Summary: | Neste trabalho são apresentadas e discutidas algumas das características da história indígena profunda de Monte Castelo, à luz dos resultados recentes da pesquisa naquele sítio e em relação à arqueologia dos sambaquis da Amazônia. Os dados obtidos em Monte Castelo confirmam que estão nos sambaquis os mais antigos e persistentes conjuntos cerâmicos das Américas, em um contexto onde a construção das paisagens perdurou por milênios e marca períodos recuados de intensificação na ocupação humana da bacia amazônica. Cultura material, estratigrafia e cronologia são apresentados a fim de caracterizar os traços fundamentais sobre a origem e desenvolvimento da tecnologia de cerâmica e manejo das paisagens nas terras baixas da América do Sul. Desde tempos muito recuados a intervenção humana nas paisagens proporcionou a reocupação de muitos dos sítios arqueológicos mais antigos conhecidos. Paralelamente, diversos marcadores paleoambientais na Amazônia meridional têm evidenciado variações no clima que acompanham as ocupações humanas desde, ao menos, o Holoceno Inicial. Na bacia do rio Guaporé, a cronologia da ocupação dos sítios parece acompanhar as tendências à maior disponibilidade hídrica e expansão das florestas, em um período marcado pelo surgimento de comunidades mais numerosas e artefatual complexo ao longo do Holoceno Médio. Ali, o feedback entre intervenções humanas e mudanças climáticas criou um lugar privilegiado para os assentamentos, cuja impressionante continuidade relativa proporcionou o registro de algumas das mais importantes mudanças culturais e paisagísticas que amplamente se disseminaram pela Amazônia - e para fora dela - durante milhares de anos. Buscando trazer a noção de lugar significativo para a arqueologia dos sambaquis amazônicos, este trabalho propõe uma maneira de compreendê-los por meio de uma noção inclusiva de ancestralidade e que pode ser útil para os povos indígenas contemporâneos recuperarem seus territórios tradicionais.
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This work presents and discusses some characteristics of the deep indigenous history of Monte Castelo, a southwestern Amazonian shellmound site, in the light of recent research on that site and the archaeology of shellmounds throughout the region. The data obtained at Monte Castelo confirm that the oldest and most persistent ceramic assemblages in the Americas are located in shellmounds, in contexts where the construction of the landscapes has lasted for millennia, marking periods of intensification in the human occupation of the Amazon Basin. Material culture, stratigraphy and chronology are presented in order to characterize the fundamental traits relating to the origin and development of ceramic technology and landscape management in the lowlands of South America. Human intervention in the landscape has long provided for the reoccupation of many of the earliest known archaeological sites. Parallel to this, several paleoenvironmental markers in the southern Amazon have evidenced variations in the climate that accompany human occupations since, at least, the Early Holocene. In the Guaporé river basin, the chronology of the sites seems to accompany trends of increased water availability and forest expansion, in a period marked by the emergence of more numerous communities and complex artifacts throughout the Middle Holocene. There, the feedback between human interventions and climate change has created a privileged place for settlements, whose striking relative continuity has given rise to some of the most important cultural and landscape changes that have spread widely throughout the Amazon and beyond for thousands of years. Seeking to bring the notion of meaningful places to the archaeology of the Amazonian shellmounds, this work proposes a way to understand them through an inclusive notion of ancestry that may be useful for contemporary indigenous peoples to recover their traditional territories.
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