Morfometria cerebral e imagens de tensores de difusão da microestrutura de substância branca em homens para mulheres transexuais antes e durante o processo transexualizador

INTRODUÇÃO: A disforia de gênero (GD) refere-se à incongruência entre o sexo de nascimento versus como ele é percebido e manifestado no comportamento do indivíduo, o que vem acompanhado por sofrimento. Em relação à transexualidade, tem-se sugerido que o cérebro não segue o mesmo padrão que o res...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Giancarlo Spizzirri
Other Authors: Carmita Helena Najjar Abdo
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2016
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-18112016-123020/
Description
Summary:INTRODUÇÃO: A disforia de gênero (GD) refere-se à incongruência entre o sexo de nascimento versus como ele é percebido e manifestado no comportamento do indivíduo, o que vem acompanhado por sofrimento. Em relação à transexualidade, tem-se sugerido que o cérebro não segue o mesmo padrão que o resto do corpo, pois há evidências de que determinadas regiões cerebrais nas mulheres transexuais (MT) - sexo biológico masculino - são parecidas com as mulheres sem GD. Estudos por imagens de ressonância magnética (RMI) têm investigado a morfometria cerebral pela técnica baseada no voxel (VBM), e pela técnica por tensores de difusão (DTI) - que avalia a microestrutura da substância branca (SB); essas pesquisas têm constatado diversas regiões com diferenças de volume da substância cinzenta (SC) e da SB por VBM, assim como alterações da microestrutura da SB por DTI, entre os sexos. OBJETIVOS: Investigar alterações volumétricas da SC e SB por VBM, e da microestrutura da SB por DTI, em quatro grupos de indivíduos. MÉTODOS: Uma amostra de 80 indivíduos foi analisada, sendo: 20 MT com GD sem uso de esteroides sexuais e 20 MT com GD em uso de esteroides sexuais, há, pelo menos, um ano (MTC); 20 homens e 20 mulheres (grupos-controle). Todos realizaram o exame de ressonância magnética em um aparelho de 1.5T. Nesse exame, duas sequências de imagens foram obtidas: (1) imagens ponderadas em T1 para a análise da VBM, processadas conforme o protocolo DARTEL, e (2) imagens ponderadas em difusão, processadas pelo TBSS (Tract-Based Spatial Statistics) com a finalidade de adquirir os valores da anisotropia fracionada (AF). A análise estatística, para ambos os métodos, foi conduzida pelo Statistical Parametric Mapping (SPM), versão 8. As comparações entre os grupos realizaram-se pela análise de covariância (ANCOVA), modelo disponível no SPM. Em seguida, aplicaram-se testes post-hoc para as comparações entre dois grupos, com o objetivo de investigar diferenças de volume. Pesquisaram-se regiões de interesse a priori definidas em estudos morfométricos e por DTI sobre o dimorfismo sexual, e em pesquisas com MT. Foram reportados os resultados pressupostos a priori, assim como os não previsíveis, que resistissem a um limiar estatístico com p<=0,05, corrigido para múltiplas comparações (Family Wise Error/FWE). Outro critério adotado foi que regiões com, no mínimo, 30 voxels, seriam citadas. RESULTADOS: Verificou-se pela VBM: (i) aumento de volume da SC na área de Brodmann 6 nas MTC; (ii) regiões com diminuição do volume da SC na ínsula, em ambos os hemisférios cerebrais, nas MT; (iii) aumento do volume do joelho do corpo caloso nos indivíduos que compartilham a identidade de gênero feminina. Observou-se por DTI: diminuição nos valores da AF no fascículo longitudinal superior (FLS) direito e no corpo do corpo caloso das MTC. CONCLUSÃO: diferenças significativas de volumes regionais cerebrais avaliados pela VBM foram detectadas nos grupos das MT em relação aos controles. As alterações de volume cerebral nas MTC sugerem uma possível influência dos esteroides sexuais na neuroplasticidade cerebral. Há indícios de feminização nos cérebros das MT, mais evidente no CC, e, mais sutilmente, no córtex posterior superior frontal. O padrão de alterações de volume da SC na ínsula em dois grupos MT independentes pode ser um marcador da transexualidade e/ou ser um correlato cerebral do sofrimento associado com esta condição. A redução no valor AF no FLS direito sugere associação com a GD === INTRODUCTION: Gender Dysphoria (GD) is the incongruence between sex at birth versus its perception and manifestation through individual behavior, and the suffering it is accompanied by. As for transsexuality, it has been suggested that the brain does not follow the same pattern as the rest of the body, since evidence has shown that certain brain regions in transsexual women (TW) - male biological sex - are similar to those in women with no GD. MRI-based studies have investigated brain morphometry through voxel based technique (VBM) and diffusion tensor imaging (DTI) to evaluate the microstructure of white matter (WM). Those studies have verified a number of regions with gray matter (GM) and white matter (WM) volume differences, as well as changes in the microstructure of WM through DTI between genders. OBJECTIVES: to investigate GM and WM volume changes through VBM, as well as the microstructure of WM through DTI in four groups of individuals. METHODS: A sample of 80 individuals was analyzed, as follows: 20 TW with GD not on sexual steroids, and 20 TW with GD on sexual steroids for at least one year (TWh), 20 men and 20 women (control groups). All were submitted to MRI in 1.5T equipment. Two image sequences were obtained from that exam: (1) T1 weighted images for VBM analysis in compliance with DARTEL protocol; and (2) diffusion weighted imaging through TBSS (Tract-Based Spatial Statistics) to obtain fractional anisotropy (FA). In both methods statistical analysis was conducted through Statistical Parametric Mapping (SPM), Version 8. Comparisons between groups were conducted through covariance analysis (ANCOVA), available on SPM. Post-hoc tests were then applied to investigate volume differences. Regions of interest were analyzed after having been a priori defined through morphometric studies and DTI for sexual dimorphism and research work with TW. A priori presupposed, as well as non-predictable, results were reported to resist the statistical threshold of p<=0.05, corrected for multiple comparisons (Family Wise Error/FWE). Another criterion was that regions with at least 30 voxels would be mentioned. RESULTS: VBM showed: (i) GM volume increase in Brodmann 6 area in TWh; (ii) regions with GM volume decrease in the insula and in both brain hemispheres in TW; (iii) genu of corpus callosum volume increase in individuals who share female identity gender. DTI showed: FA lower values in right superior longitudinal fasciculus (SLF) and in the body of corpus callosum of TWh. CONCLUSION: significant regional brain volume differences assessed by VBM were detected in TW groups relative to controls. In the TWh group, brain volume changes suggest a possible influence of cross-sex hormone theraphy on brain neuroplasticity. There are some indication of feminization in the brains of TW individuals, most evidently in the CC and more subtly in the posterior superior frontal GM. The pattern of GM volumes alterations in the insula in the two independent TW groups are novel; such finding may be a marker of transsexuality or be a brain correlate of the suffering associated with this condition. FA value reduction at right SLF has been suggested to be associated to GD