Summary: | Este estudo busca trazer elementos para explicar a crise que dissolveu a Unilabor, uma experiência autogestionária operária única a seu tempo, em São Paulo, através da análise da documentação interna da empresa, das informações prestadas por alguns dos participantes, entrevistados, e pelo recurso à hipótese de prevalência de uma racionalidade instrumental, a certa altura dos acontecimentos, em lugar da racionalidade substantiva pressuposta nos fundamentos da comunidade. Os elementos para a formulação e exame dessa hipótese provêm das teorias marxistas do trabalho, conforme reformuladas e atualizadas por autores como Robert Kurz, Roberto Schwarz, Moishe Postone, Jürgen Habermas, André Gorz e Ricardo Antunes, os quais, mesmo não uniformemente, apontam os elementos atuais de uma crise da categoria \'trabalho\' como elemento central da formação da riqueza. Também os conceitos de comunidade, solidariedade, esperança e amizade, conforme expostos e analisados por Giorgio Agamben e Terry Eagleton, servirão para problematizar as conclusões do trabalho. O aspecto estético, consubstanciado no desenho industrial utilizado nos móveis produzidos pela Unilabor, aparece como fundamento secundário da hipótese de insuficiência substantiva apresentada, pois pretendeu ser fator pedagógico, portanto de aprendizado de ofício, para os operários envolvidos na autogestão. Tal programa estético, tanto quanto a solidariedade, a amizade e a racionalidade substantiva, também mostrou-se insuficiente para a manutenção dos laços comunitários.
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This study aims to gather elements to explain the crisis that dissolved Unilabor, a workers\' self-management experience in São Paulo that was unique in its time, through the analysis of the company\'s internal documentation, through information provided by some of the participants who were interviewed, as well as by resorting to the hypothesis of prevalence of an instrumental rationality, at one point, in place of the substantive rationality assumed in the fundamentals of the community. The elements for the formulation and analysis of this hypothesis come from Marxist theories of labor, as reformulated and updated by authors such as Robert Kurz, Roberto Schwarz, Moishe Postone, Jürgen Habermas, André Gorz, and Ricardo Antunes, who, albeit not uniformly, have pointed out the current elements of a crisis of the category \'work\' as a central element in the creation of wealth. Additionally, the concepts of community, solidarity, hope, and friendship, as defined and analyzed by Giorgio Agamben, and Terry Eagleton will be used to open the conclusions of this paper up to discussion. The aesthetic aspect, embodied in the industrial design of the furniture produced by Unilabor is present as a background for the substantive insufficiency hypothesis that is presented, since it intends to function as a factor that is pedagogical, thus concerning the learning of one\'s craft by workers involved in the self-management. This aesthetic program, as much as the solidarity, friendship, and substantive rationality, also proved to be insufficient for the maintenance of community ties.
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