Summary: | A urina é importante na comunicação olfativa de mamíferos, especialmente em roedores: apresenta baixo custo e contém metabólitos potencialmente informativos. Possibilita que o receptor avalie características do emissor (p. ex. espécie, sexo, idade, status de dominância e de saúde, receptividade sexual e o tempo da emissão) a partir da urina encontrada. O balanço hídrico, no entanto, pode ser desvantajoso com o uso da urina na marcação por animais de ambientes xéricos e quentes, já que existe um tradeoff entre o volume de água acessível/ingerido e o emitido na micção/marcação, com pressão seletiva a favor da economia hídrica. Nestes casos pode ocorrer redução na emissão de volume com consequente limitação do uso da marcação por urina. Trinomys yonenagae (Rocha, 1995) (Rodentia, Echimyidae) é altamente afiliativa, endêmica da Caatinga, e pertencente a um gênero de ancestral silvícola, cuja maioria das espécies apresenta fidelidade a ambientes florestados. Produz urina de média osmolaridade e de volume semelhante ao de espécies silvícolas do gênero, embora viva em um paleodeserto de temperatura elevada. Nesse contexto hipotetizamos que T. yonenagae faz uso de marcação por urina, uma estratégia importante para roedores sociais, explorando favoravelmente a restrição filogenética (produção de urina de média osmolaridade) imposta por sua ancestralidade. O padrão de deposição de urina e de fezes de T. yonenagae (n=10) e da espécie-irmã, Trinomys setosus (n=10), de ambiente florestado, foi visualizado sob luz ultravioleta (UV), em sessões individuais (24h), em gaiolas-padrão (40x33x16cm), forradas com papel de filtro. O mesmo procedimento foi usado nas investigações posteriores - a quantificação do número de fezes e das marcas de urinas, com estimativas do volume de marcação (VUt=L total/sessão e L/marca) - em T. yonenagae pré-pubertal (32 a 76d, n=10) e em adultos (um a 11 anos, n=21), de ambos os sexos, em sessões (10min) individuais e em contexto social. Nesse caso os rabos-de-facho adultos foram pareados em compartimentos adjacentes (caixa de 40x30x26cm), com um coespecífico de mesmo sexo, conhecido e desconhecido, e de sexo oposto, desconhecido. Qualitativamente as espécies-irmãs apresentam padrão de disposição de urina semelhantes, provavelmente herdados do ancestral silvícola comum. Há depósitos de dois tipos: marcas grandes, nos cantos da gaiola, e marcas pequenas, distribuídas na área central. Em T. yonenagae, as marcas grandes (VUt=3,00-750,00L, 6,67±4,30% do volume urinário diário), correlacionam-se significativamente (Pearson=0,41; sig.<0,00) com a deposição de fezes, sugerindo deposição de latrina; o VUt das marcas pequenas é de 0,01 a 0,05L. O número de marcas pequenas mais elevado, entre os sujeitos que urinaram, foi de quando pareadas com conhecidas (ANOVA um fator, F=3,70 sig.<0,00), sugerindo coesão social em , e associado a um pequeno investimento hídrico. Observou-se também depósitos de secreções da Glândula Harderiana (GH), que não se correlacionaram com nenhuma das variáveis analisadas. Não ocorreram diferenças estatisticamente significantes nas demais comparações feitas. Em condição solitária, 80% dos indivíduos adultos marcaram (latência <5min), enquanto que o grupo de 26-41d apenas dois sujeitos marcaram. O VUt correlacionouse com a idade positivamente (Pearson=0,64; sig.=0,05), entre os indivíduos jovens, e negativamente entre os adultos (Pearson=-0,39; sig.<0,00), o que sugere que a marcação por urina possa ser hormônio-dependente, como ocorre em outras espécies de roedores. A limitação ao acesso à água no ambiente natural dos rabos-de-facho parece não ter se sobreposto aos fatores de ancestralidade e comunicação social na modulação do comportamento de marcação por urina em T. yonenagae, especialmente para fêmeas que ocupam papel diferenciado na hierarquia social do grupo. O trabalho também salienta a ausência de hierarquia linear nos rabos-de-facho, como anteriormente relatado, e evidencia a presença de atividade da GH, abrindo nova linha de estudos fisiológicos e comportamentais dessa glândula em ratos-de-espinho
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Urine is important in olfactive communication in mammals, especially in rodents: its presents low costs and had potentially informatives metabolites. The urine enables the sender to transmit informations about itself (p. ex. species, sex, age, dominance and health status, sexual receptivity, and time of deposit). The water balance, however, can be disadvantageous with the use of urine marking in xeric and hot environments, because there is a trade-off between the amount of water available/ingested and delivered in urination/marking, with pressure selective in favor of the water economy. In these cases there may be a reduction in emission of the volume with consequent limitation of the use of the urine in marking. Trinomys yonenagae (Rocha, 1995) (Rodentia, Echimyidae) is highly affiliative, endemic in the Caatinga, and belongs to a genus of forestry ancestral, which most of species have congruence with forested environments. The rabo-de-facho produces urine with medium osmolarity and volume similar to that of forestry species in the genus, although lives in a high temperature paleodesert. In this context we hypothesized that T. yonenagae marks with urine, an important strategy for social rodents, and explore favorably the phylogenetic constraint (production of medium osmolarity urine) imposed by their ancestral. The pattern of urine and feces deposition of T. yonenagae (n=10) and of the sister-species, Trinomys setosus (n=10), of forested environment, was visualized under ultraviolet light (UV) in individual sessions (24h) in house-cages (40x33x16cm), with the floor covered with filter paper. The same procedure was used in further investigations quantification of the number of feces and of the urine marks, with estimation of the urine volume (VUt = L total/session and L/mark) in pre-puebertal (32 to 76d, n = 10) and adults (one to 11 years, n = 21) T. yonenagae, of both sexes, in 10min sessions under individual and social context. The adults in social context was pared, in an adjacent compartments (of 40x30x26cm box), with a same-sex conspecific, known and unknown, and opposite, sex unknown. Qualitatively, both species shows similar patterns of urine deposition, probably inherited from the forestry ancestral. There are kinds of deposits: larger ones, deposited in the corners of the cage, and small ones, distributed in the central area. In T. yonenagae, the larger marks (VUt = 3,00-750,00L, 6.67 ± 4.30% of the daily urine volume) are significantly correlated (Pearson = 0.41, sig <0.00. ) with the number of feces pellets, suggesting latrine deposition; the VUt of small marks is from 0.01 to 0,05L. The higher number of small marks among subjects who urinated was in paired with known situation (one-way ANOVA, F = 3.70; sig. <0.00), suggesting social cohesion in , and associated with a small water investment. It is also noted deposits of Harderian gland (GH) secretions, which were not correlated with any of the variables. There were no statistically significant differences in the other comparisons. In solitary condition, 80% of adults marked (latency <5min), while only two subjects in the 26-41d group marked. The VUt correlated positively with age (Pearson = 0.64;. sig = 0.05) among young individuals, and negatively among adults (Pearson = -0.39;. sig <0.00). This suggests urine-marking in T. yonenagae as a hormone-dependent behavior, like in other rodent species. The limited access to water in the natural environment of rabo-de-facho seems to have not overlapped the ancestry factors and social communication in the modulation of urine for marking behavior, especially for females occupying distinct role in the social hierarchy the group. The work also highlights the absence of linear hierarchy in rabo-de-facho, as previously reported, and shows the presence of GH activity, opening new line of physiological and behavioral studies of this gland in spiny-rats
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