Summary: | Esta pesquisa dedicou-se à abordagem da padronização das estatísticas de ensino como eixo formulador da identidade nacional entre as décadas de 1920 e 1940. Teve como objetivo compreender os mecanismos e as ações elaboradas em instâncias governativas que possibilitaram a edificação de uma representação da identidade nacional em números, imagens, quadros e mapas cartográficos. Para tanto, utilizou-se de publicações oficiais, relatórios, divulgações periódicas, como jornais e revistas, bem como mapas e publicações comemorativas que informaram sobre o lugar da educação e da estatística como ferramentas de destaque na composição da imagem regional (Minas Gerais) e nacional. Também compôs o leque de fontes uma vasta documentação epistolar composta por correspondências trocadas entre Teixeira de Freitas e Fernando de Azevedo entre os anos de 1938 e 1950, sobre os processos de escrita da obra de apresentação do censo de 1940, A cultura brasileira. Essa publicação marcou o processo final de realização da operação censitária que fixaria a identidade nacional em contraposição aos discursos fragmentários e de dispersão do território nacional. Observamos que Minas Gerais foi laboratório de produção e ensaio para diversas articulações em torno das quais houve um esforço para que fossem produzidas em âmbito nacional por meio da atuação de Mário Augusto Teixeira de Freitas que, ao dirigir o recenseamento de 1920 naquele estado, organizou e ensaiou o princípio da cooperação administrativa entre as três esferas de governo. Tal princípio marcou o ordenamento das estatísticas de ensino bem assim a estrutura do sistema estatístico nacional, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi possível constatar que as definições e os diagnósticos erigidos pelo âmbito oficial, notadamente por Teixeira de Freitas, marcaram os sentidos (muitos pejorativos) atribuídos à população analfabeta, especialmente os habitantes do meio rural. Categorias como gado humano pautaram as divulgações e o discurso pessimista sobre a educação primária do país cujo acento dava-se na formação das elites para a condução da nação. A educação como dever e a estatística como ferramenta de descrição e ordenamento de políticas nacionais mostraram-se bastante efetivas na proposição de projetos para construção do Brasil Novo, que divergia da imagem de país que sustentava alto índice de analfabetos e de crianças com poucos anos de escolarização devido, entre outras coisas, à dispersão demográfica da população em idade escolar. A pesquisa ocupou-se ainda dos processos que antecederam a escolha de Fernando Azevedo como autor da obra que fixaria a identidade nacional pretensamente de forma exata e objetiva, além da descrição das inúmeras articulações engendradas por Freitas e Azevedo para torná-la conhecida em todo país e no estrangeiro, ampliando a divulgação de uma imagem positiva do Brasil. Assim, a produção da obra A cultura brasileira e as estatísticas de ensino integraram o mesmo processo defixação da identidade nacional.
===
This research aimed to study the standardization of the educational statistics as the basis of the national identity between 1920 and 1940. It aimed to understand the mechanisms and actions developed in governmental bodies that enabled the construction of a representation of the national identity in numbers, images, tables and cartographic maps. To this end, we used official publications, reports and papers, such as newspapers and magazines as well as maps and commemorative publications which talked about the place of education and the statistics as important tools in the composition of the regional and national images (Minas Gerais). Our study was also based in a wide epistolary documentation composed by letters exchanged between Teixeira de Freitas and Fernando de Azevedo between the years 1938 and 1950, where they wrote about the writing processes of the 1940s census presentation book named A cultura brasileira. This publication marked the final process of carrying out the census operation that would set the national identity as opposed to the fragmentary speeches and the country dispersion. We observed that Minas Gerais worked as a producing and testing laboratory for various joints around which there was an effort for them to be produced at a national level through the work of Mario Augusto Teixeira de Freitas who, when driving the census from 1920 in that state, organized and rehearsed the principle of administrative cooperation between the three levels of government. This principle marked the planning of the educational statistics as well as the structure of the national statistical system, the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). It was found that the definitions and diagnostics erected by the official framework, by Teixeira de Freitas, marked the way (many pejorative) assigned to the illiterate population, especially the inhabitants of rural areas. Categories like human cattle guided the disclosures and the pessimistic discourse on primary education in the country whose highlights were in the formation of elites to the nation running. The education as a duty and the statistics as a tool of description and national policy planning were quite effective in project proposals for the construction of the Brazil Novo, which country image differed from that of a country that held high illiteracy rate and children with few years of schooling because, among other things, the demographic dispersion of the population of school age. The survey also focused on the processes that preceeded the choice of Fernando Azevedo as the author of the work that would set the national identity in a accurate and objective way, beyond the description of the numerous joints conceived by Freitas and Azevedo to make it well-known throughout the country and abroad, expanding the idea of a positive image of Brazil. Thus, the production of the work A cultura brasileira and the education statistics were part of the same process of fixing the national identity.
|