Os significados da experiência da doença e do tratamento para a pessoa com hipertensão arterial e o contexto do sistema de cuidado à saúde: um estudo etnográfico

Este estudo teve como objetivo interpretar os significados que as pessoas com hipertensão arterial sistêmica atribuem à doença e ao tratamento e à produção dos cuidados em saúde. Para interpretar tais experiências, foram adotados os referenciais da antropologia interpretativa de Clifford Geertz...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Silvana Maria Coêlho Leite Fava
Other Authors: Maria Suely Nogueira
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2012
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-06062012-155548/
Description
Summary:Este estudo teve como objetivo interpretar os significados que as pessoas com hipertensão arterial sistêmica atribuem à doença e ao tratamento e à produção dos cuidados em saúde. Para interpretar tais experiências, foram adotados os referenciais da antropologia interpretativa de Clifford Geertz e da antropologia médica de Arthur Kleinman e do método etnográfico. Participaram deste estudo 22 pessoas com hipertensão arterial, com 18 anos e mais, cadastradas em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família de uma cidade do Sul de Minas Gerais. Foram respeitados os preceitos éticos, como a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos informantes. Os dados foram coletados no período de abril de 2010 a novembro de 2011, em diferentes espaços, onde as pessoas vivem e os fatos acontecem. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, observação participante, grupo focal, diário de campo e análise de prontuário. A análise e a interpretação dos dados foram orientadas pelo referencial teórico - metodológico e por meio da compreensão do contexto histórico dos informantes no qual os sentidos são produzidos, buscando decodificá-los para a apreensão dos significados implícitos na experiência com o adoecimento. Dessa análise, emergiram quatro núcleos de significados: \"A doença como expressão do estilo de vida\", \"A perspectiva de cura da doença\", \"A experiência com o sistema formal de saúde\", \"A produção dos cuidados em saúde: o distanciamento com a humanização\". O problema de nervoso representa a categoria nosológica para os informantes, que se apresenta de forma sintomática caracterizada por uma expressão do estilo de vida urbano. Apoiam-se na crença da cura do problema. A família, a espiritualidade e a religião constituíram suas principais redes de apoio social. Os itinerários terapêuticos se interpenetram para a cura do problema de nervoso. O subsistema de saúde popular constitui importante itinerário devido à identidade cultural que se estabelece com o grupo social pesquisado, pelo vínculo frágil com o subsistema profissional e por proporcionar melhor bem-estar e, consequentemente, a remissão dos sintomas. As dificuldades de vencer as ladeiras e as barreiras decorrentes da idade, das limitações, da acessibilidade geográfica, das dificuldades de acesso à consulta e aos medicamentos, o vínculo frágil com a Unidade, aliados à influência cultural e às experiências de exclusão social, dificultam a adesão ao tratamento. A insatisfação com as diferentes dimensões organizacionais, de estrutura e de funcionamento do serviço, repercute de forma negativa no acolhimento, no vínculo, nos cuidados e na adesão ao tratamento. O processo de trabalho estruturado no modelo biomédico dificulta abrir espaços para o diálogo, para a interpretação e para o atendimento das necessidades da pessoa com Hipertensão Arterial. Novas competências tornam-se necessárias no processo de trabalho, capazes de aliar a competência técnica à humana para a implementação de ações em saúde humanizada. As lacunas evidenciadas entre o ponto de vista dos profissionais de saúde e dos informantes nos servem de orientações para repensar nossa práxis, com vista a prover cuidados integrados e contextualizados, o que estimula a potência para o viver, para o empoderamento e para o autocuidado. === The object of this study was to interpret the meaning ascribed to illness and to treatment as well as to health care production by high systemic arterial blood pressure carriers. In order to interpret such experiences, references to Clifford Geertz\' Interpretive Anthropology, Arthur Kleinman\'s Medical Anthropology and the Ethnographic Research Method were used. Twenty-two hypertensive individuals, aged 18 and over, enrolled in a Family Health Strategic Unity in a city in the South of Minas Gerais took part in the study. Ethic principles were taken into consideration, the study being approved by the Ethic Committee and the Informed Consent Form being signed by the participants. Data were collected where people live and facts do happen from April 2010 to November 2011. Semi structured interviews, participative observation, focus group, field journal and medical records analyses were carried out. Data analysis and interpretation were guided by the theoretical-methodological referential and by understanding the informers historical context where the meanings are produced, by trying to decode them in order to apprehend the meanings implied in the experience with falling ill. From the analysis, four meaning classes were found: \"Illness as life-style expression\", \"Illness cure perspective\", \"Experience with the official health care system\", \"Health care production: distance from a humanized approach\". Nervousness, which presents itself in a symptomatic way characterized by an expression of the urban life-style, represents the nosological category for the informers. They hold tightly to the belief in the cure of the problem. Family, spirituality, and religion are their main net of social support. The therapeutic itineraries intertwine themselves for the cure of the nervousness problem. The popular health subsystem is an important itinerary due to the cultural identity that is established with the social group under study, to the fragile bond with the professional subsystem and by offering better wellbeing which leads to the removal of symptoms. The difficulties of braving slopes and barriers, associated to age, physical limitations, geographical accessibility, and difficulties of access to medical assistance and to medication, the fragile bond to the Family Health Strategic Unity, associated to cultural influence and to social exclusion experiences, interfere with adherence to treatment. Dissatisfaction with different organizational dimensions, both structural and operational, has negative influence on receptivity, bond, care and adherence to treatment. The work process founded on the biomedical model makes opening space for dialogue, interpretation and assistance difficult. New competencies, which enable putting together technical and human competences for the implementation of humanized health actions, are necessary for the work process. The evidenced gaps between the health professionals\' points of view and those of informers are hints to be used when rethinking praxis, with the aim of providing integrated and contextualized care, which stimulates energy for living, empowerment and self-care.