Experiências de mulheres usuárias de profilaxia pós-exposição sexual ao HIV (PEP sexual): cenários pessoais e programáticos para a prevenção da aids

INTRODUÇÃO: No Brasil, mais de 13700 novos casos de aids são registrados em mulheres anualmente, principalmente por transmissão sexual. Na última década, se ampliaram as opções de métodos de prevenção do HIV disponíveis no país baseados no uso profilático de medicamentos antirretrovirais (ARV) p...

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Bibliographic Details
Main Author: Dulce Aurelia de Souza Ferraz
Other Authors: Vera Silvia Facciolla Paiva
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2018
Subjects:
HIV
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-21032019-104112/
Description
Summary:INTRODUÇÃO: No Brasil, mais de 13700 novos casos de aids são registrados em mulheres anualmente, principalmente por transmissão sexual. Na última década, se ampliaram as opções de métodos de prevenção do HIV disponíveis no país baseados no uso profilático de medicamentos antirretrovirais (ARV) por pessoas expostas ao vírus. Questiona-se como dimensões psicossociais, culturais e programáticas da prevenção do HIV interferirão no uso dessas tecnologias. Esta tese busca compreender o processo de decisão e a experiência de uso da profilaxia pós-exposição (PEP sexual) ao HIV por mulheres que buscaram este método preventivo em serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). MÉTODOS: Os dados foram coletados como parte de um ensaio clínico pragmático intitulado Estudo Combina!, realizado em serviços de saúde especializados em HIV/Aids localizados em São Paulo, Fortaleza, Ribeirão Preto, Porto Alegre e Curitiba. Foram realizadas observações diretas da oferta da PEP sexual e entrevistas semiestruturadas com mulheres que buscaram a profilaxia nos serviços. A análise dos dados foi guiada por princípios hermenêutico-dialéticos, à luz das teorias construcionistas da sexualidade articuladas ao quadro conceitual da vulnerabilidade e dos direitos humanos (V&DH). As unidades de análise foram as cenas sexuais e as dinâmicas do Cuidado nos serviços de saúde. RESULTADOS: Dezessete mulheres aceitaram participar voluntariamente do estudo. As entrevistadas tinham experiência prévia de uso de preservativo e apenas duas não haviam se protegido nas cenas sexuais que as levaram à PEP. Para as demais, a busca resultou de falha do preservativo em relações que aconteceram em cenários de sexo casual, de trabalho sexual ou de relações sorodiferentes. Nos dois primeiros cenários, a falta intimidade e a indiferença dos parceiros frente ao acidente contribuíram para a decisão das mulheres de buscarem a PEP e contrastaram com a intimidade e a solidariedade que caracterizaram as interações nos cenários de sorodiferença. Quatro entrevistadas conheciam a profilaxia antes do acidente, informadas principalmente por pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA), serviços de saúde, profissionais do sexo e internet. Conhecer e usar PEP sexual não resultou na intenção de substituir o uso do preservativo pela profilaxia. As entrevistadas valorizaram a possibilidade de acessar um método eficaz em serviços públicos de saúde, onde se sentiram acolhidas e respeitadas. Aderir ao tratamento profilático exigiu superar efeitos adversos e consequências psicossociais de tomar os ARV, sobretudo o medo de ser discriminada como uma PVHA, que fez com que as entrevistadas mantivessem o uso da PEP sexual em segredo. CONCLUSÕES: Nos diferentes cenários, as cenas sexuais que levaram à PEP foram atravessadas por scripts de gênero e estigmas da sexualidade, que estruturaram a dinâmica das negociações sexuais e as reações das entrevistadas e de seus parceiros frente aos acidentes com o preservativo. O estigma da aids é expressivo nesses cenários que estruturam as experiências de uso da PEP sexual, contribuindo para mantê-la pouco conhecida e dificultando seu uso no cotidiano. Sugerem-se investimentos na divulgação da disponibilidade da PEP sexual no SUS, no aprimoramento da qualificação dos serviços com base no referencial do Cuidado e em intervenções estruturais para mitigar o estigma da aids e a desigualdade de gênero, a fim de promover e proteger os direitos humanos das mulheres, cuja violação produz cenários de maior vulnerabilidade para o HIV === INTRODUCTION: In Brazil, more than 13,700 new cases of AIDS are registered among women annually, due mainly to sexual transmission. In the last decade, the availability of HIV prevention methods based on the prophylactic use of antiretroviral drugs (ARVs) by people exposed to the virus have increased in the country. Questions are raised regarding how psychosocial, cultural and programmatic dimensions of HIV prevention will interfere in the use of these technologies. This thesis aims to understand the decision making process and the experience of using post-exposure prophylaxis after sexual exposure to HIV (nPEP) by women who sought this preventive method in the Brazilian Health System (SUS). METHODS: Data were collected as part of a pragmatic clinical trial entitled Combina! Study, conducted in HIV/AIDS specialized health facilities located in São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Ribeirão Preto and Curitiba. Direct observations of nPEP services and semi-structured interviews with women seeking the prophylaxis in the facilities were performed. Data analysis was guided by hermeneutic-dialectical principles, oriented by social constructionism theories of sexuality, articulated to the conceptual framework of vulnerability and human rights (V&DH). The units of analysis were the sexual scenes and the dynamics of Care in the health services. RESULTS: Seventeen women voluntarily agreed to participate in the study. Interviewees had previous experience with condoms, and only two had not protected themselves in the sexual scenes that led them to nPEP. For the others, the search resulted from condom failure during sexual intercourses that happened in scenarios of casual sex, sex work or serodifferent relationships. In the first two scenarios, the lack of intimacy with the partners and their indifference to the accident contributed to the women\'s decision to seek nPEP, contrasting with the intimacy and solidarity that characterized the interactions in the serodifference scenarios. Four interviewees were aware of the prophylaxis prior to the accident, mainly informed by people living with HIV/AIDS (PLWHA), health services, sex workers and the Internet. Knowing and using nPEP did not result in the intention to replace condom use with the prophylaxis. The interviewees valued the possibility of accessing an effective prevention method in public health services, where they felt welcomed and respected. Adhering to nPEP required overcoming adverse effects and psychosocial consequences of taking ARVs, especially the fear of being discriminated against as a PLWHA, which made the interviewees keep the use of nPEP in secret. CONCLUSIONS: In the different scenarios, the sexual scenes that led to the nPEP were crossed by gender scripts and stigmas of sexuality, which structured the sexual negotiation dynamics and the reactions of the interviewees and of their partners towards the accidents with the condom. The stigma of AIDS is expressive in these scenarios that structure the experiences of using nPEP, contributing to keep it little known and making its use difficult in daily life. We suggest investments to be made in publicizing the availability of nPEP in the SUS, in improving qualification of nPEP services based on the framework of Care and in structural interventions to mitigate AIDS stigma and gender inequality in order to promote and protect women\'s human rights, which violation produces scenarios of higher vulnerability to HIV