permitem a permanência do uso da centralidade urbana do Glicério pelos catadores de materiais recicláveis. Esse que parece existir somente como mero produto social residual, junto à interpretação de Lefebvre sobre a produção do espaço como parte da reprodução das relações sociais de produção, mostra-se como uma experiência que tem reformulado representações centrais do fetiche da mercadoria. Permite-nos assim ampliar o olhar para além da visão industrial e das relações de produção da mais-valia, bem como dos determinantes da institucionalização do Estado. Pelo olhar urbano, uma coesão social diferencial mostra-se possível como práxis urbana, reabrindo o horizonte dos possíveis, na prática e na teoria.
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Since the 1990s, economic flexibility has transformed the central region of the city of São Paulo in an area of conflict. On one side there is low-income residents desire for permanence, on the other side there are real estate market interests in a new valorization frontier. Setbacks experienced by organized social movements and the recent influx of international capital in the housing market seem to deny any possibility of action for political subjects. These factors also seem to consolidate the hegemony of neoliberal thinking as subjects are left with no alternative to the order already in place. Marked by an industrial view, current and increasing urban social analysis on the social mobilization processes of the 1980s allow us a clear understanding of the social production of the city. Nevertheless, these accounts do not contribute to overcoming the increasing social fragmentation perceived in the city. Despite these factors, the contradictions of the social production of this urban space enable collectors of recyclable materials the permanent use of the urban centrality of the Glicério area. This use seems to exist only as a mere residual social product. Nevertheless, in Lefebvres account on the production of space as part of the reproduction of social relations of production, the use of Glicério by collectors shows up as an experience that has reshaped the central representations of the commodity fetish. This perspective on the use of this urban space allows us to view beyond industrial relations and the production of surplus value, as well as the determinants of state institutionalization. Through this urban point of view, a differential social cohesion shows up as a possible urban praxis, reopening the horizon of the possible, in practice and theory.
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