A exemplaridade do abandono: epístola elegíaca e intratextualidade nas Heroides de Ovídio

O trabalho analisa as possíveis relações intratextuais entre as primeiras quatorze epístolas que formam o corpus das Heroides de Ovídio. Estas relações permitem ao leitor entendêlas não apenas como um mero conjunto de monólogos travestidos em um formato epistolar (Auhagen, 1999, p. 90), mas como...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Cecilia Marcela Ugartemendia
Other Authors: Alexandre Pinheiro Hasegawa
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2016
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8143/tde-08022017-113033/
Description
Summary:O trabalho analisa as possíveis relações intratextuais entre as primeiras quatorze epístolas que formam o corpus das Heroides de Ovídio. Estas relações permitem ao leitor entendêlas não apenas como um mero conjunto de monólogos travestidos em um formato epistolar (Auhagen, 1999, p. 90), mas como peças que ganham significado à luz de outras. As relações surgem em função do caráter exemplar das heroínas, paradigmático de um determinado tipo de comportamento. No diálogo intratextual, a exemplaridade permite a configuração mútua destas mulheres e suas epístolas. Considerando que o próprio Ovídio, no livro 3 da Ars amatoria, recomenda a suas discípulas ler sua coleção de epístolas e que ele se refere a essas mulheres em diferentes ocasiões como exempla do fracasso na ars amandi, o corpus pode ser entendido como uma série de exempla para o leitor, complementares ao propósito didático da Ars amatoria. Em razão da falta de uma ars amandi, a maioria das heroínas fracassam ao tentar convencer seus amantes a voltar. Portanto, o leitor recebe as epístolas como um grande exemplum daquilo que não deve ser feito e como justificativa da necessidade de um praeceptor. A confluência dos gêneros elegíaco e epistolar possibilita que as epístolas sejam um meio apropriado para transmitir um exemplum, por causa do caráter didático de ambos os gêneros. === This research analyses the possible intratextual relation between the first fourteen epistles of Ovids Heroides. These relations allow the reader to understand them not only as unconnected monologues brought together under the form of epistles (Auhagen, 1999, p. 90), but also as collection of poems that have meaning when read in the light of the others. The relations emerge because of the heroines exemplary character, paradigmatic of a certain behavior. In the intratextual dialogue, the exemplarity enables the mutual configuration of the women and their epistles. Considering that Ovid himself, in the third book of his Ars, recommends to read his collection of epistles and that he also refers to these women as exempla of failure in the art of love, the whole collection can be understood as a series of exempla that complement the didactic purpose of the Ars amatoria. Because of their lack of ars amandi, most of the heroines fail in trying to convince their lovers to come back to them. Therefore, the reader receives the epistles as an exemplum of what should not be done and as a justification for the need of a praeceptor. The overlapping of the elegiac and the epistolary genres enables the letter to be an appropriate mean to convey an exemplum, due to the didactic features of both genres.