Summary: | Esta dissertação tem por objetivo discutir e comparar as imagens da violência e da infância, que são histórica e culturalmente construídas, na literatura de recepção infantil, analisando as obras As aventuras de Ngunga, do escritor angolano Pepetela e Sapato de salto, da escritora brasileira Lygia Bojunga, buscando compreender em que medida a articulação entre as duas obras possibilita a compreensão dessas culturas para identificar os efeitos estéticos, culturais e sócio-políticos presentes nessas obras. Utilizou-se como aporte teórico o referencial dos Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa e os estudos relativos à formação e ao desenvolvimento da literatura juvenil no Brasil e em Angola, utilizando também as noções do paradigma indiciário proposto por GINZBURG (1989) como um recurso metodológico que pode contribuir com a Literatura Comparada. O modelo indiciário mostrou-se uma perspectiva de análise produtiva para o desvelamento das imagens das violências, no percurso de construção das identidades dos protagonistas das duas obras analisadas, por mapear os indícios, que permitiram identificar as diferentes violências que constituem, em parte, um legado universal, por estarem presentes em todas as culturas e nas mais diversas temporalidades; e, em parte, um conceito idiossincrático, por apresentarem tonalidades locais, de acordo com o tempo-espaço em que elas se materializam, já que partimos da hipótese de que se trata de um conceito que é histórico e culturalmente construído. Nos universos ficcionais analisados, os protagonistas não se apresentaram apenas como meras potencialidades de recursos estético-formais, mas revelaram uma natureza simbólico-coletiva, à medida que espelharam a matriz constitutiva do adulto que constrói o futuro das sociedades a que pertencem. Por essa razão, o constructo emprestado de Deleuze e Guattari do devir-criança mostrou-se eficaz para caracterizá-los, afastando-os da imagem idealizada da infância vista apenas como uma etapa da vida humana marcada pelas narrativas da inocência e possibilitando sua análise como uma construção histórica, cultural, social e econômica que permite explicar a sociedade de que eles são produtos. Também as imagens das violências que gravitam em torno desses universos ficcionais puderam ser recuperadas pelo mapeamento de indícios, em cada um dos projetos estéticos estudados. Assim, foi possível concluir que para além das histórias que cada protagonista constrói e que são marcadas na efabulação pelo seu chrónos específico, a condição de devir-criança os aproxima, no tempo aiônico das experiências por que passam, já que eles interrompem a história, revolucionam-na e criam pelo princípio-esperança uma nova e potencial história, uma matriz espaço-temporal de onde outras histórias podem ser contadas sobre o que pode ser a infância como potência, como possibilidade real. Dessa forma, não se pode falar em infância, mas em infâncias, em existências singulares que aprendem, de acordo com os modelos que lhes são oferecidos pelo universo adulto, mostrando que se deve tornar o passado útil e não coercitivo, na formação das novas gerações, ensinando não o que aprender, mas como fazê-lo e não com o que comprometer-se, mas mostrando-lhes o valor do compromisso.
===
This thesis aims to discuss and compare the images of violence and childhood, which are historically and culturally constructed in the literature of children receiving, analyzing the works of Ngunga The adventures of the Angolan writer Pepetela and high heels, the Brazilian writer Lygia Bojunga, trying to understand to what extent the relationship between the two works allows for an understanding of these cultures to identify the aesthetic effects, cultural and socio-political in those works. It was used as the theoretical reference of the Comparative Studies of Literature and Portuguese Language and studies concerning the formation and development of juvenile literature in Brazil and Angola, also using the notions of evidential paradigm proposed by Ginzburg (1989) as a resource methodology that can contribute to the Comparative Literature. The semiotic model proved to be a productive analytical perspective to better understand the images of \"violence\" in the course of construction of the identities of the protagonists of both films are analyzed by mapping the evidence, which enabled the identification of different forms of violence that are, in part , a universal, being present in all cultures and in various time frames, and in part an idiosyncratic concept, by producing local tones, according to the time-space in which they materialize, since we start from the assumption that it is a concept that is historic and culturally constructed. Analyzed in fictional universes, the protagonists are not presented as mere potential for formal-aesthetic features, but revealed a collective-symbolic nature, as it mirrored the constitutive matrix of the adult who builds the future of their societies. For this reason, the construct borrowed from Deleuze and Guattari\'s \"becoming-child\" was effective to characterize them, away from the idealized image of childhood seen only as a stage of life marked by tales of innocence and allowing its analysis as a historical, cultural, social and economic information that helps explain the company that they are products. Also the images of violence that gravitate around these fictional universes could be recovered by mapping evidence in each of aesthetic projects studied. Thus, we conclude that in addition to the stories that each player builds and are marked on the fable by its specific Chronos, the condition of \"becoming-child\" approach them in time \"aiônico\" of experiences that they encounter as they interrupt the story, and revolutionize it by creating a new beginning, hope and potential history, an array of space-time where other stories can be told about what may be his childhood as power, as a real possibility. Thus, one can not speak in childhood, but in childhood, individuals who learn in stocks, according to the models offered to them by the adult world, showing that the past should become useful and non-coercive, in the formation of new generations teaching not to learn, but how to do it and what not to commit himself, but showing them the value of commitment.
|