Summary: | Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2015. === Made available in DSpace on 2015-11-17T03:07:36Z (GMT). No. of bitstreams: 1
336359.pdf: 2291924 bytes, checksum: 288c03ce7afd0b29197317bfeacaca1f (MD5)
Previous issue date: 2015 === Com este trabalho de dissertação de Mestrado pretendemos mergulhar no imenso arquivo de cartas e escritos de artista de Hélio Oiticica e Lygia Clark, e também em trabalhos artísticos e proposições de vivências que ambos compuseram, inventaram e criaram entre 1950 e 1980. Para isso, buscamos criar modos de leitura desse arquivo que possam fazer aparecer os vestígios, as marcas e os rastros pulsionais que estes artistas deixaram em suas obras e, também, que suas obras deixaram nestes artistas. A amizade de Hélio e Lygia, devido à distância geográfica entre os dois, foi estabelecida principalmente por meio da correspondência epistolar, e poderia ser aqui definida tal qual um afeto como pensamento ? pensamento no sentido que quer Deleuze, quando diz que pensar é sempre experimentar e não interpretar, ?e a experimentação é sempre o atual, o nascente, o novo?; mas também no sentido de Jean-Luc Nancy, quando diz que ?corpo e pensamento são um mútuo tocar-se?. Os corpos e pensamentos de Hélio e Lygia tocam-se por meio da linguagem, tocam-se, contaminam-se, mas não se confundem. Assim, seus corpos e seus pensamentos, entrelaçados, devoradores e devorados, não são mais que o toque de um no outro, o toque da distância de um em relação ao outro e de um no interior do outro. As escritas de Hélio e Lygia operavam uma espécie de justaposição de textos por técnicas de montagem e de multiplicação que nos revela as contaminações mútuas entre as criações, as teorias e as críticas, apontando para a escrita a partir da leitura; por isso, nessas escritas, podemos entreouvir múltiplas vozes que nelas ecoam. Suas escritas de si são vistas, então, como experiência, e suas vidas são aqui tratadas como vidas vividas pela experimentação. Desse modo, podemos encontrar, em suas escritas e vivências, singularidades que ligam-se umas às outras e que estão sempre produzindo diferenças. A busca desses vestígios no corpus de Hélio e Lygia se faz por um percurso não linear, sem lógica de entrada nem de saída, sem busca por origem, como em uma espécie de labirinto. Os labirintos autobiográficos de Lygia e Hélio seriam feitos de múltiplos, contínuos e descontínuos caminhos que estão sempre a se construir e se desconstruir. Seus escritos foram compostos por meio de tensões que operariam nas bordas e nos limites do corpo e da linguagem; sustentadas também no limite entre realidade e ficção. Suas práticas artísticas também operavam tensões ao se abrirem para o público participador e ao se deixarem ser atravessadas pelo que é exterior, por isso, suas vidas e suas obras estão fortemente permeadas pelas relações entre arte e experiência. Para percorrer esses labirintos,nos valemos do método otobiográfico que Derrida postula a partir de Nietzsche, com o objetivo de buscar a vida, seus rastros e vestígios nesse arquivo, e não de atribuir sentidos ou significados para suas vidas-obras. Hélio e Lygia, por meio das leituras-escrita e das escritas-leitura das cartas trocadas entre eles, se colocaram à escuta um do outro, mostrando-se sempre como um ser ainda por vir, em constante processo de construção de um si mesmo; e por isso nunca acabados, permanecendo como fragmentos caminhando no labirinto de um programa in progress.<br> === Abstract : With this dissertation we intend to delve into the immense archive of letters and artist writings of Hélio Oiticica and Lygia Clark, and also artwork and proposals of experiences they both made up, invented and created between 1950 and 1980. To this end, we seek to create reading techniques for these files that can bring up the traces, marks and instinctual traces these artists left in their works and also that their works have left in them. The friendship of Hélio and Lygia, due to the geographical distance between the two of them was established mainly through written correspondence, and could be defined here as is an affection as thinking - thinking in the sense that Deleuze means when he says that thinking is always experimenting and not interpreting, ?to think is to experiment, but experimentation is always that which is in the process of coming about.?; but also meaning what Jean-Luc Nancy says, that ?body and mind are a mutual touching.? The bodies and thoughts of Hélio and Lygia touch each other through language, they touch, contaminate eather other, but they don't get mixed up. Thus, their bodies and their thoughts, entangled, devouring and devoured, are nothing more than one touching another, the touching of the distance relative to each other and of one inside the other. The writings of Hélio and Lygia operated a kind of juxtaposition of texts by assembly techniques and multiplying that reveals the mutual contamination between creations, theories and criticism, pointing to writing from reading; that is why in these writings we can overhear multiple voices echoing. His writings of himself are seen, then, as experience, and their lives are treated here as lives lived by experimentation. Thus, we can find in their writings and experiences, singularities that bind to each other and are always producing differences. The search for these traces on Hélio and Lygia?s corpus is made on a non-linear path without input or output logic, without a search for origin, as in some kind of a maze. The autobiographical mazes of Lygia and Hélio would be made of multiple continuous and discontinuous paths which are always building and deconstructing. Their writings were composed by impasses operating at the edges and boundaries of body and language; also held at the boundary between reality and fiction. Their artistic practices also operated tensions when they opened to the participanting public and when they let themselves be crossed by what is outside, that is why their lives and works are strongly permeated by the relations between art and experience. To cross these labyrinths, we make use of the otobiographical method that Derrida postulates from Nietzsche, in orderto seek their life, tracks and traces in this work, and not to attribute meanings to their lives-works. Hélio and Lygia, through the reading-writing and writing-reading of the letters exchanged between them, placed themselves listening to each other, showing themselves as a being yet to come, in a constant process of creating themselves; and therefore never finished, remaining as fragments caminhando in the labyrinth of a programa in progress.
|