Summary: | Em meio às diversas mudanças que vêm ocorrendo na relação entre gênero e profissão, a presença do homem atuando na educação e cuidado de crianças em contextos coletivos, particularmente de crianças de 0 a 3 anos de idade, suscita debates que fazem aflorar o senso comum e desafiam a construção do conhecimento dessa realidade. Ainda em número reduzido, a presença do homem como professor de creche vem sendo preconizada como parte das políticas de promoção de igualdade de oportunidade entre homens e mulheres, do movimento de profissionalização da educação infantil e das tentativas de promover uma educação pautada na diversidade, étnica e de gênero, de figuras de referência para as crianças. O presente estudo tem como objetivo investigar de que maneira um homem se constitui professor de creche, nas relações com suas colegas, com a direção e com as crianças e suas famílias. A construção do corpus da pesquisa, ancorada no referencial teórico-metodológico da Rede de Significações, foi feita por meio de: (1) visitas e observações, com registros, em caderno de campo, das práticas e relações estabelecidas pelo professor com as crianças, com as famílias, com suas colegas e a direção; (2) entrevistas semi-estruturadas, gravadas em áudio e transcritas na íntegra, com os atores envolvidos neste processo (professor, professoras, direção e famílias). A análise do material foi feita no sentido de identificar o masculino na relação com as colegas de trabalho, com a direção, com as famílias e com as crianças. Análises dos registros de observação e das entrevistas trazem a experiência de inserção do homem como professor de creche de maneira positiva e recomendável. Dentre os argumentos apresentados acerca das possibilidades que se abrem ante a presença do homem como professor, a figura masculina é representada fortemente pela imagem do pai, justificada especialmente para as crianças que não convivem com esta figura em suas famílias. Em relação à questão do cuidado com o corpo, a decisão da direção, acatada pela equipe, foi de afastar o educador dessas atividades com as meninas, o que evitou a emergência de conflitos e resultou em instrumento para tranquilizar as famílias. Como consequência desta inserção, a possibilidade de interações do professor com as famílias, mesmo que de maneira indireta por meio dos relatos e manifestações das crianças, parece resultar em uma (re)significação da presença de um homem professor na creche, que caminha do estranhamento inicial ao estabelecimento de uma relação de confiança com este profissional.
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Amid the many changes that have occurred in the relationship between gender and occupation, the presence of men working in the education and care of children within collective contexts, particularly with children between 0-3 years of age, gives rise to debates that bring forth the common sense, and challenges the existing knowledge within such reality. Although few in number, the presence of men as daycare teachers has been recommended as part of policies to foster equal opportunity between men and women, the movement to professionalize the early childhood education and attempts to promote an education based in the diversity, both ethnic and gender, of role models for children. This study aims to investigate how a man becomes a daycare teacher, his relationship with colleagues, with his superiors and with the children and their families. The construction of the corpus of research, rooted in the network of meanings theoretical- methodological perspective, was made by way of: (1) visits and observations, with records in a field book of practices and relationship established by the teacher with the children, with families, with their colleagues and school management, (2) semi-structured interviews, recorded on tape and transcribed in its entirety, with the players involved in this process (teacher, colleagues, school management and families). The analysis was performed to identify the male in the relationship with coworkers, with management, with families and children. Analysis of the observation records and interviews showed that the experience of integrating a man as a daycare teacher is positive and recommended. Among the arguments presented with regards to new possibilities opened up by the presence of a man as a teacher, the male figure is strongly represented by the father image, justified especially for children who do not have a father figure in their families. As far as the childrens hygiene and use of toilet, the decision of the school management, embraced by the team, was to remove the male teacher from the girls bathroom activities, which prevented the emergence of conflicts and became a tool to reassure the childrens families. As a result of this integration, the possibility of teachers interacting with the families, even if indirectly by way of reports and childrens manifestation, seems to bring about a (re)signification of the presence of a man teacher at the daycare, which moves away from the initial strangeness to the establishment of a trusted relationship with this professional.
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