Definir e exemplificar: estratégias didáticas no Curso de Linguística Geral (1907)

Esta dissertação tem por objetivo analisar a atividade docente de Ferdinand de Saussure (1857-1913) relativa à Linguística Geral, em 1907, quando o então experiente professor assumiu, pela primeira vez, o ensino da disciplina (Curso I). Nossos pressupostos teóricos provêm da Historiografia Lingu...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Lygia Rachel Testa Torelli
Other Authors: Maria Cristina Fernandes Salles Altman
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2015
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-15102015-140046/
Description
Summary:Esta dissertação tem por objetivo analisar a atividade docente de Ferdinand de Saussure (1857-1913) relativa à Linguística Geral, em 1907, quando o então experiente professor assumiu, pela primeira vez, o ensino da disciplina (Curso I). Nossos pressupostos teóricos provêm da Historiografia Linguística, tal como praticada por Auroux (1994), Koerner (1996) e Swiggers (2004). Nossa problemática parte do reconhecimento de que uma das maneiras de perpetuar a presença de Saussure no cânone dos estudos linguísticos consiste em repetir metáforas e exemplos a ele creditados, como a célebre metáfora do jogo de xadrez para ilustrar o conceito de língua. A partir de estudos historiográficos das funções semiótica e argumentativa de definições e de exemplos de língua (Rey, 1995; Quijada Van den Berghe e Swiggers, 2009; Chevillard et al., 2007), repartimos o material de análise (Saussure, 1996[1907]) em três porções, a que chamamos domínios (Caussat, 1978): Fonologia, Fonética e Analogia, temas do Curso I, para os quais estabelecemos três objetivos principais de pesquisa [1 a 3], e um objetivo secundário [4]: [1] levantar e caracterizar definições nos três domínios; [2] levantar e caracterizar os exemplos de língua nos três domínios; [3] correlacionar o uso de definições e de exemplos de língua nos três domínios; [4] correlacionar os dados apurados em [3] com com o contexto imediato de emergência do Curso I, ou seja, com o ensino da disciplina Linguística Geral na Faculté de Lettres et Sciences Sociales, em Genebra, em 1907 (Vincent, 2013). Nossas análises, que abarcaram 60 (sessenta) definições, apontam para a preferência de se construir uma definição pelo termo (definitio nominis), e não pela coisa (definitio rei), quando se trata de apresentar definições prioritárias ao assunto. Quanto aos exemplos, foram apuradas mais de 2000 (duas mil) ocorrências, com saliente revezamento entre francês e alemão nos três domínios, acompanhados por latim e grego, em uma representação das línguas-objeto feita principalmente por compreensão, ou seja, pelo uso generalizável dos exemplos de língua, que ilustram o conteúdo temático de maneira não-exaustiva. A unidade majoritária dos exemplos é a palavra, e sua disposição espacial preferencial são séries paralelas, ora em contraste simultâneo, ora em relação de sucessão temporal, com poucos paradigmas e declinações. As perguntas retóricas desempenham papel didático frequente e flexível, desde o teste de hipóteses até a apresentação de definições. Observamos, ainda, a ocorrência de definições que apresentam diretamente exemplos de língua, em uma relação bastante forte de interdependência. Reunimos, ainda, mecanismos de organização dos conteúdos temáticos (numerais, grafemas alfabéticos) e de esquematização (tabelas, símbolos e outras rupturas com a linearidade da exposição oral e da anotação escrita). Por fim, observamos estruturas de negação em todos os mecanismos investigados: definições que apresentam aquilo que não é antes daquilo que é, exemplos de língua que não ilustram determinado assunto, perguntas retóricas com respostas frequentemente negativas e oposições entre conceitos, de modo que as relações de oposição, algumas antinômicas, parecem caracterizar de maneira geral a didática de Saussure antes mesmo da formulação explícita do conceito de signo linguístico, que ocorreu, como sabemos, no curso de 1910-1911. === This paper aims to examine the teaching activity of Ferdinand de Saussure (1857- 1913) as to General Linguistics, in 1907, when the experient professor first started a course on the subject. Our work assumes that one way of perpetrating the canon consists of repeating some metaphors and examples accredited to him, as it goes to the famous saussurian chess game metaphor which illustrates the concept of langue. Our theoretical background lies on the Historiography of Linguistics, as professed by Auroux (1994), Koerner (1996) and Swiggers (2004), and the same applies for our methodological assumptions (Rey, 1995). Having established three separate domains within the first course (Saussure, 1996[1907]), Phonology, Phonetics and Analogy, we have then settled three main goals [1 to 3] and one secondary objective [4]: [1] to describe the definitions given in the three domains; [2] to describe and assess the language examples provided by the three domains; [3] relate the uses of definitions to those of language examples; [4] to relate [3] to the immediate context of emergence of the first course, the institutional background of General Linguistics at the Faculté de Lettres et Sciences Sociales, (Geneva, 1907). In order to accomplish the first step [1], we have adopted the classification of definitio rei, definitio nominis, as far as the definition incidence is concerned, and essencial, formal and functional definition, as to its content (Quijada Van den Berghe e Swiggers, 2009). The language examples [2] were analysed through their démarcation, the way they appear in the text; the way the languages being described are represented in the text, which can assume two forms: either par extension, when the totality of the cases are listed, either par compréhension, when the examples are models from which one can generate new instances (Chevillard et al., 2007). Our corpus comprises 60 (sixty) definitions and over two thousand examples. In general terms, the definitio nominis is enhanced when it comes to define priority terms, such as phonology. As to the examples, four languages appear intensely in the domains: french, german, greek and latin. These languages entertain a kind of representation mainly in comprehension.These instances occur as words, in horizontal and parallel series, scarcely in paradigms or declensions. There are definitions which exemplify overtly and directly, with no more material to accomplish a definition, which shows the strict interdependence of these constructions, together with a different mechanism, the rethorical questions. We have gathered, as well, organizing mechanisms (items, topics) and schematization procedures (tables, symboles and strategies that lessen the linearity of the text). Eventually, we have spotted the wide-spread use of negative strategies, such as defining something by what it is not, or excluding elements from a definition, as well as providing language examples which uncorrectly illustrate what is being said, in order to anticipate possible mistakes. Such procedures seem to be a hallmark on Saussures teaching.