O divã no palco: discurso terapêutico, indústria cultural e a produção de bens culturais com pessoas comuns

Não é raro encontrar na televisão brasileira, e mesmo na rádio, emissões que trazem depoimentos de pessoas comuns comentados por especialistas, sobretudo, psicólogos. Desentendimentos conjugais, problemas com filhos, desavenças com vizinhos, conflitos no trabalho, são alguns dos temas exibidos....

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Maíra Muhringer Volpe
Other Authors: Irene de Arruda Ribeiro Cardoso
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo 2013
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-04112013-131315/
Description
Summary:Não é raro encontrar na televisão brasileira, e mesmo na rádio, emissões que trazem depoimentos de pessoas comuns comentados por especialistas, sobretudo, psicólogos. Desentendimentos conjugais, problemas com filhos, desavenças com vizinhos, conflitos no trabalho, são alguns dos temas exibidos. Trata-se de versões cujo formato orienta também produções estadunidenses, europeias e latino-americanas, cuja temática, apropriada pela indústria cultural nacional, difunde um discurso terapêutico. Embora as ideias de manipulação dos participantes e de sensacionalismo na busca por audiência sejam justificativas para a veiculação desse tipo de emissão, existem outros sentidos que podem ser atribuídos quando se aproximam as razões que mobilizam pessoas a dar visibilidade a histórias e questões consideradas de foro íntimo. Foram esses outros sentidos aqui investigados. Uma abordagem, portanto, a partir dos participantes de No Divã do Gikovate (Rádio CBN), Casos de Família (SBT) e Márcia (Bandeirantes) norteou a pesquisa apresentada. A interação social no palco, nos bastidores e na plateia foram vias de acesso a dois grupos sociais envolvidos na produção e no consumo desses bens culturais. O estudo dessas interações apontou lógicas diferentes de produção: uma demanda espontânea, entre aqueles que integram as emissões animadas pelo Dr. Gikovate, e um sistema de produção da exibição, ou seja, uma cadeia produtiva por trás das emissões televisivas que abarca tanto profissionais formalmente contratados pelas emissoras quanto pessoas engajadas informalmente. Tais interações indicam ainda grupos que possuem universos mentais distintos, com repertórios expressivos e recursos afetivos específicos. Seus integrantes apropriam-se do discurso terapêutico difundido transformando-o em senso prático para sua vida afetiva. === Its not rare to find in Brazilian television and radio, transmissions that bring ordinary peoples testimonials commented by experts, mainly psychologists. Marital fights, problems with children, quarrels with neighbors are some of the themes presented. Those are Brazilian versions of programs which circulate around the United States reaching Latin American and European countries, which the thematic, taken by their own national culture industry, diffuses a therapeutic discourse. Although the participants ideas manipulation and the sensationalism in the quest for audience are explanations for placing this kind of transmission, there are other senses that may be attributed when one gets closer to the reasons that mobilize those people to bring out stories and affairs once considered intimate. These other senses were the ones studied here. Thus, an approach close to that of the participants of No Divã do Gikovate (Gikovates Divan, Radio CBN), Casos de Família (Family Affairs, SBT) and Márcia (Marcia, Bandeirantes) guided this research. The social interactions on stage and backstage were ways to reach these two social groups involved in the production and consumerism of these cultural products. The study of these interactions led to different logics of production: a spontaneous demand between those who compose the transmissions cheered by Dr. Gikovate, and a production system of exhibition, which means a productive chain behind the television transmissions that reach professionals formally hired by the networks and people informally involved. Those interactions have also indicated groups with different mental universes, with specific expressive repertoire and affective appeal. Their integrants employ the therapeutic discourse, transforming it into logic of practice to be used in their affective life.