Summary: | Introdução. Não há dados que atestem, no contexto brasileiro das primeiras décadas do século XXI, que a fluoretação das águas de abastecimento público agrega benefício preventivo com relação à cárie dentária, em pequenos municípios, aos proporcionados pelo uso generalizado dos dentifrícios fluoretados. Objetivo. Analisar o grau do benefício preventivo da exposição à água fluoretada em relação à cárie dentária e sua distribuição segundo grupamentos dentais, em contexto de uso generalizado de creme dental fluoretado, no Brasil. Metodologia. Foi realizado estudo observacional transversal, de tipo censitário, na modalidade de duplo inquérito epidemiológico populacional. As populações avaliadas residem em municípios da mesma região geográfica, de pequeno porte demográfico e com classificação socioeconômica similar, diferenciando-se apenas pela condição de exposição, há pelo menos 5 anos, à água fluoretada (Silveiras) ou de não exposição (São José do Barreiro). A experiência e a magnitude da cárie dentária nessas populações foram avaliadas utilizando-se os índices ceod (aos 5 e 6 anos de idade; N=233), CPOD (aos 11 e 12 anos; N=312) e SiC (aos 11 e 12 anos; N=105) e a associação foi testada empregando-se as estatísticas qui-quadrado de Pearson e razão de prevalência (RP) entre não expostos (NE) e expostos (E) à água fluoretada. A partir dos valores do ceod, CPOD e SiC, foram obtidas as razões de magnitude entre os grupamentos dentários posteriores e anteriores (RM-PA), em ambas as dentições, segundo exposição ou não à água fluoretada. Os grupamentos dentários foram assim definidos: anteriores-estéticos (incisivos centrais e laterais e caninos, superiores e inferiores, em ambas as dentições) e posteriores (primeiros e segundos pré-molares e primeiros e segundos molares, superiores e inferiores na dentição permanente e primeiros e segundos molares superiores e inferiores na dentição decídua). Resultados. Dentição decídua- Embora a experiência de cárie (ceod1) não tenha se associado com a exposição à água fluoretada (qui-quadrado=2,77; p=0,96; =5 por cento ),observou-se expressiva diferença na magnitude com que a doença atingiu a população: as médias ceod foram de 2,74 em expostos e 4,17 em não expostos. O grau da polarização, indicado pela porcentagem de indivíduos com ceod=0, foi diferente, sendo maior (43,0 por cento ) em expostos e menor (31,0 por cento ) em não expostos. A RP (NE/E) foi de 1,21 indicando que a exposição à água fluoretada correspondeu a uma taxa de prevalência 21 por cento menor, comparativamente aos não expostos. As razões de magnitude para dentição decídua (RM-PAd) foram de 4,2 em expostos e 4,8 em não expostos. Dentição permanente- Embora a experiência de cárie (CPOD1) não tenha se associado com a exposição à água fluoretada (qui-quadrado=1,78; p=0,18; =5 por cento ), observou-se expressiva diferença na magnitude com que a doença atingiu a população: as médias CPOD foram de 1,76 em expostos e 2,60 em não expostos. O grau da polarização, indicado pela porcentagem de indivíduos com CPOD=0, foi diferente, sendo maior (41,8 por cento ) em expostos e menor (34,3 por cento ) em não expostos. A RP (NE/E) foi de 1,13 indicando pouca expressividade na diferença das prevalências. Para a dentição permanente as razões de magnitude na população total (RM-PAp) foram de 22,1 em expostos e 6,1, em não expostos. O valor médio do SiC foi de 4,04 em expostos e 6,16 em não expostos, enquanto as razões de magnitude (RM-PA-SiC) foram 23,8 e 5,9, respectivamente. Conclusão. A exposição à água fluoretada implicou menores valores médios dos índices ceod, CPOD e SiC, ainda que em presença de exposição concomitante a dentifrício fluoretado, em cenário de baixa prevalência da doença e padrão similar de distribuição de cárie nas populações analisadas. As menores experiência e magnitude da cárie nos grupamentos dentários anteriores, em situação de exposição à água fluoretada em comparação com a não exposição, corrobora estudos anteriores. No contexto brasileiro, ainda que em presença de exposição simultânea a dentifrício fluoretado, a fluoretação das águas segue produzindo efeitos epidemiológicos relevantes
