Summary: | A Geometria relaciona-se, desde as origens mais remotas, com medidas de comprimentos, áreas e volumes, com o estudo das formas e das representações do espaço. Tanto em sentido geométrico quanto em sentido geográfico, no entanto, a ideia de espaço tem sofrido considerável ampliação, conquistando, atualmente, lugar de destaque em terrenos que abrangem desde as tecnologias informáticas, com suas redes de significados e seus lugares virtuais, até as mais recentes caracterizações de espaço em sentido antropológico, como sistemas de proximidades. Paralelamente a tais fatos, a Geometria, que foi o primeiro ramo do conhecimento a ser organizado e apresentado como um sistema dedutivo, por meio do gigantesco trabalho de Euclides(300aC), inspirou sistematizações correlatas, como as realizadas por Newton(séc. XVII) no terreno da Mecânica, e Spinoza(séc. XVII) no terreno da Ética. De modo geral, o estudo da Geometria como representação do espaço serviu de modelo para a organização do conhecimento em todas as áreas. Com a consolidação da ideia de que conhecer algo é compreender o seu significado, construído sempre a partir de representações, um deslocamento das atenções ocorreu do conhecimento geométrico como estudo das representações do espaço para o estudo do conhecimento, em geral, como um estudo de diferentes espaços de representações. Este trabalho tem por objetivo principal explorar o paralelismo entre o espaço geométrico e o espaço de significações. Levando-se em consideração as transformações ocorridas na noção de espaço, bem como o fato de que ideias de distância e proximidade não se limitam mais à distância física, os sentidos epistemológico e antropológico de tais transformações foram examinados em trabalhos seminais como a notável síntese presente na epistemologia de Tung-Sun(1986), os modos de fazer mundos de significações de Goodman(1995), a articulação entre Tecnologia e Antropologia realizada por Lévy(2011), ao vislumbrar os sucessivos espaços Terra, Território, Mercadorias, Saber, e o provocador questionamento sobre o sentido da vida apresentado por Flanagan(2007). Um destaque especial merece o fecundo trabalho de Bruner(2002), com o recurso ao instrumento mais fundamental para a construção simbiótica de significados e valores: as narrativas. Particularmente no caso de Flanagan, sua incursão do terreno da Ética é a principal baliza que orientou a busca das necessárias implicações do que aqui se discutiu no terreno da Educação. Ao propor as seis dimensões que considera invariantes de um Espaço de Significações para o século XXI (Arte, Ciência, Tecnologia, Ética, Política e Espiritualidade), Flanagan abre espaço para a proposta final do trabalho: entre as dimensões, vemos uma como mais fundante que as demais, por ser necessária à construção de uma vida realmente significativa: a Ética. É fundamental, então, voltar as atenções para a possibilidade de articulação do espaço Terra com o espaço do Saber, que é o espaço do conhecimento associado à ideia de valor. Somente uma perspectiva ética pode nos fazer articular o primitivo espaço Terra, que nos acolheu como nômades, com o espaço que resulta da consciência e da sabedoria de que o planeta que habitamos é nosso lar comum.
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Geometry relates, from the remotest origins, measures of length, area, and volume to the study of shapes and the representations of space. In both a geometrical and a geographical sense, however, the idea of space has undergone considerable expansion, reaching a prominent place which ranges from information technology, with its network of meanings and its virtual places, to the most recent characterizations of space in an anthropological sense, as proximity systems. Alongside those facts, geometry, the first branch of knowledge to be organized and presented as a deductive system through the colossal work of Euclid (300B.C.), inspired related systematizations as those held by Newton (17th c.) in the field of mechanics, and Spinoza (17th c.) in the field of ethics. In general, the study of geometry as representation of space served as a model for the organization of knowledge in all areas. With the consolidation of the idea that knowing something is to understand its meaning, always constructed from representations, a shift of attention occurred from the geometrical knowledge as the study of the representations of space, to the study of knowledge in general, as a study of different space representations. This work has a main objective to explore the parallels between the geometric space and the space of meaning. Taking into account the changes that occurred in the notion of space as well as the fact that distance and proximity ideas are no longer limited to the physical distance, the epistemological and anthropological senses of such transformations were examined in seminal works, such as the remarkable synthesis present in Tung-Suns epistemology (1986); the making of meaningful worlds by Goodman (1995); the articulation between Technology and Anthropology held by Lévy (2011); to glimpse the successive spaces Earth, Territory, Commodity, Knowledge; and the provocative question about the meaning of life presented by Flanagan (2007). The fruitful work of Bruner (2002) deserves a special mention, for the use of the most fundamental tool for symbiotic construction of meanings and values: the narratives. Particularly in the case of Flanagan, his incursion in the field of ethics was the main goal that guided the search of the necessary implications of what was discussed in the field of education. In proposing the six dimensions to consider the invariants of a Space of Meaning for the twenty-first century (Art, Science, Technology, Ethics, Politics and Spirituality), Flanagan makes room for the final draft of the work: among those dimensions, we see one as being more foundational than the others, because it is necessary to build a truly meaningful life: Ethics. It is essential, then, to turn our attention to the possibility of articulation of the Earth space with the space of Knowledge, which is the area of knowledge associated with the idea of value. Only an ethical perspective can make us connect the primitive Earth space, which welcomed us as nomads, with the space resulting from the awareness and wisdom of realizing that the planet we inhabit is our common home.
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