Summary: | O presente estudo oferece algumas pistas para a compreensão das atuais implicações entre juventude, cidade e políticas sociais por meio do estudo de caso de um programa social denominado Jovens Urbanos. Registram-se possíveis sentidos das ações públicas dirigidas a jovens pobres moradores das periferias urbanas e as possibilidades que essas ações são capazes de provocar e convergir para a garantia do direito à cidade. Contribui com o debate sobre a gestão de projetos e políticas sociais, exclusão socioespacial e seus impactos nos modos de vida juvenis e com estudos voltados a repensar modelos e metodologias de educação de jovens, assumindo a potência da cidade como espaço formativo. A metodologia proposta pelo Jovens Urbanos é marcadamente influenciada por teses contemporâneas que se debruçam sobre os efeitos da modernidade ou da pós-modernidade nos modos de pensar e agir atuais. O estudo é qualitativo e utilizou entrevistas como principal ferramenta de coleta de dados, das quais decorrem descrições de experiências de jovens egressos e de atores implicados na gestão da terceira edição do programa, realizada de 2007 a 2008, nos distritos de Grajaú e Lajeado. A interação entre uma fundação vinculada a um banco, organizações sociais locais, governos municipal e estadual e outras empresas públicas e privadas, promovida pelo Jovens Urbanos, anunciou desconfianças e esperanças. É analisado o poder de contribuição que essa rede articulada teria no enfrentamento dos desafios das cidades e da juventude, partindo da compreensão de que a crise das cidades transcenderia os indicadores de pobreza e caos urbano, tratando-se, também, de uma crise política. Os indicadores de vulnerabilidade social, utilizados como critérios de medida para escolher os territórios de intervenção, são problematizados, revelando limites e alcances do programa. No tocante aos principais resultados da pesquisa, pode-se afirmar a primazia da cultura em relação à geografia: no Jovens Urbanos, a circulação e o acesso dos jovens aos espaços, artefatos e recursos da cidade seus principais objetivos estiveram colocados em função da ampliação do campo cultural e relacional dos jovens, não obstante o reconhecimento de que os jovens guardam, atualmente, maneiras distintas de sociabilidade e uso do espaço urbano, contestando teses de um possível confinamento socioespacial ao qual estariam submetidos. Ao optar pela cultura, o Jovens Urbanos opera um importante deslocamento: deixa de lado parcos conteúdos de preparo para o mercado de trabalho, amiúde dirigidos a jovens pobres, em prol da exploração, experimentação e produção de diferentes aportes culturais na cidade como sua grande diretriz. A participação no Jovens Urbanos configurou-se, para os atores envolvidos, uma experiência formativa, com rebatimentos (em diferentes medidas e significados) em suas opções de vida, sejam relativas a estudos, trabalho, relacionamento com as cidades ou com outros grupos e territórios de pertença, sejam consigo mesmos. A superação da invisibilidade, por exemplo, figura nas narrativas dos jovens como a possibilidade de olhar e também ser visto, reconhecido, valorizado por seus pares, educadores e outros diferentes atores não-nativos presentes na cidade.
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This study offers some clues to understand the current implications amid youth, city and social policies through a case study of a social program called Urban Youths. The study focus in possible meanings of public actions targeting poor young residents of urban suburb area and the possibilities opened by these actions to converge in guarantees of the right to the city. This research expects to contribute to the debate on the management of projects and social policies, socio-exclusion and its impact in ways of youth life, and with studies aiming to rethink models and methodologies of youth education, assuming the power of the city as a formative space. Methodology proposed by Urban Youths is markedly influenced by contemporary theories focused on the effects of modernity or postmodernity in the ways of thinking and acting today. The study is qualitative and used interviews as main tool for data collection, from which derive descriptions of the experiences of both the young people enrolled in the program and the players involved in its management. The edition studied is the third one, conducted from 2007 to 2008, in Grajaú and Lajeado (São Paulo city) districts, promoted by a banks foundation, , local social organizations, municipal and state governments and other public and private companies, which interactions raised mistrust and hopes. The power of contribution of this articulated network was analyzed for meeting challenges of cities and youth, based on the understanding that the crisis of the cities transcend poverty indicators and urban chaos, also being a political crisis. The social vulnerability indicators used by Urban Youths as measurement criteria to choose areas of intervention are assessed, revealing the limits and scope of the program. Regarding the main search results, it is possible to state the primacy of culture over the geography: at Urban Youths, the access of young people to spaces, artifacts and resources of the city its main objectives were placed according to the expansion of cultural and relational field of youngsters, despite the recognition that the young guard, nowadays, different ways of sociability and urban space usage. This challenges the thesis of a possible socio-territorial confinement to which they would be subjected. Making an option for the culture, the Urban Youths takes a major shift: leaves aside meager contents of labor market preparation usually the objective of programs for poor youth for the sake of exploration, experimentation and production of different cultural contributions in the city. Participation in Urban Youth was, for involved players, a formative experience, with repercussions (in different dimensions and meanings) in their life choices, as related to studies, work, and relationship with the city or with other groups of belonging, as to themselves. Overcoming invisibility, for example, takes place in the narratives of young people as the possibility of looking and being seen, recognized, valued by their peers, educators and various other \"non-native\" players in the city.
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