A intenção na melodia: estudo interdisciplinar sobre as relações entre entoação e gênero de discurso nas manifestações vocais (da fala ao canto)

Este trabalho apresenta uma reflexão acerca da natureza da entoação e de seu papel no funcionamento e no uso da linguagem, numa perspectiva interdisciplinar que traz para a discussão as contribuições de outras áreas do conhecimento que de uma maneira ou de outra se relacionam com a expressão na...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: André Ricardo de Souza
Other Authors: Waldemar Ferreira Netto
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2014
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-07052015-172420/
Description
Summary:Este trabalho apresenta uma reflexão acerca da natureza da entoação e de seu papel no funcionamento e no uso da linguagem, numa perspectiva interdisciplinar que traz para a discussão as contribuições de outras áreas do conhecimento que de uma maneira ou de outra se relacionam com a expressão na fala, seja por seus aspectos físicos, acústicos, seja por seus aspectos funcionais. Apresentamos evidências e argumentos que colocam a entoação como um fator primário na comunicação linguística que tem um papel fundamental na organização e transferência da informação de um sujeito a outro, tanto do ponto de vista da produção como da recepção. A tese aqui defendida é a de que a intenção comunicativa do falante o modo como este usa a linguagem enquanto ação junto a outros seres humanos é que determina a configuração melódica, precedendo a seleção e combinação dos constituintes do enunciado. Partimos da consideração da situação atual dos estudos prosódicos com respeito à entoação que encontramos descrita em Ladd (1996), Hirst e DiCristo (1998) e Fox (2000), entre outros, e apontamos alguns dos seus principais impasses e as questões epistemológicas relacionadas. Em seguida apresentamos as perspectivas de outras áreas de fora da linguística que direta ou indiretamente se reportam à entoação, seja como intenção, como é o caso da filosofia da linguagem, a sociologia, e a teoria literária, seja como melodia nas fronteiras do fazer teatral e da prática musical. Encontramos aí aproximações significativas entre as noções de estilo e gênero do discurso e a noção de intenção comunicativa que questionam a possibilidade de uma separação estanque entre o uso prático e o uso poético, musical, artístico da linguagem. Essa constatação nos levou a considerar uma grande categoria da atividade humana que denominamos práxis vocal que inclui, além da fala e do canto mais convencionais, formas intermediárias tais como narrativas orais, chamados, pregões, discursos políticos, declamações artísticas e religiosas como o recitativo e o salmodiar, entre outras. Estas formas empregam a modulação da frequência fundamental da voz de maneiras muito particulares e podem ser situadas na fronteira entre a linguagem e a música. Empreendemos, por isso, uma investigação acerca das relações, semelhanças e diferenças entre música e linguagem. Desta aproximação surgiu uma das ideias centrais desta tese, que é a relação entre estilo melódico e gênero de discurso nas manifestações orais. Percebemos que a realização de uma intenção comunicativa, seja numa fala espontânea, num discurso ou numa canção, começa com a escolha do gênero mais adequado à expressão do conteúdo desejado, e a partir dessa escolha é que fica determinado o estilo, que corresponde às regras de elaboração do discurso (linguístico, musical ou híbrido). A violação dessas regras que observamos quando há inconsistências melódicas na fala decorada, por exemplo, são decorrentes da necessidade de se criar uma melodia a partir de um texto já dado, fato que não acontece na fala espontânea. === This work presents a reflection about the nature of intonation, and about its role in how language works and it is used, within a interdisciplinary perspective that brings contributions from other areas that, in a way or another, relate to the issue of expression in speech, whether by its physical, acoustic features or by its functional aspects. We present evidences that show intonation as a primary factor in linguistic communication, having a fundamental role in organising and transferring information from one subject to another, from the point of view of production as well as perception. The main reasoning is that the communicative intention of the speaker - the way he uses languages as an action toward other human beings - determines the melodic configuration, that preceding selection and combination of the utterance contituents. Considering the recent development of investigation of prosody as it is described in Ladd (1996), Hirst e DiCristo (1998) and Fox (2000), among others, we show some of its hindrances and the epistemological issues related to them. Following that, we present perspectives brought from other areas outside linguistics that in a direct or indirect manner relate to the issues around intonation, whether as the speaker\'s intention, as we see in the field of philosophy of language, sociology and literary theory, or as a melodic elaboration in theater and musical practices. Within these new perspectives we found out striking similarities between the concepts of style and speech genre and the idea of communicative intention, that dispute a clear distinction of the practical use of language from its poetic, musical, artistic use. This remark have led us to consider a grand category of human activity that we named vocal praxis, including, besides ordinary speech and song, intermediate forms as those found in oral narratives, callings, auctioneering, political discourses and artistic declamation such as the recitative and chant. These forms employ the modulation of the fundamental frequency of the voice in very peculiar ways, and they may be situated close to the boundaries of speech and song. For that reason we endeavoured an inquiry on relationships, similarities and differences between music and language, This approximation produced one of the central ideas of this thesis, i.e. the connection of melodic style and speech genre along the continuum of vocal (oral) manifestations. We realized that the actualization of a communicative intention, whether in spontaneous speech, in a political discourse or in a song, begins with the choice of the adequate genre to the desired expression of the content; after this choice the style is determined, leading to the rules of elaboration of the particular discourse (linguistic, musical or hybrid). The violation of these rules, that we observe as melodic incoherences when someone speaks something by heart or reading aloud, are the consequence of an artificial situation that demands creating a new melody to a given text, which doesn\'t happen in spontaneous speech.