Sangue, ossos e terras. Os mortos e a ocupação do território luso-brasileiro séculos XVI e XVII

A tese problematiza a ocupação territorial na América Portuguesa e na Península Ibérica nos séculos XVI e XVII, atentando para aspectos espirituais e religiosos deste processo, especificamente o papel estratégico desempenhado pelos mortos. Mostra que o território foi construído a partir de algun...

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Bibliographic Details
Main Author: Renato Cymbalista
Other Authors: Ana Lucia Duarte Lanna
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2006
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16131/tde-16112010-141818/
Description
Summary:A tese problematiza a ocupação territorial na América Portuguesa e na Península Ibérica nos séculos XVI e XVII, atentando para aspectos espirituais e religiosos deste processo, especificamente o papel estratégico desempenhado pelos mortos. Mostra que o território foi construído a partir de alguns mortos muito especiais: os santos e mártires. Os martírios de religiosos foram vistos como prerrogativas da colonização do território, e a descoberta, o traslado ou a criação de relíquias sagradas restos materiais dos corpos dos santos eram procedimentos importantes para a construção da centralidade das cidades. Este trabalho busca identificar as práticas dos reis ibéricos em relação aos seus lugares de sepultamento, mostrando que houve uma busca pela apropriação da lógica simbólica dos corpos dos santos pelos dos reis no início da Idade Moderna, abrindo espaço para uma maior centralidade da figura real. Revela ainda que a acomodação dos mortos foi um dos desafios prioritários das primeiras urbanizações, garantindo o repouso adequado dos corpos até a ressurreição no Juízo Final e também a fluidez na comunicação entre os vivos e as almas do purgatório. A tese também aborda a forma como os índios Tupi na América Portuguesa articulavam as relações entre os vivos, os mortos e o território, envolvendo relações de nomadismo, antropofagia e práticas corporais. === This thesis examines the occupation of Portuguese America and of the Iberian Peninsula in the XVI and XVII Centuries with special attention to the spiritual and religious aspects of the process and, specifically, to the strategic role played by themdead. It demonstrates that the territory was shaped by a small number of dead of particular significance: the saints and martyrs. The sufferings of the martyrs were seen as prerogatives in the process of colonisation; the discovery, transport or creation of sacred religious relics the material and bodily remains of the saints were important procedures in the construction of urban centres. The thesis seeks to describe the attitudes of Iberian royalty with regard to their places of burial, and demonstrates that they involved an attempt to appropriate the symbolism inherent in the bodies of the saints at the beginning of the Modern Age, opening room for a more central role for the royal personage. It reveals that accommodating the dead was among the principal challenges facing the first urbanisers: offering an appropriate resting place for their bodies until the resurrection and the Final Judgement, and providing for fluidity of communication between the living and the souls in purgatory. The thesis also deals with the ways in which the Tupi Indians of Portuguese America articulated relationships between the living, the dead and the land, involving aspects of nomadism, cannibalism and bodily practices.