Através do "Mbaraka': música e xamanismo guarani.

Este trabalho teve como foco central a música dos rituais xamanísticos realizada pelos índios Guarani Kaiová, do tronco lingüístico tupi-guarani. Os Guarani com seus três subgrupos têm no Brasil um total de cerca de 40.000 pessoas. A pesquisa de campo teve duração total de oito meses, durantes o...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Deise Lucy Oliveira Montardo
Other Authors: Lux Boelitz Vidal
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2002
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-11032003-152546/
Description
Summary:Este trabalho teve como foco central a música dos rituais xamanísticos realizada pelos índios Guarani Kaiová, do tronco lingüístico tupi-guarani. Os Guarani com seus três subgrupos têm no Brasil um total de cerca de 40.000 pessoas. A pesquisa de campo teve duração total de oito meses, durantes os quais residi na casa de meus informantes guarani kaiová, nhandeva e mbyá nas áreas Amambai e Pirajuy, no Estado do Mato Grosso do Sul, e Mbiguaçu e Morro dos Cavalos, no Estado de Santa Catarina. Apresento a narrativa da história de vida e da iniciação ao xamanismo da mulher que foi minha principal informante, Odúlia Mendes, chamando a atenção para como, tanto em sua vida como nos mitos de criação guarani, os cantos e as danças são o caminho através do qual ocorre a comunicação e o encontro com as divindades e com os criadores ancestrais e se viabiliza a continuidade da sobrevivência da Terra. Através da análise do material musical, das letras das canções e das coreografias do ritual exploro uma série de aspectos da teoria musical nativa, bem como identifico dois gêneros distintos, um relacionado à prece e outro à guerra. Na performance analisada a xamã que a conduz exorta os participantes a ouvir, no gênero que identifiquei estar relacionado à prece a ao sentimento de saudade. Enquanto ouvem, cantam e dançam há uma polifonia de vozes, da xamã, dos deuses, dos participantes, que vão se alternando enquanto é percorrido o caminho. O outro gênero é acompanhado por coreografias de luta, movimentos de ataque e defesa descritos pelos informantes como um treino de habilidade para formação de guerreiros. Os Guarani têm quinhentos anos de contato com o "Ocidente", e neste trabalho, através do estudo da música nos seus rituais cotidianos e comparando com dados de outros grupos indígenas e de outros continentes, verifica-se como as práticas rituais são constitutivas da sua cultura. === The central focus of my study is the music of the shamanist rituals conducted by the Guarani Kaiová, of the Tupi-Guarani linguistic trunk. The three sub-groups of Guarani in Brazil have a total of 40,000 people. The field study had a total duration of eight months during which I lived in the homes of my Guarani Kaiová, Nhandeva and Mbyá informants in the Amambaí and Pirajuy regions in Mato Grosso do Sul State and Mbiguaçu and Morro dos Cavalos in Santa Catarina State. I present a narrative of the life story and of the initiation to Shamanism of the woman who was my principal informant, Odúlia Mendes. I call attention to how, both in her life as well as in the Guarani creation myth, song and dance are the route through which takes place communication and encounter with the divinities and ancestral creators, and which makes viable the continued survival of the Earth. Through an analysis of the musical material, the words to the songs and the ritual choreography I explore a series of factors of native musical theory. I identify two distinct genres, one related to prayer and the other to war. In the performance analysed, the shaman who conducts the ritual exhorts the participants to listen. In one genre, prayer is related to a sense of health. While they listen, sing and dance there is a polyphony of voices; those of the shaman, the gods and the participants, which alternate while the route is followed. The other genre is accompanied by choreography of fighting and movements of attack and defence that are described by the informants as a training of warrior skills. The Guarani have 500 years of contact with the West. This study of the music in their daily rituals, and a comparison with data from other indigenous groups, reveals that these rituals constitute their culture.