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Introduction. In the Brazilian context of the first decades of the 21st century, there is no evidence that the fluoridation of public water supplies adds preventive benefit in relation to dental caries, in small municipalities, to those provided by the widespread use of fluoridated dentifrices. Objective. To analyze the degree of the preventive benefit of exposure to fluoridated water in relation to dental caries and its distribution according to dental groups, in a context of widespread use of fluoride toothpaste in Brazil. Methodology. A cross - sectional observational study, census type, was conducted in a double epidemiological population survey. The populations studied live in municipalities of the same geographic region, with a small demographic and similar socioeconomic classification, differing only by the condition of exposure to fluoridated water (Silveiras) or no exposure (São José do Barreiro), for at least 5 years. The experience and magnitude of dental caries in these populations were evaluated using the dmft indice (at 5 and 6 years of age, N=233), DMFT (at 11 and 12 years old, N=312) and SiC (at 11 and 12 years, N=105), and the association was tested using Pearson\'s chi-square statistic and prevalence ratio (PR) between no-exposed (NE) and exposed (E) to fluoridated water. From the values of dmft, DMFT and SiC, the magnitude ratios between the posterior and anterior dental groups (MR-PA) were obtained in both dentitions according to exposure to fluoridated water. Dental groups were defined: anterior-esthetic (central and lateral incisors and canines, upper and lower, in both dentitions) and posterior (first and second premolars and first and second molars, upper and lower, in the permanent dentition and first and second molars upper and lower in the deciduous dentition). Results. Deciduos Dentition- Although the caries experience (dmft1) wasnt associated with exposure to fluoridated water (chi-square=2.77, p=0.96, =5 per cent ), there was a significant difference in Magnitude with which the disease reached the population: the mean dmft were 2.74 in exposed and 4.17 in no exposed. The degree of polarization, indicated by the percentage of individuals with dmft=0, was different, being higher (43.0 per cent ) in exposed and lower (31.0 per cent ) in no exposed. PR (NE / E) was 1.21 indicating that exposure to fluoridated water corresponded to a 21 per cent lower prevalence rate compared to those not exposed. The magnitude ratios for deciduous dentition (MR-PAd) were 4.2 in exposed and 4.8 in no exposed. Permanent Dentition - Although the caries experience (DMFT1) was not associated with exposure to fluoridated water (chi-square=1.78, p=0.18, =5 per cent ), there was a significant difference in Magnitude with which the disease reached the population: DMFT means were 1.76 in exposed and 2.60 in no exposed. The degree of polarization, indicated by the percentage of individuals with DMFT=0, was different, being higher (41.8 per cent ) in exposed and lower (34.3 per cent ) in no exposed. PR (NE / E) was 1.13 indicating little expressiveness in the difference in prevalence. For permanent dentition the magnitude ratios in the total population (MR-PAp) were 22.1 in exposed and 6.1 in no exposed. The DMFT value for the SiC was 4.04 in exposed and 6.16 in no exposed, while the magnitude ratios (MR-PA-SiC) were 23.8 and 5.9, respectively. Conclusion. Exposure to fluoridated water implied lower mean values of dmft, DMFT and SiC indexes, although in the presence of concomitant exposure to fluoridated dentifrice, in a scenario of low disease prevalence and a similar pattern of caries distribution in the populations analyzed. The lower experience and magnitude of caries in the anterior-esthetic dental groups, in situations of exposure to fluoridated water compared to no exposure, corroborates previous studies. In the Brazilian context, even in the simultaneous exposure to fluoridated dentifrice, the fluoridation of water continues to produce relevant epidemiological effects
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