Summary: | O objetivo desta pesquisa é demonstrar que as identidades coletivas são um fenômeno performático em constante redefinição e rearticulação (BUTLER, 1990), cujas dimensões simbólicas são construídas no espaço-chave da Comunicação (LOPES, 2004). Estes processos envolvem falas, textos, espaços, montagens e performances que renovam as narrativas delineadoras de \"comunidades imaginadas\" (ANDERSON, 2011). Como objetivo específico, a pesquisa focalizou a relação entre o projeto comunicacional do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social) - fundado em 1955 no bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo - e a construção de uma visão da identidade e da comunidade nipo-brasileira, como resultado dos esforços da entidade em cumprir a missão atribuída a si mesma de representar os imigrantes japoneses e seus descendentes, e de preservar o seu legado no Brasil. Buscando autoridade institucional nos elos com o governo e a família imperial do Japão, e legitimidade moral no \"dever\" e no \"direito\" de administrar a memória dos ancestrais, o Bunkyo exerce uma \"política de identidade\" com base na \"verdade da tradição\" e nas \"raízes da história\" (RONSINI e OLIVEIRA, 2007). O projeto comunicacional analisado se constitui em um vasto aparato de mídia impressa, audiovisual e online, presença em redes sociais e a promoção de eventos, celebrações e festividades em que se falam e dramatizam questões referentes ao universo social, cultural, político, religioso e memorial da comunidade nipo-brasileira, abrangendo um arco de tempo que inclui aspectos da vida destes indivíduos no presente, suas referências do passado e perspectivas para o futuro. Pela natureza do objeto analisado, o quadro teórico abrange autores de várias disciplinas, o que implica entender a comunicação como área de convergência entre diversos saberes sociais, \"sem negar a especificidade do campo da comunicação\" (LOPES, 2009). Assim, são utilizados recursos teóricos como os aspectos performáticos e discursivos da identidade em Butler (1990), Canclini (1997) e Hall (1995), a memória como \"tradição seletiva\" em Williams (1979) e como \"elo vivido no eterno presente\" em Nora (1993). Quanto ao aspecto metodológico, a análise de narrativa é fundamentada em leituras de Bruner (2001), Ricoeur (1980) e Motta (2005), entre outros. Apesar das grandes transformações por que têm passado o Brasil e o Japão - as duas referências da comunidade nipo-brasileira - e do impacto da hibridização sobre as culturas nacionais (CANCLINI, 2012), a amplitude e o vigor do projeto comunicacional do Bunkyo revelam que a percepção da distinção cultural e o desejo de mantê-la permanecem, inspirando um tipo de militância identitária e memorial que mobiliza energia e recursos em favor da criação de territórios físicos e virtuais onde a socialização e as trocas simbólicas podem ocorrer.
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The aim of this research is to demonstrate that collective identities are a performative phenomenon in constant redefinition and re-articulation (BUTLER, 1990), whose symbolic dimensions are constructed in the key-space of communication (LOPES, 2004). These processes involve speeches, texts, spaces, stage settings and performances which renovate the delineating narratives of \"imagined communities\" (ANDERSON, 2011). As an specific aim, this research focused on the relationship between the communication project of Bunkyo (Brazilian Society of Japanese Culture and Social Welfare) - founded in 1955 in the Liberdade district, in São Paulo city - and the construction of a Japanese-Brazilian identity and community, as the result of its efforts of fulfilling the mission (given by and to itself) of representing the Japanese immigrants and their descendants, and to preserve their cultural legacy in Brazil. Searching for institutional authority in its bonds with the Japanese government and imperial family, and for moral legitimacy in its \"duty\" and \"right\" to control their ancestors\' memory, Bunkyo carries out a \"politics of identity\" based on the \"truth of tradition\" and on the \"history\'s roots\" (RONSINI and OLIVEIRA, 2007). The communication project analyzed here consists of a vast apparatus with print, internet and audiovisual media, the Bunkyo\'s presence in the social media, and its constant promotion of festivities, celebrations and events where aspects of the social, cultural, religious, political and memorial universe of the Japanese-Brazilian community are spoken and dramatized, embracing an arch of time that encompasses the individuals\' lives in the present, their references in the past, and perspectives for their future. Taking into account the nature of the object of this analysis, the theoretical framework used here is comprised of authors from many disciplines, which implies understanding communication as a field of convergence of many social knowledges, \"without denying the specificity of the communication field\" (LOPES, 2009). Hence, theoretical resources such as discursive and performative aspects of identity in Butler (1990), Canclini (1997) and Hall (1995); memory as \"selective tradition\" in Williams (1979) and as \"the living bond with the eternal present\" in Nora (1993) were used, among others. As for the methodological approach, the narrative analysis used here was founded on authors such as Bruner (2001), Ricoeur (1980) and Motta (2005). In spite of the great transformations that Brazil and Japan had been through, and the impact of hybridization on national cultures (CANCLINI, 2012), the vastness and vigor of Bunkyo\'s communication project reveal that its perception of cultural distinctness and its desire to maintain it still persist, inspiring some kind of memorial and identity\'s militancy that mobilizes energy and resources for the creation of physical and virtual territories where socialization and symbolic exchanges can happen.
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